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Matias Mendes

ADEUS À TRINCHEIRA: Epílogo de uma Longa História


Depois de vinte e quatro longos anos, alguns milhares de artigos, centenas de cadernos especiais e algumas páginas de traduções de edições estrangeiras, cinco processos (dois criminais e três cíveis, com apenas uma condenação na 3ª Vara Cível), alguns embates que marcaram época na imprensa de Rondônia e muitos outros episódios, por conta de desinteligências com aventureiros desconhecidos, eu estou finalmente deixando a velha trincheira do velho e legendário Alto Madeira e aceitando por fim o convite do jornal O ESTADÂO DO NORTE para desenvolver o projeto de um livro e também escrever artigos em alguma coluna que ainda não sei qual será, isto, é claro, se chegarmos a algum acordo estabelecido com regras bem claras.

Vale salientar que o meu afastamento do jornal Alto Madeira nada tem a ver com a amizade que continuo mantendo com a Família Tourinho, família de conterrâneos guaporeanos pela qual nutro especial amizade, muito respeito, gratidão eterna e consideração inabalável. Meu afastamento decorre de uma decisão pessoal bem refletida, advinda da convicção de que seria muito arriscado continuar escrevendo para um jornal no qual se alojam também desafetos de nível irreconciliável, já que se trata de uma questão de honra. Doutrinariamente avesso à traição e adepto do princípio de que uma vez é casualidade, duas vezes é coincidência e três vezes é ação inimiga, conforme ensinam os melhores manuais da doutrina da informação do mais alto nível, sobraram-me razões para concluir que o meu papel na antiga trincheira estava definitivamente terminado.

Como a salamandra que sempre fui ao longo da vida, estou partindo para um novo recomeço, tal como recomecei outras tantas coisas tantas vezes ao longo da vida. Do ponto de vista cronológico, para se ter uma idéia, o meu longo relacionamento estável com o jornal Alto Madeira só perde em duração para os quarenta anos da minha camisa-relíquia de vira-linho e gola olímpica, guardada num baú lá no Château de la Liberté, para os trinta e dois anos do meu velho isqueiro Ronson e para os trinta e um anos do meu antigo Omega de pulso, já que não posso falar de um outro objeto que me acompanha há trinta anos e que está destinado ao Museu do Forte do Príncipe. Até mesmo a minha histórica máquina Torpedo, que resistiu bravamente ser matraqueada por vinte e um anos, perde para o tempo que passei como integrante da trincheira do Alto Madeira.

Nem mesmo relacionamento estável no seu sentido denotativo eu tive algum que excedesse os vinte e quatro anos que passei ligado ao Alto Madeira. Portanto, a minha saída do mais antigo jornal de Rondônia reveste-se de circunstâncias de ordem emocional bem considerável. Eu sou, no contexto da história do Alto Madeira, uma espécie de último dos Moicanos, remanescente de uma geração de colaboradores onde pontilharam penas de brilho como José Calixto de Medeiros, Sérgio Ricardo Vieira Gonçalves, Teobaldo Vianna. Vítor Hugo, Lourival Chagas, Amorim, Ary Tupinambá Penna Pinheiro, Paulo Nunes Leal e outros do mesmo nível. Enfim, em se tratando do Alto Madeira, posso dizer que pertenci a uma geração que, se não foi de escol, certamente chegou muito perto de sê-lo. Basta dizer que apenas do rol dos aqui nominados saíram Secretários de Estado, um Governador e até mesmo um dos Poetas Maiores do Brasil. No entanto, tão rico já foi o quadro de inteligências do jornal Alto Madeira que, mesmo com a minha saída, ainda sobrevivem lá o Poeta Maior Selmo Vasconcelos e o brilhante articulista Valdemir Caldas, ao lado dos quais tive a honra de militar por mais de uma década.

Toutefois, comme les eaux passées ne meuvent pas les moulins, a verdade é  que os tempos de Alto Madeira, no que me diz respeito, viraram páginas da História. Como a História só se repete como farsa, mas a farsa pode ser repetida por vezes infinitas como se História fosse, nada me resta fazer a não ser sobraçar a minha mochila de cultura inútil e bivacar em algum outro reduto que me assegure a margem desejável de lealdade para que eu possa exercitar o meu pensamento sem o risco de ser atingido par le feu ami que já me estava atingindo nos últimos tempos dentro do Alto Madeira, até porque é público e notório que tenho preferência por inimigos bem declarados e abomino, por doutrina e idiossincrasia, os ataques desfechados à sorrelfa, a sordidez das tocaias covardes e a pusilanimidade daqueles que por falta de hombridade buscam atacar de forma soez sob a proteção das sombras do disfarce. Este é o meu adeus...

Fonte: MATIAS MENDES  -  matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
Membro do Instituto Histórico Geografico de Rondônia

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