Quarta-feira, 16 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Matias Mendes

CRONOLOGIA DAS LÍNGUAS TUPI-GUARANI: A Evolução do Tupi Antigo


Por MATIAS MENDES

Não se sabe ainda se por falta de espaço ou de conhecimentos mais sólidos, os sabioranas que se apresentaram de forma tão espontânea para discutir questões das línguas derivadas do tronco Tupi-Guarani, afora um amontoado confuso de etnias indígenas, não mostraram até agora o que de fato sabem de aproveitável sobre o tema, exceto os conceitos pescados em obras de tupinólogos já conhecidos, com a omissão das fontes bem característica dos praticantes de plágios e falsificações literárias.

Como não cuidaram de fazer o que se propuseram de forma voluntária, eu o faço a partir daqui sem que isto me custe o menor esforço. Vale aqui lembrar que o Tupi Antigo, a língua encontrada pelos invasores europeus no século XVI, era analfabética e ágrafa como todas as línguas ameríndias, ou seja, não tinha alfabeto nem escrita. Os primeiros estudiosos que entraram em contato com essas línguas foram homens como Hans Staden, Jean de Léry, José de Anchieta e outros menos conhecidos. O germânico Hans Staden tinha como língua mater idioma de origem germânica, língua aglutinante-declinante, com perdão dos linguísticos pelo hibridismo conceitual necessário. O francês Jean de Léry e o lusitano José de Anchieta eram falantes de línguas românicas ou neolatinas, no caso o francês e o português, línguas analíticas e flexionadas, muito distanciadas das línguas ameríndias.

A primeira grande transformação sofrida pelas línguas de tronco Tupi-Guarani foi a adaptação de sua fonética primitiva ao alfabeto latino das línguas de tronco indo-europeu. Nessa transição de língua ágrafa e analfabética para língua escrita com o alfabeto tomado de empréstimo de línguas de tronco indo-europeu, em princípio o Tupi não registrou fonemas correspondentes às letras latinas d, f, l, v e z, ou pelo menos os europeus que operaram essas adaptações não identificaram tais fonemas nas línguas ameríndias Tupi. Em seguida vieram as espinhosas questões conceituais entre as línguas ameríndias concretistas e as línguas europeias eivadas de conceitos abstracionistas e outros aspectos sintáticos, semânticos e prosódicos ausentes das línguas neolíticas das Américas. Ora, basta levarmos em conta as profundas mudanças que se processaram nas próprias línguas da Europa nos últimos cinco séculos para que se entendam as profundas transformações que se operaram nas línguas de tronco Tupi-Guarani do território brasileiro ao longo desses séculos. É curial compreender que aqui se está tratando exclusivamente das línguas Tupi diversas faladas em regiões brasileiras, não se estendendo nossos comentários para qualquer região de além-fronteira.

O nosso escrúpulo em tal sentido de restringir ao território brasileiro o assunto em discussão tem o exato objetivo de não cometer o mesmo equívoco daquele historiador boliviano que se meteu a discutir a origem etimológica do topônimo Guajará-Mirim e só conseguiu acrescentar lambanças na polêmica. A despeito de haver andado por territórios do Paraguai, da Bolívia, do Peru, da Colômbia e da Guaiana Francesa, não me parece prudente adentrar às questões linguísticas que abrangem os povos indígenas desses países. Ora, se as leituras que fiz sobre este assunto em obras em francês, língua na qual transito perfeitamente, não me ajudam muito em termos de elucidação de assuntos brasileiros, imagine-se a inutilidade dos conceitos tomados a esmo com base apenas em referências geográficas vagas e dilatadas do tipo línguas amazônicas, no conceito do índio e outra generalidades do gênero, com perdão da redundância necessária.

Pour finir, no que tange especificamente à discussão a respeito de nossas línguas de tronco Tupi-Guarani, em que pese a intervenção pedante que fizeram no começo do assunto, senti falta de alguém com o necessário preparo para discutir publicamente o tema de forma mais aprofundada. Foi uma pena que os conhecimentos dos doutos no assunto sejam tão profundos que não lhes permitem trazê-los à tona, ficando esses conhecimentos, como se fossem cobras-grandes, ocultos nas profundezas abissais dos poços de suas privilegiadas pseudossabedorias...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 16 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

                    Por MATIAS MENDES                 No mês de julho, de férias, para compensar uma temporada pelas regiões remotas do Guaporé, meti

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

Por MATIAS MENDES                   O Distrito histórico de Pedras Negras, no rio Guaporé, entre os dias 15 e 19 de maio, há quase um mês, engalanou-s

BOTAFOGO: O Império da Mística

BOTAFOGO: O Império da Mística

                 Por MATIAS MENDES                   O Botafogo, famoso pela mística que o acompanha, não deixou por menos no ano de 2013, não permiti

BOATOS: Fazendas Fantasmas

BOATOS: Fazendas Fantasmas

                    Por MATIAS MENDES                   Dias atrás, neste mesmo espaço de imprensa, eu teci comentários a respeito da situação do muni

Gente de Opinião Quarta-feira, 16 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)