Sábado, 27 de setembro de 2025 - 08h05
Já disse que adoro palavras e seus sons, seja
quando ditas ou os seus sentidos. Lapada é uma delas e estava esquecida até que
em uma conversa com o pai de um adolescente ele comentou que agora tudo é
lapada na linguagem dos jovens. Tá na moda. Usadas para suas rebeldias, como
ponto final em discussões, vejam só.
Talvez nem eles saibam o sentido total, e são muitos,
apenas curtam também o som definitivo da palavra. Fala aí ela alto: la-pa-da!
Viu? É a própria que já lembra um tabefe, uma lambada, uma chapada, um
catiripapo. Pois bem, descobri que a moçada a usa para acabar com conversas,
com ironia, determinar o fim de uma discussão, sair andando com a razão, e aí,
no entanto, ela não contém qualquer violência como poderia parecer; tem até
humor. No caso que a ouvi, o garoto a usa para finalizar uma chamada do pai
contra alguma contradição que ele apresente sobre coisas sobre as quais ele
próprio teria dito ou ensinado, sem levar em conta há quantos anos, e que idade
tenra teria sido a situação. Ao responder, depois de recordar o que lhes havia
sido dito, costumam mostrar, olha só que interessante, que têm memória. O
famoso “’Ué’, mas não foi você quem disse isso?”. E terminam o papo com “toma
essa lapada”. Saindo das cordas com ar vitorioso, e certamente com aquele
sorrisinho sarcástico de ganhei mais essa.
Não tenho filhos, mas fui filha, e das obedientes, e que de
vez quando polemizava. E sei bem que antes se usássemos uma expressão dessas,
por mais que tivéssemos razão, ah, aí sim, ganharíamos uma boa lapada, ou uma
boa bifa na orelha, “para aprender a respeitar os mais velhos”. Que bom que as
coisas mudaram.
Acho o máximo ver as coisas evoluírem e mudarem nas
relações e, no caso que cito, trata-se de um relacionamento que acompanho há
alguns anos, bárbaro, entre pais e filho, com diálogos e conversas sobre
questões mais profundas, antes proibidas, até bem difíceis, e inimagináveis na
época quando fui educada. É interessante demais observar essas mudanças, as
novas famílias, os temas comportamentais que já não mais são tabus, como sexo,
proteção, masculinidade, assédio, gênero, feminismo, liberdade, respeito,
privacidade, entre outros desses novos tempos quando parece que os bichinhos
até já nascem sabendo. Onde agora têm acesso, permitido ou não, a questões que
ainda podem apavorar quando surgem em perguntas ou expostas dentro de casa.
Admiro demais a coragem dos pais que têm consciência de que
preparam o futuro, mesmo que tenham que passar por longas sessões de terapia
para lidar com isso, especialmente na fase que enfrentam a temida adolescência,
seus novos códigos, suas revoltas. Nisso todos somos e fomos iguais, fase dos
questionamentos, criação de subterfúgios e espertezas, de uma linguagem entre
os pares. Há muito o que ser estudado sobre essa fase da vida.
A propósito, lapada tem mesmo muitos sentidos: pode ser
também uma dose de cachaça, ou o resumo de informações posto em áudios/vídeos.
Parece ainda que também tem contornos sexuais quando acompanhadas de um “onde”.
O mais engraçado é que a palavra vem de lapa, um pedaço de madeira, e que como
era comum bater em crianças com um graveto, um cipó, mas que se a – digamos,
correção – fosse mais pesada, se usava uma lapa de pau – as pancadas eram as
lapadas.
Olha como esse mundo agora anda diferente, como o vento
muda de direção, e que ainda bem as lapadas agora são apenas verbais. Ufa. Que
quiproquó.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, cronista, consultora de
comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom
para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na
Amazon). Vive em São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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