Sexta-feira, 10 de janeiro de 2014 - 06h18
Felipe Azzi
Nos chamados anos dourados, na década de cinquenta, ainda no século passado, a atividade bancária era uma excelente opção, chegando mesmo a ser carreira profissional de êxito, principalmente para os jovens da Amazônia brasileira.
A rotina diária demandava raciocínio rápido e mãos também ágeis, ora realizando somatórias em máquinas manuais ou elétricas, ora carimbando romaneios, cheques, documentos e afins, próprios do sistema financeiro. Não havia a facilidade operacional exuberante de hoje. As máquinas e os equipamentos, restritos ao seu complexo, meio mecânico – meio eletrônico, não ousavam dirigir mensagens cibernéticas a seus operadores.
O atendimento era mesmo personalizado, feito face-a-face, com seres humanos ouvindo as pessoas sempre com abundância de boa vontade e de sorrisos espontâneos. Raramente uma tromba elefantina se manifestava, mas se ocorresse, o fato logo era mitigado ao sabor do habitual cafezinho adoçado por piadas, apropriadas para a ocasião, que contorciam ventres na força do peculiar brasileiro.
Os modernistas justificam a frieza do relacionamento atual, afirmando que o mundo era outro e que os novos tempos são acelerados, impondo a filosofia os resultados, acima de qualquer postura pessoal ou coletiva. Quem recorda esses tempos é chamado saudosista, acusado de viver no passado, adepto do costume de sentir saudade de tudo. Ocorre que a saudade é uma das fontes tributárias do grande rio da história. A saudade relembra fatos e acontecimentos passados, com precisão fotográfica, tornando-os novamente vivos no imaginário das pessoas, a cada momento que são recordados. A história, então, como arcabouço de fatos e acontecimentos passados, é devedora da saudade.
Certo é que os serviços bancários de outrora evoluíam em ambiente discretamente austero, envolvendo todo o papelório, as cifras e as metas orçamentárias, culminando com a eficácia dos resultados. O seu componente principal vinha da força-trabalho humana, que tudo operava com tranquilidade e alegria, sem o fantasma da constante ameaça do desemprego. Trabalhava-se com um toque de amor ao que se fazia e com a paz interior inerente ao artífice que se ocupa na criação de sua obra.
Fatos pitorescos eram comuns na rotina dos serviços. Havia, por exemplo, um zelo ortodoxo pela pontualidade. Atrasos para o início do expediente diário raramente eram tolerados. Certa ocasião, João Teixeira subgerente da Agência do BASA em Guajará-Mirim, endureceu a questão da pontualidade, suprimindo até mesmo a tolerância regulamentar de quinze minutos com o ponto em aberto. Todos, devidamente avisados e com as “barbas de molho”, chegaram pontualmente no primeiro dia de vigência da enérgica norma. Todos, menos um: Américo Paes.
Com o expediente de trabalho já em curso, passando cerca de trinta minutos do início, chega Américo, meio sonolento, e logo é perquirido pelo subgerente com uma indagação eivada de salvaguardas complacentes, assim modulada:
– Trouxeste o negócio?
E Américo, mais para ontem do que para hoje, rebateu:
– Que negócio?
João, longe de titubear, reforçou o questionamento:
– O negócio que pedi que pegasse na tua vinda para o Banco... Esqueceste?
Américo, ainda marejando no dia anterior, ponderou, meio embaraçado, em estilo de conta gotas, mesmo sem ser gago:
– Ma... Mas... Não me pediste nada!
Houve, então, uma troca de olhares matreiros: ora entre os dois amigos, para os ponteiros do relógio acusador em parede próxima. E Américo, por fim entendendo a válvula de escape, garantiu:
– Ah... Não deu para pegar o negócio... Não estava pronto! O rapaz disse para pegar mais tarde.
Américo teve justificado o seu ponto. O fato é verdadeiro e engraçado. Mas fica a atitude positiva do valor que se dá a uma amizade, que nem relógio apressado, e muito menos normas esquálidas são capazes de abalar.
João Teixeira de Souza e Américo Paes da Silva são dois amigos de uma época que a lembrança recorda com apreço. Os dois, como muitos jovens de Rondônia, lutaram bastante para construir o futuro pessoal, numa região teimosa e obstinada, que ainda hoje é carente.
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