Terça-feira, 13 de novembro de 2007 - 23h11
Em razão de uma interpretação apressada de textos por mim publicados, uma pessoa de refinada extração social interpelou-me, dizendo-se chocada com a maneira como eu me refiro a certos atos de violência, afirmando inclusive que eu estaria fazendo apologia do homicídio e banalizando a gravidade do ato de matar. Não poderia haver equívoco maior de interpretação, pois acredito sinceramente que nem mesmo aquele escritor aqui da terra que se notabilizou pelas muitas interpretações equivocadas que fez de textos históricos poderia extrair dos meus textos uma interpretação de que faço apologia da violência. Pelo contrário, eu sou mesmo um bon vivant bem-humorado, gosto mesmo é de dançar, saborear bebidas de boa qualidade, conquanto não seja dado à embriaguez conforme já foi insinuado por certos desavisados. Ninguém, absolutamente ninguém, nunca me viu embriagado em via pública ou em qualquer local público. Postura para mim é condição sine qua non. Outro detalhe a respeito de minha relação com as bebidas alcoólicas é que sou consumidor de vinhos de alguma qualidade, uísques dos melhores, cervejas de marcas bem específicas e o tradicional Cognac francês, mas não sou adepto de l'eau de vie, gênero de bebida popular do qual sempre mantive distância. De tal modo, não sou e nunca poderia ser o alambicado que alguns pensam, não sendo, portanto, minhas reflexões e os conceitos que emito nenhum produto de imaginárias libações alambiqueiras conforme alguns pretendem insinuar. Muito pelo contrário, eu escrevo mesmo é com indiscutível lucidez, aliás, lucidez que falta a muita gente que se apregoa estudioso beneditino.
En revenant à nos moutons, vale aqui lembrar que os chamados crimes de sangue são inerentes à natureza humana, todo ser humano, embora muitos não saibam disso, carrega em seus genes o instinto primitivo do homicídio, instinto este que pode aflorar em qualquer momento de desespero, de perigo ou de forte abalo emocional causado por uma situação inesperada, por exemplo, um caso de traição conjugal. A Justiça distingue perfeitamente um homicídio de outro, conquanto em qualquer lugar do mundo possam ocorrer eventuais erros judiciários que podem libertar um homicida sanguinário ou condenar um homicida eventual, alguém que foi obrigado a matar para defender a vida, os familiares ou até mesmo alguma pessoa estranha. Tais casos, no entanto, constituem a absoluta exceção da regra, pois no geral a Justiça julga muito bem os casos relativos a homicídios, e isto eu afirmo com a experiência de quem serviu por mais de um lustro no Tribunal do Júri.
Do ponto de vista psicológico, não existe rigorosamente nem um ser humano que não seja capaz de matar outro. As raras exceções da regra são aquelas pessoas que entram em estado de choque numa situação de perigo e se deixam passivamente matar por uma fera ou um agressor do gênero humano. No entanto, um exemplo bem recente da capacidade de um ser humano de defender sua família nos foi dado aqui mesmo
Outro exemplo de reação do ser humano a um perigo mortal, já que venho sendo difamado como adepto da pabulagem e da gabolice, foi um confronto que tive com uma onça parda aos dezessete anos de idade, dispondo apenas de uma faca despontada, faca apropriada para despelar caças. Embora magérrimo, pesando apenas 50 quilos com a estatura de 1,75m, eu enfrentei a fera com absoluta confiança de que jamais ela comeria a minha carcaça ainda que conseguisse me matar. E a fera faminta, embora tenha chegado a menos de um metro de distância de mim, não ousou dar o bote de ataque. Acuou-me num recanto do caminho por mais de meia hora, mas não ousou atacar de uma vez. O seu instinto de predador fraquejou diante do meu olhar firme nos seus olhos cor de brasa. Ao final, enquanto eu buscava escapar de uma vez, um bando de quatis despencou de uma árvore e a onça distraiu-se com eles e me deixou escapar. Se foi algum milagre, eu não sei. Mas foi a grande primeira lição de sobrevivência que tive na vida. A reação temerária de Yêdda Borzacov não foi diferente da minha. Ambos estávamos inferiorizados para o confronto. Mas topamos o confronto com o adversário em condições de superioridade. Anos mais tarde, quando me defrontei com assaltantes em via pública, eu já estava absolutamente preparado e todas as vezes estava armado, fato que fez tais episódios parecerem brincadeira de criança para quem havia enfrentado uma onça quando ainda quase criança. E não vomitei...
Para os que julgam erroneamente que eu faço apologia da violência, vale lembrar que eu não sou contribuinte das atuais estatísticas dos índices de violência, vivo muito pacatamente e não provoco briga com ninguém. Sou apenas um defensivista por formação e por convicção. Atesto que matar alguém é um ato absolutamente abominável, é atitude para quem tem bom estômago, ninguém deve matar sem que seja absolutamente necessário fazê-lo. No entanto, como convivemos no mundo com pessoas que não respeitam a vida, a família e o patrimônio de ninguém, por mais pacato que um homem seja, muitas vezes somos compelidos a fazer coisas das quais nunca gostamos. Como passei por uma formação baseada no princípio do savoir-faire, conquanto seja absolutamente incapaz de tirar a vida de um ser humano por muitos milhões de dólares, não sou hipócrita para apregoar que sou um anjo de bondade incapaz de matar sequer um mosquito, desde que seja necessário. No geral, por idiossincrasia, quando se trata de vida, eu prefiro a minha em detrimento da vida de qualquer agressor eventual. Há um provérbio russo que afirma que o melhor inimigo é o morto. E eu concordo em gênero, número e grau com tal sábio provérbio...
Fonte: MATIAS MENDES - matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
Membro do Instituto Histórico Geografico de Rondônia
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