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Dante Fonseca

30 Anos da ACLER e posse de acadêmico correspondente


 
Por: Dante Ribeiro da Fonseca

30 Anos da ACLER e posse de acadêmico correspondente - Gente de Opinião
 

Sessão comemorativa do aniversário da ACLER na ALE/RO.

Sexta feira passada (10/06/2016) foi comemorada a passagem dos 30 anos de existência da Academia de Letras de Rondônia - ACLER. A comemoração ocorreu em sessão da Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia sob a presidência do deputado Ribamar Araújo e a presença de inúmeros acadêmicos e convidados.

Sobre a ACLER, seria repetitivo aqui destacar sua importância para Rondônia, basta dizer que acolhe a academia um número de escritores de significativo peso na vida do Estado. Historiadores, poetas, romancistas, intelectuais com o porte de Antônio Cândido, Matias Mendes, Abnael Lima, Yêdda Borzacov, Lucio Albuquerque, João Correia, Sandra Castiel, Zelite Carneiro, Dimas Fonseca, Lucio Albuquerque e outros, lidos e reconhecidos pela sociedade rondoniense. Nesses trinta anos nossa academia se consolidou. Apesar de não contar com o apoio suficiente para possuir uma sede própria, encontra seu lugar mais significativo, que não é feito de cimento nem de tijolos, mas da atividade espiritual de seus membros. Este lugar, como o prova a História, durará mais do que as expressões materiais que a vã vaidade dos tolos os impele a tão açodadamente procurar. Assim é que buscamos nossos associados entre aqueles que possam cumprir esse destino.

Foi por isso que, no ato de comemoração, tomou posse mais um acadêmico, hoje incluído no nosso expressivo quadro de correspondentes. Trata-se do Dr. Antonio José Souto Loureiro, médico e profundo pesquisador da História da Amazônia, residente em Manaus.

O Dr. Loureiro, ao longo de sua vida, tem se destacado por suas atividades profissionais, como escritor e cidadão. Na vida pública no Amazonas foi: Secretário de Saúde Interino, Presidente do Instituto de Previdência a Assistência dos Servidores do Estado do Amazonas (IPASEA), Secretário de Assistência Médica do INSS Amazonas, Chefe do Serviço de Hanseníase do Amazonas, Diretor da SUSEMI, Chefe do Gabinete do Diretor Geral do SAMDU, Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Amazonas (oito anos) e Diretor da Associação Comercial do Amazonas. Na vida cultural destaca-se: ocupante da Cadeira Cândido Rondon do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e atual presidente daquela instituição, da Academia Amazonense de Medicina (fundador), membro da Academia Amazonense de Letras, da Academia Amazonense Maçônica de Letras, sócio correspondente da Academia Nacional de Medicina (um dos cinco amazonenses a participarem da mesma, em mais de 150 anos de sua existência).

De sua produção intelectual contamos dezenas de artigos, opúsculos e dezesseis livros sobre a História Regional, a saber: Síntese da História do Amazonas, A Gazeta do Purus, Amazônia 10000 anos, A Grande Crise, O Amazonas na Época Imperial, Tempos de Esperança, Um Passeio Pelas Praças de Manaus, O Livro dos selos da Amazônia Brasileira, O Brasil Acreano, Conde Stradelli – Biografia, História da Medicina e das Doenças no Amazonas, Historia da Navegação no Amazonas e A Amazônia e o V Império. Além dos livros com temática maçônica: O Toque do Shofar I, O Toque do Shofar II, O Toque do Shofar III e Dados para uma História do Grande Oriente do Amazonas. Todos amplamente citados em obras de pesquisa acadêmica.

Em seu discurso de posse o acadêmico Antonio Loureiro faz uma visita à sua história familiar, profissional e maçônica, naquilo que ela tem em comum com Rondônia. Reproduzimos abaixo o discurso de posse do novo acadêmico e na oportunidade renovamos a ele nossas boas vindas e sinceros votos de feliz convivência entre nós.

Discurso do Dr. Antonio José Souto Loureiro no ato de sua posse como Acadêmico Correspondente em 10/06/2016 na Sessão Solene Comemorativa dos 30 Anos da Academia de Letras de Rondônia – ACLER, na Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia.

Acho que a mais antiga referência da minha família a respeito desta bela região do Alto Madeira foi a do meu tio avô Agostinho Marques de Loureiro, português do Distrito de Viseu, na Beira Alta, que para cá veio durante a construção da Madeira Mamoré Railway, na primeira década do século XX. Diferentemente do avô José Augusto, que chegou a Manaus aos 14 anos de idade, um imigrante menino, um gato de armazém, em seu trabalho semiescravo, dormindo preso no local onde trabalhava, em cima dos sacos, tio Agostinho já veio rapazola.

Entre as histórias fantásticas que contava ficou-me, na memória, a do dia em que se perdeu na mata próxima à estrada em construção, com outro companheiro, e quando chegaram ao acampamento estavam cobertos de uma lama dourada de um buraco onde caíram que logo disseram ser de ouro. Jamais reencontraram o local e lamentavam essa sua falta de sorte, quando na realidade talvez tenham apenas recebido um banho de mica, o ouro dos tolos...

Mas isto não significa esquecer os outros 75% da minha origem nordestina constituída de seringueiros, que foram trabalhar nos seringais recém-abertos de Carauari, no Juruá, de Sena Madureira, no Departamento do Alto Purus, no Acre, e do Javari, em torno da cidade de Remate de Males, que um dia desceu rio abaixo, engolida pelo fenômeno das terras caídas decorrente do tremor de terras e da enchente, produzida por um terremoto de 6,5 na escala de Richter, causados pelo impacto sobre a terra de três pedações do cometa Swift Turttle, um dos quais abriu uma cratera de 1 km de largura no rio Curuçá, um dos formadores, desse rio fronteiriço.

Mais tarde, no tempo em que Porto Velho foi a segunda mais populosa cidade do Amazonas, e em que Humaitá possuía terras, que hoje são de Rondônia, minha prima Cândida do Areal Souto, hoje nome de escola naquela cidade amazonense, foi professora normalista do Amazonas em Ji-Paraná e Jaci-Paraná, cumprindo um estágio obrigatório no Interior, que então existia, antes de irem para a capital.

Já sendo médico, na década de 1970, participei do tratamento de centenas de pessoas que chegavam a Manaus vitimas da terçã maligna, que então pandemicamente atingira os trabalhadores que estavam abrindo as rodovias Manaus-Porto Velho e Humaitá-Lábrea.

Esses foram os meus contatos iniciais com esta terra.

Levei mais uns 20 anos para chegar até aqui, em uma passagem, para visitar Humaitá, conhecer os campos de Puciari, um trecho do cerrado do Brasil Central, em plena Amazônia, e a nossa querida Loja Maçônica, daquela cidade, nas minhas andanças de candidato às eleições de Grão Mestre do Grande Oriente do Estado do Amazonas, cargo para o qual fui eleito, para dois mandatos consecutivos (1995-2003) e um posterior (2007-2011), onde conheci um dileto amigo o Grão Mestre Euclides Sampaio Froes, que por várias vezes convidou-me para participar de eventos maçônicos aqui realizados.

Desde então tenho acompanhado o progresso desta terra e da sua gente, que serve de exemplo para toda a região.

Vivi, na realidade, uma vida dedicada àquilo do que mais gostei, além da minha família é claro:

Em primeiro lugar à Medicina por mim exercida, diuturnamente sem descanso nos ambulatórios e no Hospital da Sociedade Beneficente Portuguesa do Amazonas, em uma época em que não existiam médicos suficientes, em Manaus, e em que praticamente dávamos plantões ininterruptos, com poucas horas de descanso, principalmente no meu caso. Infelizmente as mudanças de regras constantes, os novos relacionamentos médico-pacientes e a transformação da medicina em uma profissão escrava e mantenedora do Estado Social, além da idade que chega inexoravelmente e nos neutraliza fisicamente e de vivermos em uma região, que nos leva à perda da modernidade, pela falta da troca de ideias, deixei de pratica-la com tristeza, por volta dos 50 anos de idade.

Em segundo lugar à Maçonaria onde aprendi a domesticar o meu espírito impulsivo, conseguindo temperá-lo com ensinamentos válidos há milhares de anos. Com ela aprendi a ser mais tolerante, adquiri virtudes e pedi muitos vícios, embora muitos deles ainda carregue, por serem extremamente difíceis de serem eliminados do nosso comportamento humano, mas depois de identifica-los, fica mais fácil vencê-los.

E finalmente à História, e dentro dela a História Amazônica, sobre a qual já publiquei mais de uma dezena de livros, e a Maçônica, com três livros publicados, além de outros seis prontos para serem editados.

Não quero me tornar enfadonho nesta data de hoje, em que a Academia de Letras de Rondônia completa 30 anos de evolução. Venho como membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, que presido, ocupando a Cadeira nº. 13, que tem por Patrono Candido Mariano Rondon e como membro da Academia Amazonense de Letras, na Cadeira nº. 34, onde tenho por Patrono o etnólogo italiano conde Ermanno Stradelli, um mártir do Direito, na Amazônia, apresentar os parabéns daqueles dois sodalícios, que completarão o centenário em 2017 e 2018 respectivamente. Também trago as congratulações da Academia Amazonense Maçônica de Letras e da Academia Amazonense de Medicina, das quais também sou membro efetivo.

Estou extremamente honrado por ter sido convidado para sócio correspondente dessa vossa Academia, nessa auspiciosa data que espero seja comemorada através dos tempos, graças à magnanimidade de seus valorosos membros, que tanto honram o Estado de Rondônia, com suas iluminadas mentes.

Porto Velho, 10 de junho de 2016.

Antonio José Souto Loureiro

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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