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Helder Caldeira

Filme brasileiro debate incesto gay


Filme brasileiro debate incesto gay - Gente de Opinião 
A Arte estará sempre na vanguarda de seu tempo e o Cinema nacional promete um importante passo rumo aos necessários debates que se alinham no horizonte de nossa sociedade moderna. Nas próximas semanas o público brasileiro será brindado com a estréia de “Do Começo ao Fim”, o novo longa-metragem do brilhante cineasta Aloizio Abranches, com produção de Marco Nanini e Fernando Libonati e estrelado por um elenco com nomes do calibre de Julia Lemmertz, Louise Cardoso, Fábio Assunção e Jean Pierre Noher, com destaque especial para os protagonistas Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos, que dão vida aos irmãos Thomás e Francisco na vida adulta, e os pequenos Gabriel Kaufmann e Lucas Contrim, vivendo-os na infância.

 

Em cena, o amor incondicional entre dois irmãos desde os primeiros dias de vida. E não estamos falando aqui de um amor apenas fraternal. É um filme sobre o Amor de verdade, em todas as suas acepções, tratado com extrema delicadeza e uma sensível compreensão jamais vistos no Cinema nacional. E que fique bem claro que não estamos diante de uma fábula. “O filme é o retrato de uma família que incorpora uma novidade”, perfeita tradução de Aloizio Abranches e que já dá sinais claros da serenidade e grandeza empreendidos na concepção da obra.

 

Aliás, classificar o filme como sendo de temática gay ou apenas a narrativa de uma polêmica paixão incestuosa é, certamente, apequená-lo. É fato que estamos falando de um grande tabu e de um assunto capaz de causar impacto na plateia quando o longa chegar aos cinemas. No entanto, é importante ressaltar que “Do Começo ao Fim” é uma obra-prima maior que qualquer rotulação. Sua narrativa está fundada no livre arbítrio de uma família ao compreender o Amor entre dois irmãos como uma possibilidade e a sensibilidade de permití-lo como um fundamento primeiro de civilidade, respeito e dignidade. Não é todo dia que podemos apreciar tamanha lição de vida.

 

Para se ter uma ideia de como esse delicado assunto recebeu especial tratamento, basta observar o tom poético com que a história se descortina ao público. Thomás nasce com os olhos fechados e assim permanece durante várias semanas. Sua mãe, Julieta, eixo fundamental da trama, não se preocupa e diz que “quando o filho estiver pronto, quando ele quiser, ele abrirá os olhos”. Eis que quando Thomás decide abrir os olhos, sua primeira visão é seu irmão de 6 anos, Francisco. O amor à primeira vista, esse amor romântico tão cantado em prosas e versos, ganha uma tradução cinematográfica tocante e apropriada e que permeará a emocionante história desses dois irmãos que, acima de qualquer laço, se amam incondicionalmente. São dois homens vivendo um amor libertário, cujos sentimentos estão enraizados na profundidade de suas almas.

 

Mas e a paradoxal e dogmática visão que essa impactante temática pode provocar, onde fica? É preciso deixar claro que o filme não é sobre qualquer sentimento de culpa que tal dimensão possa causar. Porém, “não deixa de apresentá-lo”, como revela a atriz Julia Lemmertz. É possível observá-lo em uma irreprimível sequência onde os já adultos Thomás e Francisco estão abraçados, deitados na cama. Francisco diz –  “Eu te amo!”  e Thomás questiona –  “E por que você me ama?” A resposta de Francisco é sonora e objetiva – “Eu te amo porque você é meu. Eu te amo porque você precisa de amor”. Quando Thomás também diz que o ama, recebe a mesma pergunta de seu irmão. Sua resposta é uma verdadeira elegia à realidade: – “Eu te amo porque, pra entender o nosso amor, seria preciso virar o mundo de cabeça pra baixo”. Tudo isso embalados pela trilha sonora de Davi Moraes. Preciso dizer mais alguma coisa?!

 

A quem interessar possa, o trailer do filme “Do Começo ao Fim” já está disponível no site da Pequena Central (www.pequenacentral.com.br), produtora de Marco Nanini e Fernando Libonati, responsável por esta obra que tem tudo para consagrar definitivamente o Cinema nacional entre os melhores do mundo e, quem sabe, até conquistar um sonhado e merecido Oscar. O trailer também está disponível no YouTube. Vale a pena conferir e aguardar com estoques de pipoca esse filme indispensável. O diretor Aloizio Abranches utiliza-se uma famosa citação de Bernard Shaw, muito pertinente a seu filme: “Algumas pessoas olham o mundo e perguntam: por quê? Eu sonho com coisas que nunca existiram e pergunto: por que não?” Só mesmo a Arte é capaz de colocar uma interrogação tão positiva em um dogma ancestral.

 

O Cinema brasileiro vem produzindo, com grata frequência, grandes obras nos últimos anos. No entanto, não é ousadia afirmar que “Do Começo ao Fim”, um marco histórico por princípio, é a produção mais ousada e sensível desde “Central do Brasil” e “Eu Tu Eles”. Num contexto internacional, o longa brasileiro promete a mesma dimensão do premiado sucesso “Brokeback Mountain” e do curta “Starcrossed”, que conquistaram plateias ao redor do mundo. Uma jóia preciosa na coroa da Sétima Arte nacional e que já é tão aguardada quanto aplaudida, além de ilustrar bem o que é e a que veio a Pequena Central. Isso sem falar na incontestável maestria de Aloizio Abranches em desnudar e compreender como poucos o que há de mais delicado e polêmico em nossa sociedade. A propósito, efusivos aplausos de pé!

 

HELDER CALDEIRA

Articulista Político – Rio de Janeiro/RJ

heldercaldeira@folha.com.br

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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