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Matias Mendes

CAVALHEIRISMO: Nome Raro e Atitude Rara


Na manhã de quinta-feira, dia 27 de setembro, comecei o dia testemunhando uma atitude rara e louvável de um colega da Assembléia Legislativa no ônibus que nos conduzia rumo ao trabalho. Horário particularmente complicado para os que usam o transporte coletivo, pois coincide com a descida de milhares de estudantes para as escolas, os lugares sentados nos ônibus são ocupados por alguns que embarcam em pontos iniciais do trajeto. No caso em enfoque, o ônibus no qual viajávamos era da linha Norte-Sul. Ao embarcar no ônibus, notei a presença do funcionário Darcles Soares, a exemplo de outros dias, sentado numa cadeira na parte dianteira do coletivo, que já se encontrava muito lotado, com muitas pessoas espremidas no estreito corredor, mas a cada parada novos passageiros subiam para disputar com os já embarcados o espaço que de há muito já não existia.  Havia no ônibus dezenas de estudantes sentados, enquanto as pessoas de idade estavam espremidas no corredor lotado. Aliás, diga-se de passagem, os jovens estudantes de hoje são absolutamente incapazes de ceder uma cadeira a uma senhora de idade, a uma senhora gestante ou a qualquer pessoa que tenha alguma deficiência física. Depois de sentados, os jovens estudantes não ligam para mais ninguém que precise viajar sentado.

Darcles Soares, servidor da Assembléia Legislativa do grupo de fundadores, é um mulato alto, grisalho, com idade em torno de 55 anos mais ou menos, lotado na Divisão de Serviços Gerais, onde exerce a função de eletricista. Visto de relance, nada nele faz lembrar muito a figura de um refinado cavalheiro. No entanto, no ônibus lotado, quando uma nova leva de passageiros subiu numa das paradas, havia entre os novos passageiros uma senhora jovem, alta e morena-clara ostentando uma bonita barriga que fazia supor que ela estivesse por volta do quinto ou sexto mês de gravidez. Contudo, nem um dos jovens estudantes confortavelmente repoteados nas cadeiras disponíveis no coletivo comoveu-se com o desconforto da gestante no corredor lotado. Somente Darcles Soares, o mulato de meia-idade e grisalho, levantou-se prontamente da cadeira que ocupava para cedê-la à senhora gestante. Eu não pude deixar de cumprimentá-lo incontinenti pelo gesto nobre e elegante de cavalheirismo, solidariedade humano e urbanidade, que deveria ser a regra e não a exceção, mas que é muito raro de se ver entre os jovens. Fiquei particularmente orgulhoso por ter aquele cidadão de primeira linha como meu colega de trabalho. E o fato interessante é que em mais de vinte anos de convivência cotidiana, em razão de trabalharmos em áreas de atividades diferentes, eu nunca havia falado com Darcles Soares nada mais que os cumprimentos simples de praxe. Nunca tivemos qualquer aproximação. Tal fato pode ser explicado pela cultura funcional da Assembléia Legislativa, que é do tipo estanque, não são habituais as confraternizações entre todos os funcionários, mas apenas de forma muito setorizada, situação que não enseja a integração social de todos os servidores.

O gesto cavalheiresco de Darcles Soares, no contexto dos dias atuais, é tão raro quanto o seu próprio prenome, pois o individualismo vigente nos nossos dias torna as pessoas alheias à sorte dos demais seres humanos. O comodismo e a abulia dos jovens são mazelas correntes na nossa sociedade hodierna, fazendo com que um gesto simples de cortesia pareça uma atitude extraordinária. Mas a atitude do servidor da Assembléia Legislativa é de fato extraordinária porque não partiu de uma pessoa que tenha tido acesso a colégios sofisticados, a escolas de elite ou a qualquer estabelecimento diferenciado de ensino. O gesto partiu de um homem simples, de um servidor modesto do Poder Legislativo, e se constitui de fato em motivo de orgulho para todos nós que integramos o quadro de servidores desta Casa, da mesma forma que nos envergonhamos coletivamente quando algum colega de trabalho aparece envolvido em escândalos e ocorrências policiais rumorosas. Felizmente, como lei de compensação, temos entre nós um Darcles Soares para comprovar que os episódios vergonhosos são a exceção e não a regra em nosso meio funcional, pois temos uma folgada maioria de colegas que de fato constituem motivo de orgulho para todos nós que convivemos com eles.

Fonte: MATIAS MENDES
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.

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