Sábado, 18 de março de 2023 - 09h06

Vamos de bubuias e cucuias, assuntos aleatórios que descrevem bem
muitas das situações que acompanhamos, ficamos e onde vamos parar. Palavras
sonoras, claras, e de fácil entendimento. Principalmente para quem já ficou de
bubuia e foi pra cucuia. Muitos, essa semana.
Há alguns dias foi o aniversário de meu pai, que, então,
faria 104 anos. Mas ele resistiu só até os 98. Datas são sempre estranhas
porque ou nos fazem festejar, ou lembrar de muitas coisas, muitas vezes sofrer
dependendo do que marcam. Bateu uma saudade imensa do meu caboclinho
amazonense, mas também veio, recorrente, acreditem, uma lembrança engraçada. E
por motivos óbvios: as tempestades que abateram São Paulo, os carros boiando, e
o Datena se esgoelando no Brasil Urgente, das tardes (tenho a impressão que ele
fica feliz com esse assunto). Era um programa que papai não perdia, sentadinho
na sua poltrona. E em dias de chuva ficava ali vendo, contando, os carros todos
de “bubuia”, como ele se expressava, feliz de estar protegido.
Sempre fui encantada pela palavra bubuia, sonora, vibrante,
boa de falar e de escrever. No Amazonas, estar de bubuia é estar à mercê das
águas, entregue à própria sorte. Como tantos estiveram esses dias e como tantos
estarão ano após ano com qualquer chuva mais forte na cidade total e cada vez
mais impermeável. Por aqui tudo anda uma loucura. Onde havia um monte de
casinhas, vilas, constroem prédios. Nas esquinas, prédios. Onde tinha mato e
terra, prédios. Piscou, mais um prédio – parece epidemia, que apaga tudo por
onde se instala. Tudo piorado ainda mais com a recém descoberta que muitas
construtoras estão pouco se lixando e derramam, vejam só, sobras de cimento nas
ruas, que se solidificam bem duras nos bueiros já sem ar de tanto lixo. Ainda
tem canalização de córregos feitas ao léu, muros gigantescos represando a
passagem – e não só da água, como das pessoas, na nóia da segurança ou mesmo da
total falta de fiscalização ou corrupção de suas tentativas. Problemas crônicos
que nos farão ainda ver não só muitos carros de bubuia, mas as mortes nas
enxurradas.
Tudo indo pra cucuia, mas esta palavra você deve conhecer
melhor, faz mais parte do vocabulário nacional e a gente está sempre indo para
lá, para cucuia. Bem abrangente. Vivemos indo para a cucuia no que depende
especialmente do Poder Público, esse que ainda tenta se explicar com notas
evasivas depois que já fomos para esse lugar, a cucuia.
Nunca tinha pensado muito nisso até outro dia, quando um
amigo, Alexandre, que hoje vive na Espanha, coach e músico, passava uns dias
aqui em casa, e acompanhando o desespero das chuvas fortes me viu falando de
tudo que estava de bubuia. Ele ficou fascinado pela palavra, e saiu musicando,
balbuciando bubuia, bubuia... Fui fazer uma pesquisa que nunca tinha feito e
descobri que há o fascinante verbo bubuiar, com todas as suas possíveis
conjugações e tempos.
Contei para ele que logo - imagino - vai aparecer com uma
composição nova que até já tentava ao violão, juntando as notas musicais às
palavras e conjugações de bubuia, falando de tudo que vai para a cucuia. Não
vão faltar argumentos e rimas, não só pelos acontecimentos do mundo, como do
Brasil, onde está de passagem tentando entender como pudemos chegar nessas
situações tão estranhas, que nos afundam mesmo quando estamos bem longe das
águas das chuvas.
___________________________
MARLI
GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo,
autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também,
pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br /
marli@brickmann.com.br
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