Segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007 - 21h19
Mudar para sobreviver, a mudança de nome do Partido da Frente Liberal para Partido Democrata, sinaliza a decadência de uma forma de fazer política, baseada diretamente no modelo político das oligarquias nordestinas, dominada pelo coronéis do passado e nas administrações assistencialistas típicas da política de clientela. Desde 2002, o PFL evidenciava-se como o grande derrotado das eleições. Em 2006, o partido elegeu apenas um governador, além de sofrer seu mais duro golpe: a derrota para os governos do Maranhão e da Bahia, dominados pela legenda há mais de 40 anos. Diante disso tudo, para que o PFL não esteja próximo de seu último suspiro, a estratégia dos caciques é mudar o nome e renovar. Mas qual será mesmo o teor dessa mudança?
Mudança de nome sempre foi uma constante na trajetória do Partido da Frente Liberal. A história do maior partido da direita brasileira nasce já no período Imperial, com raízes na colônia. Mas é na República Velha, com a relação direta entre os coronéis, sua ligação com o latifúndio e as práticas políticas que davam sustentação ao regime, que o partido desponta como o grande representante de uma ideologia liberal - conservadora. Com a chegada do Estado Novo, a administração burocrático-racional de Getúlio e a Ditadura Vargas impediram qualquer forma de organização partidária. O período seguinte de 46-64, representaria o nascimento do sistema partidário moderno brasileiro. Apesar de um extenso número de partidos políticos, o grande avanço desse período é o surgimento dos três partidos de caráter nacional: o PSD, O PTB e a UDN, essa última peça importantíssima na árvore genealógica do PFL.
A União Democrática Nacional representa uma espécie de avó do PFL, representada pelos grandes latifundiários e banqueiros da época. Sua oposição ao governo de Jango, contribuiu decisivamente para o apoio ao golpe militar de 64. Com o bipartidarismo ditatorial imposto pelos militares, restou à UDN dar sustentação ao regime militar, seus quadros migraram quase que na sua totalidade para a Aliança Nacional Renovadora (ARENA), o partido do regime. Após vinte anos de ditadura, com a volta da democracia, a ARENA dava origem ao Partido Democrático Social, que com a disputa entre Maluf e Tancredo no Colégio Eleitoral de 85, acaba rachando em duas alas: a ala denominada "carlista", liderada por Antônio Carlos Magalhães que funda o PFL e apóia Tancredo do PMDB. E a ala "malufista", o que restou do PDS, segue derrotado com Paulo Maluf e mais tarde daria origem ao PRP, atual PP.
Em sua trajetória pela política brasileira, o PFL mostrou-se disposto várias vezes a uma mudança de sigla, contudo, o conteúdo programático do partido ainda pode ser considerado o mesmo. Com uma postura conservadora, aliada a uma visão neoliberal do mercado, desde 1994, o PFL representava o grande aliado do PSDB. A aliança com os tucanos ficou bem mais enfraquecida após as eleições presidenciais desse ano, principalmente pela indecisão do PSDB, em não assumir claramente uma postura diante das privatizações. O que para o PFL, representa uma das mais bem sucedidas conquistas dos anos FHC.
Como analisou o ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o PFL investirá numa mudança de "partidos dos coronéis" para um "partido democrático burguês". A questão é que assim como nos clãs, onde o poder era passado de pai para filho, bases sustentadoras do "coronelismo", o atual PFL ou PD (como o leitor preferir), se divide em dois: uma ala arcaica, representada por ACM, José Agripino Maia, Cesar Maia, Jorge Bonhausen, entre outros. E uma ala de políticos novos, futuros caciques do PD, são eles: ACM Neto, Rodrigo Maia, Felipe Maia, jovens, filhos, netos, enfim, herdeiros legítimos do clã pefelista. Tal mudança, parece-me apenas mais um capítulo de uma história que já dura pouco mais de 500 anos, isso, contudo, só a própria história dirá.
João Paulo Viana é cientista político e professor universitário, autor do livro:
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