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João Paulo Viana

Dois partidos, dois projetos de Governo: PT x PSDB e as atuais elites do poder no Brasil


           
As eleições de 1º de outubro marcaram um novo tempo na política brasileira. A polarização PT-PSDB, evidencia-se, trazendo a tona a formação de dois partidos nacionais, que dominam o espectro da política nacional desde 1994. Ao lado dessa polarização partidária entre os dois grandes, o sistema político brasileiro é caracterizado por uma alta fragmentação partidária e um caráter extremamente personalista.
            
PT e PSDB têm origens distintas, o PT nasce no início dos anos 80, por setores da igreja católica, intelectuais da universidade ligados ao marxismo, e pelos sindicatos do ABC paulista. O PSDB é um partido de quadros, que nasce dentro do congresso nacional, após racha no PMDB (de cunho essencialmente paulista), numa ala representada por Mário Covas, FHC, José Serra, Teotônio Vilela, Tasso Jereissati, entre outros.
            
O PT ao longo do tempo tende a conservar um eleitorado ideológico de esquerda. Com o passar dos anos, é nítido o abandono da retórica esquerdista tradicional, para uma linha mais moderna, de cunho social democrata, como a existente em países europeus. A própria origem sindical do partido e sua trajetória ao poder, com uma política voltada para a idéia de que o Estado tem uma papel primordial, sendo o próprio agente condutor do desenvolvimento econômico, remonta a idéia do partido como o grande representante da centro-esquerda brasileira, do socialismo democrático, da social-democracia. O PSDB representa o partido da centro-direita, responsável pelas reformas pró-mercado nos anos 90, essa visão fortemente voltada para o mercado, caracteriza o partido dentro de um social-liberalismo. O que confunde mesmo seria a visão da nomenclatura do Partido da Social Democracia Brasileira, que é explicada pelo próprio FHC, que teria sido voto vencido na escolha do nome.
             
No plano político os partidos precisam demonstrar habilidade na formação da coalizão governamental. E isso o PSDB mostrou-se muito mais preparado, ao buscar uma coalizão enxuta, ao lado de seu aliado histórico o PFL, representando a direita conservadora e o PTB. No primeiro governo FHC (95-98), essa aliança deu as cartas dentro do presidencialismo de coalizão brasileiro. Ao longo do governo ela contaria ainda com o PMDB e o PP malufista. A coalizão política do governo Lula deu-se de forma mais desastrosa, o PT não conseguiu formar um bloco hegemônico de poder, e a aliança acabou sendo realizada com pequenos partidos e até mesmo com políticos individuais, no que se refere ao PMDB. Dentro da coalizão petista, podemos citar os históricos e ideológicos PC do B e PSB, que são insuficientes para garantir maioria parlamentar, além dos partidos de porte médio, os "mensaleiros" PTB, PL e PP. Esses pontos, devem e precisam ser revistos numa eventual reeleição de Lula.
             
Nesse sentido as eleições de 2006 se caracterizam por um abrir as portas de uma nova era na política nacional. O segundo turno é altamente salutar, até porque não há dúvida que a sociedade está dividida. Dentro dessa divisão há um descontentamento com a política atual, mas há também por parte dos setores nacionalistas e mais à esquerda, um receio quanto a volta da aliança liberal-conservadora de PSDB-PFL. Tanto é que os votos de Heloísa Helena e Cristovam Buarque demonstram uma insatisfação do eleitorado com a polarização política em torno dos dois partidos nacionais, ao mesmo tempo que devem migrar em sua maior parte para Lula.
             
Ainda no que se refere ao eleitorado, é explícito que se por uma lado as camadas mais altas da sociedade estão com Alckmim, por outro lado como salientou o cientista político e professor da UFC, Josênio Parente, "nesse ambiente, as eleições revelaram um Brasil de pobres que quer participar e se sentir integrado, como vem acontecendo em toda América Latina."  E o momento é justamente esse, fazer com que essa camada da população possa expressar sua cidadania de forma democrática, com participação política efetiva que vai bem mais além do que o voto ou um bolsa família. Nesse contexto, qualquer que seja o partido vencedor, o primeiro semestre de 2007 deve ser marcado por uma reforma política pontual que amplie a democracia e a participação popular, e que possa contribuir diretamente para a construção de um país soberano com cidadãos e cidadãs de direito.

Autor: João Paulo Viana é cientista político , professor universitário e escreve mensalmente para www.gentedeopiniao.com.br

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