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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DXXI - Aportando em Boa Vista Parte I


9° BEC – BR-364 - Gente de Opinião
9° BEC – BR-364

Bagé, 12.12.2022

 

Retornar à Boa Vista, RR, depois de aqui ter aportado, pela primeira vez, nos idos de 1982, há 36 anos, tinha para mim e meus familiares um significado muito especial. Embora minha experiência como “trecheiro” tenha sido colocada à prova no 9° Batalhão de Engenharia de Construção (9° BEC), sediado em Cuiabá (MT), nas BR-070 e BR-364, trabalhando mais de 130 horas semanais, os recursos em equipamentos e pessoal eram mais do que suficientes para o cumpri­mento da missão antes do prazo estipulado e dentro dos mais altos padrões técnicos.

No 9° BEC, era recém-casado, sem filhos, e po­dia concentrar todo meu esforço no trabalho, não raras vezes, nos fins de semana, minha esposa me acompa­nhava até o trecho para que eu pudesse desfrutar, ainda que por breves momentos, de sua companhia.

No 6° BEC, a realidade era bastante diversa, fui destacado, de imediato, para comandar a 1ª Companha de Engenharia de Construção, sediada no Abonari (AM) com a responsabilidade de manter o tráfego da BR-174 de Manaus (AM) até o Rio Jauaperí (RR), um trecho de 419 km, 120 km dos quais dentro da TI WA, única via de acesso terrestre ao então Território Federal de Roraima. A Companhia ocupava derruídas e precárias instalações no Km 202, da BR-174, que graças ao apoio da Mineração Taboca e Eletronorte (os recursos do Ministério dos Transportes eram ínfimos), fomos aos poucos incrementando melhorias. Construímos um Cen­tro de Lazer para os familiares dos militares destaca­dos, alojamento para Praças solteiros, escolinha comu­nitária, instalamos um segundo gerador e refizemos toda a instalação elétrica da Companhia.

Instalamos uma Central de TV, com gravações de uma rede de Manaus, que retransmitia seu sinal para toda Companhia e arredores, e para um telão instalado no “Clubinho” onde as famílias se reuniam para confraternizar. As acariquaras, a palha de ubim, o cimento, a geladeira e a televisão do Centro de Lazer (Clubinho) foram doadas pela Mineração Taboca. O atendimento médico proporcionado pelo Dr. Leônidas Sales Sampaio e depois pelo Dr. Alexandre Augusto Stehling era de alto padrão e estendido às aldeias dos Waimiri-Atroari com que mantínhamos um salutar con­tato. Alguns casos mais delicados, lembro-me da espo­sa do “Elza”, um dos filhos do Tuxaua Comprido, que levou a esposa grávida de nove meses para ser atendi­da pelo Dr. Sampaio. O “Elza” e a esposa permanece­ram mais de uma semana na sede da Companhia onde ele fazia questão de nos ajudar nas lides do rancho.

Perambulando pela Companhia ele ficou encan­tado com nossa criação de porcos e prometi-lhe que doaria à sua aldeia um cachaço e três leitoas de uns 4 meses, o que foi feito logo depois do nascimento de sua filha Sônia. Na época, um dos líderes dos WA era o Tuxaua Viana, inteligente, empreendedor e muito amigo dos militares a quem entreguei, em várias oportunidades, livros didáticos. O Viana era um aficionado pela Matemática e resolvíamos, juntos, alguns exercícios atendendo às suas solicitações.

Nas minhas inspeções ao trecho, eu visitava cada uma das aldeias localizadas ao longo da estrada e fazia um salutar comércio com as lideranças, trocando a farinha que eles produziam por gêneros diversos e pequenos animais que criávamos na Companhia e ensi­nando-lhes os procedimentos corretos que deveriam adotar para mantê-los.

Os Doutores Sampaio e Stehling, valorosos oficiais médico R/2 aceitaram de bom grado a incum­bência de vacinar todos os WA da reserva, cuja área corresponde a um quarto do estado de Santa Catarina. Muitas vezes eles tinham que arrastar ou carregar nas costas a canoa, que os apoiava, através das pedras do Rio Abonari e do Rio Alalaú e afluentes para chegar às aldeias mais distantes.

Era um trabalho voluntário e eles não tinham nenhuma obrigação de fazê-lo. A vacinação intensiva dos WA iniciou-se com o Dr. Sampaio e não com o “Programa WA”. Recebíamos atenciosamente, por di­versas vezes, na sede da Companhia, os nativos para atendimento médico e odontológico. O relacionamento era extremamente amigável e éramos muito bem recebidos nas Aldeias, que visitava frequentemente acompanhado de minha esposa Neiva, minhas filhas, Vanessa de um ano e meio e Danielle de três meses.

Meus dedicados médicos conseguiram pessoal­mente e com o apoio da Superintendência de Campa­nhas de Saúde Pública (SUCAM), hoje Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) eliminar os focos de mosquitos (Anófeles) vetores da malária ‒ não teve nenhum novo caso de malária em todo período em que lá servimos (1982/83).

Certa feita um dos engenheiros da Mineração Taboca sofreu um mal súbito e embarcou na aeronave que o conduziu do Abonari até Manaus acompanhado de perto pelo Dr. Sampaio até o Hospital, em Manaus. A atenção e gentileza prestada pelo Dr. Sampaio foi recompensada, mais tarde, com a evacuação aeromé­dica da Srª Denair, esposa do Sgt Pacheco, que neces­sitava de cuidados médicos especiais em virtude de complicações com a gravidez. Tive a felicidade de reencontrar estes queridos amigos no 9° BECMB, em Aquidauana, MS.

Abonarí - Amazonas - Berço do Princípio de Saúde Coletiva de um médico Aspirante a Oficial.

Ao ser responsável médico pelos recursos humanos militares e civis contratados atuantes na manutenção da Br 174, estudei muito na enfermaria para elucidar o diagnóstico de diversas doenças que incidiam na comunidade. A malária incidia na comunidade branca e indígena da área.

Entrei no exército como amigo e tive que me tornar um militar de verdade, para acompanhar satisfatoriamente a rotina, com seu estatuto perfeito e na dependência de ser operado por seres humanos justos e honestos, como em qualquer organização social.

Com poucos pacientes a serem atendidos na enfermaria, comecei a achar que poderia levar saúde à população às margem da Br 174 e visitar regularmente os pelotões sediados na Estrada, além de atuar nas comunidades indígenas Waimiri-Atroari na reserva indígena sob a proteção da União. Após minha primeira visita foi constatado a indignação do funcionário da FUNAI Sr. Paulino, que consistia na ausência de atenção médica aos indígenas por mais de seis meses, que concorreram para a continuidade do acompanhamento médico aos indígenas, por todo o ano que passei no exército, que apesar do médico da FUNAI ser chamado por várias vezes para discutirmos saúde indígena, nunca compareceu nas aldeias. Isso motivou uma atenção médica e odontológica por parte do exército sediado no Abonarí, até mesmos às localidades distantes e de difícil acesso no Rio Abonarí.

Abonarí - Amazonas - Berço do Princípio de Saúde Coletiva de um médico Aspirante a Oficial.

Ao ser responsável médico pelos recursos humanos militares e civis contratados atuantes na manutenção da Br 174, estudei muito na enfermaria para elucidar o diagnóstico de diversas doenças que incidiam na comunidade. A malária incidia na comunidade branca e indígena da área.

Entrei no exército como amigo e tive que me tornar um militar de verdade, para acompanhar satisfatoriamente a rotina, com seu estatuto perfeito e na dependência de ser operado por seres humanos justos e honestos, como em qualquer organização social.

Com poucos pacientes a serem atendidos na enfermaria, comecei a achar que poderia levar saúde à população às margem da Br 174 e visitar regularmente os pelotões sediados na Estrada, além de atuar nas comunidades indígenas Waimiri-Atroari na reserva indígena sob a proteção da União. Após minha primeira visita foi constatado a indignação do funcionário da FUNAI Sr. Paulino, que consistia na ausência de atenção médica aos indígenas por mais de seis meses, que concorreram para a continuidade do acompanhamento médico aos indígenas, por todo o ano que passei no exército, que apesar do médico da FUNAI ser chamado por várias vezes para discutirmos saúde indígena, nunca compareceu nas aldeias. Isso motivou uma atenção médica e odontológica por parte do exército sediado no Abonarí, até mesmos às localidades distantes e de difícil acesso no Rio Abonarí.

No Plano de Atenção Médica às comunidades da Estrada apresentado ao Capitão Hiram Reis e Silva, a saúde indígena tomou vulto regular de atuação, com programa de vacinação estimulado, controle de endemias como a malária e doenças diarréicas operado nas comunidades indígenas, além de tratamento radical de processos infecciosos e contagiosos e patologias diversas de incidência na área indígena, levando a contrapeso a atenção odontológica preventiva e curativa. Toda essa atuação, de certeza ajudou a inverter os índices negativos de crescimento populacional do povo Waimiri-Atroarí e melhorar a saúde da população indígena e ao longo dessa rodovia federal. A atenção médica aos militares e civis da região não foi interrompida, haja vista, a operação de ações na área indígena ser levada a termo nas sextas e sábados. Não havia feriado e domingos no acampamento militar do Abonarí, apenas "arejamento" mensal. (Fonte: Leônidas Sales Sampaio)

 


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: [email protected].

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