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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCCXXIX - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte X


Terceira Margem – Parte DCCXXIX - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte X - Gente de Opinião

Bagé, 17.04.2024

 

 

Arbitragem Internacional

 

A Coalição, n° 20

São Luís, MA – Quarta-feira, 11.03.1863

 

O Cruzeiro do Sul foi portador de notícias da Europa relativas à Questão entre o nosso Governo e o Sr. Christie, Ministro de S. M. Britânica.

 

De real contentamento foi para nós a impressão causada no velho mundo por negócio tão grave quanto importante, pois na balança da opinião pública europeia teve o nosso direito mais peso que os excessos e insolências de um Ministro, que se dizia representante de uma nação civilizada e amiga.

 

Na própria Inglaterra a manifestação do espírito nacional nos foi favorável; e quanto não bastassem as palavras do “Daily News”, do “Standart” e do “Morning Herald”, e as interpelações dirigidas contra o governo na Casa dos Comuns, ali está o grande “meeting” de Liverpool e a incumbência dada aos representantes daquele Distrito para significar que o povo não apoia os atos cometido em nome do seu governo. Sirva-nos isso de satisfação, bem como já nos serviu a tal respeito a expressão da imprensa dos nossos vizinhos da América.

 

O governo inglês resolveu por espírito de “conciliação”, segundo declarou no parlamento o Sr. Layard, subsecretário do estado dos negócios estrangeiros, aceitar o arbitramento proposto pelo nosso governo em relação à questão dos oficiais da Fragata Forte e receber o dinheiro que se lhe mandou dar, sob protesto, a título das pretendidas indenizações do “Prince of Wales”.

 

Dizem alguns correspondentes que o governo aprovara o procedimento do Sr. Christie; mas, os telegramas da “Gazetta de Portugal” e “Jornal do Commércio” de Lisboa declaram o seguinte:

 

Londres, 10, à noite. A Inglaterra censura o procedimento do Ministro Britânico no Rio de Janeiro para com o governo do Brasil.

 

Londres, 10, à tarde. O governo britânico desaprova o procedimento do seu Ministro contra o Brasil.

 

Como quer que seja, resta-nos saber qual a solução que terá a questão da satisfação e indenizações reclamadas de nossa parte por intermédio do nosso Ministro em Londres.

 

Se é certo, como diz o Sr. Layard, que o governo da rainha está disposto a terminar tudo do modo o mais amigável, podemos esperar que o governo inglês, melhor avisado que o seu Ministro Christie, dê atenção às reclamações feitas e fundadas nos interesses dos súditos britânicos relacionados conosco e aqui residentes o nos ofereça ensejo de louvarmos sua prudência.

 

Eis em que termos se exprime a “Correspondência de Portugal” de 13 do mês próximo passado:

 

Foi grande a sensação que produziu aqui a notícia do desagradável conflito acontecido no Rio de Janeiro e do injusto agravo feito pelos ingleses à bandeira nacional brasileira. Com a memória ainda fresca da afronta do “Charles et George” pesa-nos mais vivamente a ofensa da parte do governo inglês a um povo nosso irmão e amigo pelos agentes de uma nação poderosa, que não precisa de esteiar a sua grandeza na opressão dos seus aliados.

 

Toda a imprensa portuguesa tem sido unânime em seus votos em desagravo da nação brasileira. A atitude do Imperador do Brasil, do governo brasileiro e principalmente do seu povo tem direito a toda nossa simpatia. E não foi menos agradável aos portugueses o saberem que os seus compatriotas, que residem no Brasil, fizeram causa comum com a generosa população, que os hospeda.

 

Na qualidade de um dos mais obscuros representantes da imprensa brasileira; agradecemos as palavras e o procedimento da imprensa dos nossos irmãos de além-mar.

 

E desta ocasião nos servimos para acompanhá-los nas suas justas queixas formuladas em presença do atentado exercido em Loanda pelo comandante do navio de guerra inglês “Torch” contra o patacho português “Paquete de Mossamedes”.

 

O patacho fazia-se de vela para sair do porto, quando de bordo do navio inglês partiram três escaleres tripulados e fizeram fundear o patacho, abordando-o. Tão incrível atentado teve sem dúvida origem “in good sprit” em que se achava o comandante do “Torch”.

 

O fato deu-se depois das cinco horas da tarde e o Sr. Smith, comandante do navio inglês assim o explica:

 

No meu regresso para bordo do “Torch”, ontem pelas 5½ horas da tarde, em companhia do comandante Bathish, estando à distância de 500 jardas do “Torch”, pareceu-me que o Mossamedes levava o rumo na direção da proa do meu navio.

 

Considerando que as circunstâncias do caso exigiam, uma explicação, ordenei ao meu tenente para que com os escaleres fizesse fundear o patacho, o que assim se fez.

 

O motivo do atentado é irrisório. Porque um navio que estava a sair pareceu ao comandante de um vaso de guerra inglês que levava rumo à proa deste, fez-se-o fundear e deu-se-lhe uma abordada com três escaleres.

 

O ofício que lhe dirigiu a tal respeito o Sr. governador da Angola é notável pela dignidade com que foi concebido e pela energia e firmeza da linguagem. O Sr. Ministro da Marinha deu explicações à Câmara Portuguesa acerca desta ocorrência, declarando que já havia considerado este negócio e começado a proceder no empenho de obter do governo da Inglaterra a devida reparação.

 

Parece que o “I am english” terá em breve muito maior força e extensão que o “civis romanus sum” ([1]) dos antigos conquistadores do mundo, visto que a frase da personalidade nacional vai passando aos objetos materiais pertencentes à S. M. britânica.

 

É, porém, para sentir que súditos, empregados e representantes de uma nação tão poderosa quanto civilizada tenham o vício nacional que os distingue, porque unido ele às constantes lembranças do “I am english”, resulta daí o que constantemente a imprensa nos denuncia.

 

Verdade é que as insolências só se praticam para com os mais fracos.

 

O “good sprit” dos ingleses é com os fortes prudente e razoável. (A COALIÇÃO, N° 20)

 

Bibliografia

 

A COALIÇÃO, N° 20. Arbitramento – Brasil – São Luís, MA – A Coalição, n° 20, 11.03.1863.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)E-mail: [email protected].



[1]   “Civis Romanus sum”: “Eu sou um cidadão romano”, expressão latina que enfatizava os privilégios dos cidadãos romanos. A frase foi citada pelo Lorde Palmerston, em 25.06.1850, que reiterava que todo cidadão britânico, em qualquer recanto do planeta, deveria ser protegido pelo Império Britânico como eram os cidadãos romanos eram na época do Império Romano.

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