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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DLV - Jornada Pantaneira A Mídia Pretérita e a Expedição Parte I


Terceira Margem – Parte DLV - Jornada Pantaneira A Mídia Pretérita e a Expedição Parte I - Gente de Opinião

Bagé, 03.03.2023

Embora a imprensa nacional tenha realizado uma cobertura por demais incipiente da histórica Expe­dição, vale a pena reportar algumas de suas breves notas não só pelo seu intrínseco valor histórico mas, sobretudo, porque elas nos permitem “engarupar na anca da história” e acompanhar, como o fizeram os leitores de outrora, ainda que por breves momentos a saga daquele punhado de heróis.

Correio Mercantil, n° 33

Rio de Janeiro, RJ – Sábado, 02.02.1867

Expedição de Mato Grosso

De uma carta particular, escrita de Miranda em 17 de novembro último, extraímos as seguintes interes­santes notícias:

O Sr. Coronel Carvalho achava-se em Miranda com as Forças sob seu comando. Enviara o mesmo Coro­nel alguns bombeiros, comandados por um Sargento, afim de fazer um reconhecimento à frente. Esses bombeiros, antes de se aproximarem de Corumbá, tinham-se encontrado com uma avançada dos paraguaios, com a qual se bateram, resultando a morte de alguns soldados inimigos e escapando sem perdas os bombeiros.

Passados alguns dias, voltaram estes às proximi­dades de Corumbá, e observaram grande movimento do inimigo.

Referiam eles ter visto um vapor paraguaio rebocando várias lanchas com munições e gêneros.

Estava o Coronel disposto a bater-se em breve; com os paraguaios em Corumbá, e seguir depois para Albuquerque e dali ir finalmente a Coimbra.

Já se achavam perto do acampamento os gêneros alimentícios que estavam depositados nos baús, e que o Major Lins na sua passagem por ali fizera seguir pela estrada que mandou abrir daquela localidade até Camapuã. Para esta estrada, segundo refere a carta, transitam hoje todos os recursos com imensa vantagem, por isso que evitam-se os pântanos do Rio Negro.

O Sr. Coronel Carvalho já havia expedido tropas; afim de receber a poucas léguas de distância os mantimentos transportados por Salviano José Mendes.

Pela estrada de Camapuã, segundo notícias chegadas ao acampamento das Forças, transitavam muitas tropas e carros conduzindo víveres.

Tinha o Coronel Carvalho mandado a Nioaque fazer um reconhecimento pelos índios da tribo Guaicurus, comandados pelo seu Chefe Lapagata. Já ali não encontrara este Chefe os paraguaios.

Constava, porém, que o fazendeiro Barbosa, o qual se achava prisioneiro em poder dos paraguaios, tendo escapado na ocasião em que estes se retiravam, fora morto por Lapagata e os seus, em consequência de antigas inimizades.

De Nioaque tinham os índios teriam seguido para o “Apa”. Em Miranda continuava a grassar a célebre paralisia, que até à última data fizera já 30 vítimas entre a oficialidade que marchara do Coxim. (CM N° 33)

Correio Paulistano, n° 3.217

São Paulo, SP – Sexta-feira, 15.02.1867

Notícias das Forças que

Seguiram para Mato Grosso

Da carta de um Cadete do extinto Corpo Fixo de S. Paulo, e datada a 24 de dezembro próximo passado em o acampamento junto a Miranda, extraímos o seguinte trecho:

Aqui neste lugar tudo é ruim, a água é horrível, o calor excessivo, mosquitos uma quantidade extraor­dinária, e assim tudo mais, felizmente a fome já se tem retirado dentre nós, mas a peste não.

Nós aqui estamos nos aprontando para marchar con­tra Corumbá, para lá dar-se um ataque aos vândalos que tão ousada e traiçoeiramente tem invadido as nossas fronteiras, e que ora parecem fugir acelera­damente ao tropel das nossas tropas, por isso que, quando estávamos em Coxim, eles estavam no Rio Negro, e quando para este lugar nos dirigimos eles se retiraram para o Rio Taboco.

Quando nós chegamos no Taboco eles voltaram para Aquidauana e quando chegamos no Aquidauana, eles vieram aqui, nós que para aqui nos dirigimos, eles se retiraram pra Corumbá; se assim for, suponho que muito facilmente conseguiremos entrar em Assunção.

As rondas que se tem mandado lá reconhecer a posição, número e qualidade do inimigo, nos dão a seguinte informação; boa cavalaria e bem montada, boa artilharia de campanha e uma luzida infantaria tudo em número de 3 a 4 mil homens, justamente o número de nossa força aqui, porém com diferença de que a nossa cavalaria não está montada por que não tem cavalos, e eles os tem excelentes, como se vê de alguns que deles se tem escapado para cá.

A pouco aqui se organizou um Batalhão somente de bugres, pois para isso são excelentes, e se tivéssemos material podia-se ainda organizar outros, pois essa gente grosseira e rústica, para isso serve muito. Esta Vila parece ter sido muito bonita, mas hoje nada vale, pois os paraguaios queimaram todas as casas e até a própria igreja. (CP N° 3.217)

 

Bibliografia

 

CM N° 33. Expedição de Mato Grosso – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio Mercantil, n° 33, 02.02.1867.

 

CP, N° 3.217. Notícias das Forças que Seguiram para Mato Grosso ‒ Brasil – São Paulo, SP – Correio Paulistano, n° 3.217, 15.02.1867.

 


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: [email protected].

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