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Gente de Opinião

Helder Caldeira

Pasadena, PassaDilma



HELDER CALDEIRA*

Escritor, Jornalista Político e Conferencista

www.heldercaldeira.com.br[email protected]

*Autor dos livros “ÁGUAS TURVAS” e “A 1ª PRESIDENTA”.

No Brasil, ano eleitoral é punk. Niilistas de carteirinha, políticos e jornalistas ficam à espreita de alguma derrapagem à curva, algum ato-falho, alguma brecha que, num sistema dominado por extraordinários marqueteiros ilusionistas, permita a explosão de manchetes devastadoras. Pior fica quando o próprio Palácio do Planalto, ao tentar sacar mais um coelho da cartola, puxa um bode pelo chifre e o coloca no meio da sala. Neste caso, o ex-sacrossanto gabinete presidencial.

Durante todo aclamado (des)governo do ex-presidente Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores investiu maciçamente no loteamento institucional como principal instrumento de manutenção do poderio e de compra direta de apoios e sustentação política. A premissa é nascedouro de escândalos de grande monta, como o Mensalão, os Aloprados, os sucessivos achaques aos cofres públicos num dos 39 ministérios e centenas de congêneres.

Para além do impune despojamento do “mete-a-mão-na-coisa-pública”, outro reflexo dessa barbárie institucionalizada é a paulatina e sistemática desqualificação dos quadros de gestão dos serviços públicos brasileiros. Tudo isso, por óbvio, candidamente disfarçado sob o signo daquilo que convencionou-se nomear “Presidencialismo de Coalizão”. E está enganado quem acredita que a presidente Dilma Rousseff herdou tão somente o modus operandi de seu antecessor. Sua maior herança, revelada nos últimos três anos, são as nauseabundas consequências.

A Petrobras não escapou à sanha arruinadora desse modelo “ratatá” de administração, ainda que seja uma empresa estatal de economia mista, portanto, devendo transparência, satisfação e prestação de contas a acionistas e investidores privados. Esses agentes privados até toleram e alimentam a corrupção quando nela vislumbram a possibilidade de lucro. A partir do momento que o valor de mercado da empresa desce a ladeira, o preço das ações despenca e nem a “contabilidade criativa” é capaz de mascarar o monumental prejuízo, dá-se a tempestade em estrada de chão e o carro mergulha no atoleiro.

O bode estacionou no centro do gabinete de Dilma Rousseff quando um jornal paulista revelou a existência de sua rubrica na encrencada compra de uma refinaria em Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, enquanto acumulava os cargos de ministra-chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ministério Público, Tribunal de Contas e Polícia Federal “estão investigando” — expressão clichê no curto vocabulário das autoridades brasileiras — se a negociata, de fato, causou um prejuízo superior a US$ 1 bilhão (cerca de R$ 2,35 bilhões).

Compreender esse descalabro é bastante simples. Em 2005, a empresa Astra Oil — controlada pelo barão belga Albert Frére — comprou a refinaria texana por US$ 42,5 milhões. Um ano depois, os “conselheiros” da Petrobras autorizaram, por unanimidade, a compra de 50% dessa mesma refinaria por suntuosos US$ 360 milhões, quase nove vezes o valor pago pelo magnata da Bélgica. Apenas esse rastro de tatu já seria suficiente para visualizar o buraco à frente. Como acontece com assustadora frequência nesses quase 12 anos de governo do PT — ninguém sabe, ninguém viu, ninguém lê o que assina e a culpa é da “zelite” que não gosta do “izpezidenti”! —, o que já era um péssimo negócio conseguiu ficar pior. Muito pior!

Disposto a jogar na fogueira a suposta desqualificação de diretorias e técnicos da Petrobras, o Palácio do Planalto divulgou uma nota oficial informando que a presidente Dilma só foi favorável à negociata porque balizada, à época, por um parecer “falho” e “incompleto”, cujo responsável é um cidadão que, neste governo e apesar da grave constatação planaltina, ascendeu e ganhou o cargo de diretor financeiro da BR Distribuidora, cujo “Q.I.” — leia-se “quem indica” — ulula saltitante no colo de senadores do PT e do PMDB.

O tal parecer “falho” e “incompleto” — este com conveniente jeitão de bode expiatório — teria levado a Petrobras a assinar, em 2006, o contrato de compra de metade da refinaria texana com uma cláusula “Put Options” (em caso de litígio entre os sócios, um deve comprar a parte do outro). Desta forma, a justiça norte-americana decidiu, em 2012, pela obrigatoriedade de compra pela estatal brasileira dos outros 50% da refinaria pela bagatela de US$ 820,5 milhões. Portanto, por omissão ou “mentirinha eleitoral”, rende-se à desqualificação técnica o pagamento total de US$ 1,18 bilhão por uma empresa cujo valor de mercado atualmente gira em torno de US$ 118 milhões. Noutras palavras, por absoluto desleixo, o Brasil jogou no lixo mais de US$ 1 bilhão.

A primeira “presidenta”, vendida por Lula como uma competentíssima e austera “gerentona”, pode passar à história como autoridade suprassumo que colocou sua assinatura na ruína daquela que já foi a segunda maior empresa de energia do planeta. Não por acaso, a bilionária negociata da refinaria de Pasadena já ganhou a jocosa alcunha de “PassaDilma”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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