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Hiram Reis e Silva

Chapéu Bandeirante - Por Hiram Reis e Silva


Chapéu Bandeirante - Por Hiram Reis e Silva - Gente de Opinião

Chapéu Bandeirante

Hiram Reis e Silva, Manaus, AM, 28 de julho de 2017.

Caro Amigo e Irmão Higino Veiga Macedo

Sua Ode ao Chapéu Bandeirante foi lida no encerramento de minha palestra aqui no 2° GPT, em Manaus. Solicitei ao General Viana que apresentasse uma proposta ao Escalão superior para que o dia de sua criação fosse oficialmente dedicado a cultuá-lo.

Aguardemos!

Não tive condições de realizar a leitura pessoalmente por motivos emocionais. O Chapéu Bandeirante que usei pela primeira vez em 1978, no 9° BEC, Cuiabá, MT, como chefe da equipe de terraplenagem, como Comandante da 1ª Cia Eng Cnst, no 6° BEC, Abonari, AM e me acompanhou em cada uma de minhas amazônicas jornadas fluviais foi tragado pelas tumultuárias águas do Rio Roosevelt na altura da Cachoeira Sumaúma.

Meu parceiro de longa data, nas BR 070, 163, 174, nos Rios Solimões, Negro, Amazonas, Madeira, Juruá e Tapajós, foi requisitado pelo Grande Arquiteto do Universo para empreender uma “Cruzada Santa”, como se referia o Gen Tibério à Saga da Engenharia Militar na Amazônia Brasileira, uma cruzada igualmente gratificante no Oriente Eterno. Foi-se aos 36 anos, no esplendor de sua vitalidade.

Convidei o Cel Rondon, a quem eu considero, sem sombra de dúvida, o mais experiente e competente trecheiro da atualidade no Exército Brasileiro. Ele confessou, também, que não conseguiria lê-lo até o fim. A missão foi, então, repassada ao Sgt Maués que a cumpriu com galhardia invulgar.

Confesso que foi extremamente gratificante receber o Diploma de Colaborador Emérito do 2° GPT, mas o momento mais emocionante aconteceu após a formatura, quando confraternizávamos no Clube dos Subtenentes e Sargentos. Dois ex-soldados, que aqui serviram na década de 90, me procuraram emocionados com a homenagem prestada ao Chapéu Bandeirante e me mostraram dezenas de mensagens de colegas seus que conservavam, com saudade, este verdadeiro símbolo da engenharia militar. Como o Sr. mesmo disse, amigo Higino, muito mais que uma peça de uniforme o Chapéu Bandeirante é uma lenda, um ícone, um exemplo.

 

Diálogo com o Chapéu Bandeirante
(Cel Eng, Tu 71 – Higino Veiga Macedo
Ex-Cmt 7° BEC – 15.01.92 a 12.01.95)

Dia 13 de julho de 2017, cinco da manhã. Barulho na parte alta do guarda roupa do quarto. Um barulho diferente! Alguém batia com insistência de dentro para fora. Pensei estar sonhando.

Pensei em pesadelo. Batida insistente como se fora gente de fora chamando gente de dentro, como nas casas da Arte Real.  No guarda roupa algumas lembranças da caserna: Chapéu Bandeirante, facão, coldre sem arma, placas de OM onde servi...

Meus troféus de guerra, como disse um sapador. Fiquei intrigado, pelo bater e pelo horário: cinco da manhã. O horário é o meu horário de levantar todos os dias, mesmo que me deite às três.

Adestramento “pavloviano” dos tempos de Tenente de trecho. Nem a idade apaga. Ficou instintivo. Abri a portinhola. Um susto e uma surpresa.

Um susto: quem batia era o meu último e velho Chapéu Bandeirante. Um tanto amassado, manchas de barro, carneira rota, barbela desfiando...

Uma surpresa: ele falou comigo.

–    Bom dia combatente! Há quanto tempo você não me procura! Anda sumido!

–    Bom dia! É companheiro, depois da reserva, não há como desfrutar de tua sombra! E nem usar de teu prestígio, embora reconheça em você o mais perfeito símbolo militar das Armas. Você faz parte do traje. Os demais são de uso. Desculpe, a mim e a todos: não é desprezo. É relaxo.

– Sabe que dia é hoje, estradeiro? Hoje, dia 13 de julho de 2017?

Pensei em datas nacionais e não encontrei nada.

Pensei em aniversariante da turma... nada! Aniversariante da família... também, nada!!! Mês de julho não tem feriado, pensei rápido.

–    Meu amigo de grandes e longas jornadas, por mais que eu pense não consigo me lembrar de nada: de feriado, de dia santo, de efemérides! Ajude o já ancião, que chega à casa dos setenta anos!

–    É... sinto–me esquecido. Hoje completo meio século que fui adotado na nossa Arma de Engenharia – dia 13 de julho de 1967. Você, agora velho estradeiro, ainda era “bicho” na AMAN. Aflito, aguardava resultado do “Carro de Fogo”... Naquela data, sem pompa e sem discursos, foi autorizado meu uso. Nem poderia ser diferente. Havia muito serviço em muitas frentes. Lá, quando comecei a trabalhar, tudo era muito pragmático, sem tempo para cerimônias. Você conhece bem minha história. Andou farejando sobre minha origem!

–    É claro que te conheço! Você foi incorporado no 5º BEC, por ordem do então comandante Carlos Aloysio Weber, cognominado Alemão. Tentei resgatar teu valor como símbolo. Farejei até tua chegada ao Nordeste. Na verdade, pensei que motivaria algumas autoridades para te fazer uma sagração, tanto em Porto Velho quanto nos quartéis onde te usam, de vez em quando, né? Vou te mostrar até uma fotografia onde tu foste apresentado fora do Batalhão, lá no Rio de Janeiro. Em tua homenagem, deixarei os nomes dos que te ostentavam.

Confesso que já quase não segurava as lágrimas. Senti–me um ingrato. Via nele um ícone sagrado. Desvalorizado.

–    Pois é amigo, pensei que teu aniversário fosse se transformar em uma efeméride da Arma Azul Turquesa, mas como sempre, minhas ideias acabam por ficar sepultadas em algum lugar. Eu queria que você fosse usado diariamente, como te usei no Acre e em Rondônia: no trecho, na sede, na guarda de honra, no desfile de sete de setembro... De oficial de Dia! Há coisa mais majestosa que um oficial de Dia? Mas, o que tenho visto é você ser usado apenas no Dia da Engenharia, nas formaturas. Também acho que você é pouco cultuado como Símbolo da Arma. Símbolo de trabalho, abnegação, desenvolvimento, esperança. Símbolo é o que contém uma filosofia em si mesmo. Queria que comemorassem teu aniversário. Feliz aniversário! Muitos anos de vida. Cinquenta anos são meio da vida... Quem sabe um dia se crie o teu dia! E você continua uma lenda, um ícone, um exemplo... como nos Velhos Tempos... Felicidades meu velho Chapéu Bandeirante.

–    Até outra vez... continuo no guarda roupa! Lembre que “NÃO VIVEMOS EM VÃO!”

–    Ah! Resolvi: Hoje, vou te usar o dia inteiro... pelo menos eu comemorarei teu dia.

Solicito publicação:

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: [email protected];
Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br

 

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