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Gente de Opinião

João Paulo Viana

As lições de 2010: da vitória de Dilma ao triunfo de Confúcio


  

A eleição de 2010 marcou o amadurecimento da sociedade brasileira após 25 anos de democracia. A consolidação democrática veio acompanhada pelo domínio dos dois maiores partidos, PT e PSDB, que há 16 anos se revezam e ao que tudo indica ainda se revezarão no poder por muito tempo. Partidos de origem paulista PT e PSDB lideram atualmente dois blocos, de centro-esquerda e centro-direita, respectivamente, que desde as eleições de 1994 vêm mantendo uma média de 80% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais.

Do ponto de vista eleitoral e partidário, tal argumento suscita dúvidas quanto ao freqüente diagnóstico de fragilidade dos partidos brasileiros. De certo, nossos partidos precisam se fortalecer nas ruas, criar raízes societárias. Entretanto, apontá-los como um caso notório de subdesenvolvimento partidário, a meu ver, parece puro farisaísmo.

A decisão no segundo turno mostrou que a sociedade brasileira está dividida e que Dilma, levando em conta sua estréia em pleitos eleitorais, é a personificação de um governo bem-sucedido, apoiado, sobretudo, nos mais de 80% de aprovação popular do Presidente da República. O “Lulismo” é sem dúvida um fenômeno de proporções, até então, desconhecidas. Como analisou o cientista político Bolívar Lamounier, corremos o risco de criar uma espécie de aiatolá, um indivíduo extremamente popular fora do governo. Algo inédito na história republicana brasileira.

Se ainda é incerta a forma de participação de Lula no governo Dilma, mais incerto ainda é a relação entre PT e PMDB. Diferentemente do governo Lula, onde o PMDB foi o maior partido da coalizão, o fiel da balança para a conquista da governabilidade após o escândalo do mensalão em 2005, dando tranqüilidade a base aliada principalmente no 2º governo, o PMDB é agora sócio de chapa. Não sabemos o custo que isso representará. É preciso lembrar também que a coalizão que levou Dilma ao poder é composta por mais de dez partidos, que vão desde os aliados históricos PSB, o partido que mais cresceu em 2010, PDT e PC do B, até a direita conservadora representada pelo PP malufista.

Entre seus principais desafios encontra-se a efetivação de uma agenda de reformas que Lula não conseguiu realizar, entre elas a reforma tributária, política e previdenciária. Sem o traquejo político de Lula, Dilma terá que aprender a negociar, mesmo com maioria absoluta no Congresso.

No tocante à oposição, a derrota de Serra representa um bom momento para uma reaproximação com a sociedade. Isso vale tanto para PSDB quanto para o DEM. Enquanto maior partido de oposição, o PSDB precisa assumir-se como partido de centro-direita. Partido social-democrata que não dialoga com sindicato e que não compreende a importância dos movimentos sociais não pode denominar-se como tal.  

Ademais, os tucanos necessitam repensar a forma como olham para Fernando Henrique Cardoso. Lula foi sem dúvida quem melhor soube aproveitar os avanços da era FHC. Pelo visto, a “herança” não foi tão maldita assim. Ao não assumir os ganhos do governo FHC e desprezar a figura do ex-presidente, o PSDB perdeu a chance de construir um espelho para o futuro.  O legado de Lula e sua popularidade ofuscam a imagem do líder tucano que governou o país de 1995 a 2002.

Em terras rondonienses a vitória de Confúcio e a consolidação do PMDB como maior partido do Estado começou a ser traçada ainda no início de 2009, quando um racha na base “Cassolista” provocou o rompimento com Expedito Júnior e seus aliados. O erro estratégico de Cassol fez com que o grupo apartidário, eleito em 2006, chegasse rachado às urnas em 2010. Confúcio, e a família Raupp, liderando o PMDB construíram uma aliança em torno de importantes caqiques da política local. Com o PDT de Acir Gurgacz, o DEM de José de Abreu Bianco e o PC do B do professor Pantera, a aliança de partidos ganhou fôlego para vencer o primeiro turno e trazer consigo o PT de Valverde, Fátima e Sobrinho, aliado na prefeitura de Porto Velho, e o grupo de Expedito, ainda abalado pelos estragos causados pelo “Cassolismo”.

Com grande popularidade após uma gestão na prefeitura de Ariquemes reconhecida nacionalmente, Confúcio somou seu prestígio político ao patrimônio eleitoral da Família Raupp e o clamor da sociedade rondoniense por mudança. Sua vitória representa também o retorno peemedebista ao palácio Getúlio Vargas após longos doze anos. Além disso, com a chegada de Michel Temer à vice-presidência da República, Valdir Raupp emerge à presidência nacional do PMDB, se consolidando como o político rondoniense de maior relevância nacional.

No plano da governabilidade, o início das relações entre Confúcio e a Assembléia, ao que tudo indica, serão de “céu de brigadeiro”. Entretanto, ao costurar uma coalizão entre os maiores partidos do Estado, Confúcio terá que ceder. Negociação e cautela serão as palavras chaves da relação com o novo parlamento. Nesse contexto, assim como em nível nacional, as relações entre PMDB e PT constituem-se a base da harmonia governista aqui no Estado. Aliados na prefeitura de Porto Velho, os dois maiores partidos do Estado necessitam alinhar o discurso se o intuito for afastar o “Cassolismo” do poder.

O triunfo de Confúcio chega suscitando a esperança e a expectativa de mais de um milhão e meio de rondonienses. A industrialização do Estado, aliado as questões de educação, saúde e segurança são os maiores desafios do novo governo. Nesse contexto, o olhar do executivo estadual deve voltar-se para o incentivo à construção de um parque industrial na BR-364, a criação da universidade estadual, da fundação de amparo à pesquisa, o socorro urgente à saúde e a educação pública do Estado, juntamente com a segurança de nossas cidades e fronteiras. Apostar na industrialização como fonte geradora de emprego e renda e na melhoria de nossos recursos humanos é a única maneira de continuar crescendo a taxas chinesas após a construção das usinas do Madeira.

 Terra do agronegócio, de um dos maiores rebanhos brasileiro, importante produtor de soja, cacau, café, arroz, mandioca e milho, além da extração de madeira, minérios e borracha, dotado de posição estratégica no contexto da integração sul-americana com os países andinos, o estado mais brasileiro de todos representa também a região mais pujante do Brasil na atualidade. Sua consolidação enquanto importante membro da federação brasileira depende diretamente do olhar de sua classe política e a conexão desta com seu povo. Mãos a obra Rondônia!

 Autor: João Paulo Saraiva Leão Viana é cientista político, professor da Faculdade de Rondônia (FARO) e Faculdade Interamericana de Porto Velho (UNIRON).

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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