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Matias Mendes

CASO JAMILE: A Anatomia da Quadrilha


A Polícia Civil do Estado de Rondônia, ao desvendar o caso do assassinato do advogado Aliomar Morhy, acabou chegando de forma acidental a uma quadrilha composta por mulheres, mas que certamente tem alguns integrantes masculinos, que há vários meses vem aplicando na cidade de Porto Velho o tal golpe denominado como boa noite, Cinderela, que consiste em colocar soníferos ou entorpecentes na bebida das pessoas para roubá-las quando estão desacordadas.  Trata-se de uma quadrilha de alto grau de periculosidade cuja área de atuação vai do lenocínio ao latrocínio, passando pelo roubo qualificado, tráfico de drogas, muito provavelmente assaltos e outros delitos. Somente as vítimas do tal golpe boa noite, Cinderela podem ser contadas às centenas, sabendo-se que entre elas estão pessoas como um conhecido advogado, um jornalista também muito conhecido, alguns funcionários públicos de alto escalão e vários empresários, isto para ficarmos apenas com alguns exemplos.

O grande problema é que as vítimas têm vergonha de denunciar ou mesmo de simplesmente revelar francamente que passaram pelo golpe. A tal prática criminosa é tão perigosa que pode até matar cardiopatas manifestos ou latentes, conforme a abalizada opinião da minha filha que é médica. Eu fui a exceção da regra de tal círculo vicioso. E bote exceção nisso. Embora não tenha registrado qualquer queixa na Polícia, porque de nada adiantaria, eu divulguei que havia caído na tal armadilha na madrugada de 03 para 04 de agosto. No meu caso, porém, as vadias lucraram pouco com o golpe porque caíram em uma de minhas armadilhas domésticas e ativaram um estridente alarme camuflado numa atrativa maleta executiva. No fundo elas tiveram sorte, porque poderiam haver acionado alguma outra armadilha muito mais perigosa que o alarme. No caso, a esperteza das malandras esbarrou no ardil bem elaborado da inteligência. E como o triunfo da esperteza é sempre efêmero, agora a quadrilha de espertinhas caiu nas mãos da Polícia, que pode desbaratá-la completamente, bastando para tanto que tenha a disposição de investigar toda a organização criminosa a partir das três integrantes que já estão presas pelo assassinato do advogado. Caso a Polícia se limite ao esclarecimento do assassinato, todo o resto da quadrilha continuará atuando na cidade e fatalmente outras pessoas morrerão, até porque a quadrilha tornou-se mais perigosa pelo fato de no momento encontrar-se encurralada.

Quanto ao assassinato de Aliomar Morhy, o caso já está esclarecido, a Polícia tem em suas mãos a mandante e duas cúmplices, tem a arma do crime e sabe quem é o seu dono, tem os nomes dos executores do advogado e pode concluir o inquérito nos próximos dias. Na verdade, as primeiras versões que falavam que o advogado estava denunciando políticos não fazem qualquer sentido e não se sustentam pelo prisma da lógica. A vítima, embora bem-nascida e bem educada, não tinha atuação social relevante e nem dispunha de meios para formular denúncias contra políticos, já que não militava em qualquer órgão de imprensa e nem sequer exercia algum cargo de relevância, sendo mero servidor estatutário da Assembléia Legislativa. Ora, há certos servidores da Assembléia Legislativa que são funcionários de prestígio precário, são apadrinhados dos políticos, fato que significa que os políticos são senhores absolutos das vantagens que percebem e podem manejá-los  a seu bel-prazer quando bem quiserem. O advogado assassinado não reunia as mínimas condições para manter qualquer forma de enfrentamento com os políticos que lhe proporcionavam vantagens no emprego. Sua morte, no entanto, serviu exatamente para que a Polícia pegasse a pista da perigosa quadrilha que já vem agindo em Porto Velho há bastante tempo, segundo as informações que reuni depois de haver sido vítima de um dos golpes que tal quadrilha aplica usualmente.

Agora que a Polícia já dispõe do fio da meada, compete-lhe rastrear e prender todo o resto da quadrilha como medida profilática, a fim de que outras pessoas não acabem também assassinadas futuramente. No caso, já dispondo das pistas que antes não tinha a respeito da quadrilha, a Polícia não pode mais agir de forma burocrática, limitando-se ao esclarecimento do homicídio e deixando o resto da quadrilha à solta para cometer novos delitos. É de se esperar que o Dr. Morio, Diretor Geral da Polícia Civil, ordene uma criteriosa investigação para tirar de circulação essa que é uma das mais perigosas e infames quadrilhas entre as muitas que fazem de Rondônia o seu paraíso particular, enlameando a imagem do Estado em nível nacional e ensejando a onda de preconceito que faz com que cidadãos e autoridades de Rondônia sejam tratados como se todos fossem reles bandidos, conforme foi afirmado tempos atrás por um político forâneo que “os chefes de Poderes do Estado de Rondônia não passavam de chefes de quadrilhas”. 

Certamente que tais afirmativas desabonadoras contribuem diretamente para que muitas quadrilhas de outros quadrantes do País busquem o Estado de Rondônia como ponto referencial dos seus delitos. Daí porque a Polícia não pode desperdiçar oportunidades de desferir ataques contra o mundo do crime como esta que agora tem em mãos depois da prisão de Jamile, criminosa que dias antes de ser presa chegou a ser surpreendida pelo pessoal da Polícia Legislativa tentando aplicar um golpe em certo cidadão na mesma casa noturna onde várias pessoas foram alvos do golpe boa noite, Cinderela, inclusive eu mesmo. Enfim, agora não será mais por falta de indícios ou de informações que a Polícia Civil deixará escapar a perigosa quadrilha. Não importando nem mesmo que do meio da perigosa quadrilha despontem insuspeitos indivíduos ligados a órgãos de segurança. Todos devem ir para a cadeia, sem nenhuma exceção corporativista que possa deixar nas ruas alguma cabeça remanescente dessa terrível Hidra de Lerna.

Fonte: MATIAS MENDES  -  matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
Membro do Instituto Histórico Geografico de Rondônia

 

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