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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCLXXI - Nas Águas da Família Schiefelbein


Ninhal – Granja do Valente (GV) – Bagé, RS - Gente de Opinião
Ninhal – Granja do Valente (GV) – Bagé, RS

Bagé, 04.12.2023

 

Durante o voo, o maguari ([1]) e alguns outros pernaltas esticam o pescoço em linha reta. As grandes garças, ao contrário, inclinam o longo pescoço para trás numa belíssima curva, de maneira que a cabeça fica bem próxima das espáduas. (Theodore Roosevelt)

Desde pequeno, as Maguaris, Garças Mouras ou Socós Grandes (Ardea cocoi) me fascinam e parece que, volta e meia, as circunstâncias nos envolvem numa bela e emocionante trama. Às vésperas de minha jornada pela Margem Ocidental da Laguna dos Patos, eu precisava encontrar, em Bagé, um lugar adequado para treinar e que não ficasse muito longe da cidade. Minha querida companheira Rosângela sugeriu que solicitássemos à família Schiefelbein o uso de sua bela barragem, na Granja do Valente.

A recepção não poderia ser mais cordial e os amigos prontamente aquiesceram. Ao contrário do pequeno Rio Negro, em Bagé, aqui eu podia desenvol­ver meu treinamento mais adequadamente e com mais rigor.

A volta pelo perímetro da represa, incluindo a entrada por um canal de tomada d’água para a lavoura, de propriedade da Cabanha Maya, era vencida entre 40 e 50 minutos o que facilitava meu controle e me permi­tia desenvolver uma velocidade similar à que vou impri­mir na Laguna dos Patos.

A montante da barragem, as árvores parcial­mente submersas exibiam, em seus galhos secos, aproximadamente 50 ninhos das formidáveis Maguaris. Foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de admirar de perto um ninhal de tal envergadura.

Já observara inúmeros ninhais de outras espé­cies, no Pantanal Mato-grossense e na Amazônia, mas nenhum de Maguaris.

A navegação a cada volta ganhava um momento mágico que era o de poder admirar minhas caras amigas de perto e de lambuja um ninho, à altura de meus olhos, de um João Grande (Ciconia maguari) com quatro grandes ovos.

Graças aos Schiefelbein, tive a oportunidade de rever, nestes poucos dias em que permaneci em Bagé, a ave de meus encantos juvenis.

Ardea cocoi

A garça-moura é uma ave ciconiiforme da família Ardeidae. É a maior das garças do Brasil, atingindo 1,20 m de altura, uma envergadura de 1,80 m e um peso de até 3 quilos. Durante o voo, as batidas de asas são ritmadas e lentas.

Nos seus deslocamentos médios ou longos, encolhem graciosamente o pescoço ao mesmo tempo em que esticam as pernas completamente, apenas em voos curtos mantém o pescoço distendido em linha reta, como menciona Roosevelt quando se refere espe­cificamente ao João Grande. Fora do período repro­dutivo, vive solitária e, mesmo nessa época, a maioria mantém-se isolada durante a alimentação.

Permanece pousada nas margens dos mananciais, em meio à vegetação, pescando peixes, rãs, pererecas, crustáceos, moluscos e pequenos répteis. Graças às suas longas pernas e pescoço, consegue capturar presas maiores em locais mais profundos do que as demais garças.

Possui um longo período de acasalamento e nidificação que se estende de janeiro a outubro quando então se reúnem em ninhais. Os grandes ninhos construídos com gravetos e forrados com gramíneas são construídos na parte superior e externa das árvores de maneira a permitir a aproximação das grandes aves. O casal se reveza desde o período do choco até a alimentação dos 3 ou 4 filhotes de sua ninhada. O ninhal favorece a segurança contra os principais predadores, nesta fase, que são os carcarás e urubus, que tentam comer os ovos e os filhotes destes formidáveis pelecaniformes.

Neste período, a plumagem dos pais torna-se mais vistosa. A base do pescoço ganha um pequeno tufo de leves penas brancas, a tonalidade das penas acinzentadas e negras torna-se mais viva, o mesmo acontecendo com as penugens ao redor dos olhos que ficam mais azuladas e o bico que ganha um amarelo mais vivo. Os filhotes ostentam a mesma padronagem de cores dos pais, embora um pouco mais esmaecida e sem a listra negra do pescoço e do ventre.


 (*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: [email protected].



[1]    Maguari: João Grande (Ciconia maguari). (Hiram Reis)

Galeria de Imagens

  • Garça moura, Maguari ou João Grande
    Garça moura, Maguari ou João Grande
  • Garças Mouras – GV – Bagé, RS
    Garças Mouras – GV – Bagé, RS
  • Ninho de João Grande – GV – Bagé – RS
    Ninho de João Grande – GV – Bagé – RS
  • Ninhal – Granja do Valente (GV) – Bagé, RS
    Ninhal – Granja do Valente (GV) – Bagé, RS

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