Domingo, 1 de junho de 2025 - 07h55
Mais uma obra vem compor o rol daquelas
dedicadas a eventos históricos/literários ocorridos em Porto Velho, trata-se do
livro “A representação do homem nas poesias publicadas no jornal Alto Madeira
(1917-1945)” do prof. Dr. João Guilherme Rodrigues Mendonça (Porto Velho:
Temática, 2024, 288 p.).
Mas, antes que falemos sobre a obra vamos falar
da trajetória acadêmica do autor. O prof. dr. João Guilherme é docente titular
da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Pós--doutor em Sexualidade pela
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp);
Pós-doutor em Educação Sexual pela Universidade Estadual Paulista "Júlio
de Mesquita Filho" (Unesp); Doutor em Educação Escolar pela Faculdade de
Ciência e Letras de Araraquara (Unesp). Mestre em Educação Física pela
Universidade Gama Filho. Especialista em Gestão Escolar e Psicomotricidade.
Graduado em Educação Física e Psicologia. Atua há mais de 36 anos no Ensino
Superior na Universidade Federal de Rondônia em atividades ligadas à docência
nos cursos de graduação em Educação Física, Educação Especial, Psicologia e
Pedagogia. Docente do Doutorado e Mestrado Profissional em Educação Escolar
(PPGEEProf) e no curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Infantil/UNIR.
Membro do Grupo Educa - Grupo de Pesquisa Multidisciplinar em Educação e
Infância, Membro do Grupo de Pesquisa em Educação Infantil, Programa Infância e
Educação Especial e Inclusiva (Gepein) e do Núcleo de Estudos da Sexualidade
(Nusex) - Unesp.
Atribuiu-me o autor a honrosa e agradável
tarefa de prefaciar esta originalíssima obra, sobre a qual teci as
considerações que seguem. A vida nos presenteia sempre com gratas surpresas,
uma das mais recentes que recebi foi o convite do professor João Guilherme
Rodrigues Mendonça para apresentar seu livro intitulado “A representação do
homem através de poesias no jornal Alto Madeira: 1917 a 1945”. De duas a três
décadas é o período que conheço o professor dr. João Guilherme do Departamento
de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia – UNIR, instituição onde
também presto meus serviços no Departamento de História e também já por algumas
décadas.
Sempre nutri pelo João Guilherme um conceito
muito positivo, seja pelo seu comportamento impecável, que se exige para os
misteres da docência, seja pelo progresso e realizações alcançados por ele na
carreira do magistério. Apesar disso, estanquei surpreso ante a esta
originalíssima contribuição intelectual no contexto do cenário das pesquisas
regionais, a qual fui convidado a apresentar, um estudo sobre a poesia
masculina nas páginas do Alto Madeira. A surpresa foi provocada pela obra, que
desconhecia existir, e pela temática, inusitada nesses tempos saturados de
feminismo. Bem, o homem sofre também todas as agruras a que está sujeito o
outro sexo e mesmo gêneros existentes, possíveis e imagináveis, embora nem
sempre da mesma maneira. É que não se passa pela vida sem que se experimente
inúmeras vezes uma gama de sentimentos que são tão comuns ao gênero humano que
esse fenômeno foi expresso de várias maneiras. March Bloch, o grande
historiador francês do século passado, perguntou-se como poderia ele, um homem
europeu que viveu na transição dos séculos XIX ao XX compreender povos e
culturas diferentes da sua. A resposta veio a seguir: podia compreender porque
era humano, como os homens e as sociedades que estudava. Havia de comum entre
ambos a essência da humanidade, um conjunto de percepções e sentimentos que,
embora expressos de diferentes formas, manifestavam a mesma substância, pois
derivados do instinto de sobrevivência que nasce com todo o ser humano. Assim é
também na poesia. Por isso, o amor, o ódio, a cobiça, a inveja, a admiração, o
rancor, a vaidade, a vingança, como outros sentimentos, e seus opostos, são
encontrados essencialmente em todas as sociedades e todos os tempos e fazem
mover a roda da história. Antes mesmo de Bloch, o filósofo Thomas Hobbes
afirmou mover a vida do homem dois sentimentos: a luta pelos bens materiais e o
sentido de honra, ou seja, muito simplificadamente a cobiça e a vaidade. Que
haja uma ideia metafísica nessa proposição bem o sei, mesmo nas primeiras
proposições dialéticas encontramo- la, embora oculta. O famoso fragmento do
filósofo grego pré-socrático Heráclito de Éfeso (século V a.C.) declara que: No
mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos, explicitando a regra da
eterna mudança, entrar e não entrar, ser e não ser. Mas, como explicar o
paradoxo contido na declarada mudança convivendo “no mesmo rio”? Algo permanece
e algo muda.
É desse conjunto que alterna permanência e
mudança que se alimenta a poesia. Daquelas causas cujo resultado mais comum é o
sofrimento, de tal forma ligado à existência que reza o ditado popular: quem
passou por esta vida e não sofreu, passou por essa vida e não viveu. Há também
outros, o senso estético, esse sim, visivelmente mutável, que faz cantar a
beleza. É então esse conjunto principal de sentimentos que inspira as musas a
transmitir-lhes, aos seus arautos, os poetas, e torna a poesia eterna.
A obra ora apresentada permite-nos ver sua
expressão histórica e poética nesse pequeno rincão de nossa pátria, na Rondônia
que principiava a existir em 1917 e que se tornou Território Federal do Guaporé
em 1943, através do mais duradouro jornal que nela existiu, o Alto Madeira, que
completou cem anos em 2017 e naquele mesmo ano encerrou suas atividades. Bem,
cremos não ser absurdo adotar para a imprensa naquela época existente o título
de “imprensa da borracha”, como alguém alhures já o fez. Realmente, no período
coberto por essa obra realmente dominaram nos interesses econômicos na região
do Alto Madeira a produção e o comércio da borracha. Em 1917 a exportação da
borracha amazônica estava em plena decadência, em 1943 experimentou um breve
renascimento, encerrado com o final da Segunda Guerra Mundial em 1945. Esse
período será explorado no capítulo 2, a saber: as notícias do Alto Madeira quando
ainda não existia o Território do Guaporé, embrião do futuro estado de
Rondônia.
Mas, devemos nos perguntar: quem foram esses
homens? Primeiramente, é importante frisar, que tratamos aqui de homens e, como
pode parecer óbvio, da elite letrada. É que em um Brasil onde mais da metade da
população era analfabeta, e onde às mulheres era concedido em menor quantidade
que aos homens o privilégio de ter acesso à alfabetização, não estranha o fato
de que a esmagadora maioria dos poetas apresentados no jornal seja de homens.
Ás mulheres pouco restava, seja em contribuição ao jornal, seja como leitoras,
seja como tema poético e jornalístico. Isso falando apenas em sexo, quando o
assunto é gênero inexistia, como ainda hoje pouco se vê, poesias feitas por e
para essa qualidade de pessoas que se enquadram de forma diferente no eixo
entre o masculino e o feminino. Era, realmente, uma sociedade patriarcal. Quem
eram esses poetas? O capítulo 2 relaciona algumas dezenas deles, tanto
residentes em Porto Velho como de outras regiões do País, como Olavo Bilac. Dos
poetas regionais faz um surpreendente estudo biográfico. Nesse capítulo os
conhecedores da História de Rondônia serão tomados de surpresa ao encontrar
nomes conhecidos da sociedade, tanto pela sua atuação jornalística,
profissional, política ou econômica. Tomemos como exemplo o Dr. J. Ferreira
Sobrinho, que foi prefeito de Porto Velho de 07 de agosto de 1933 a 1º de
janeiro de 1938.
Quais os sentimentos dirigiam sua poesia?
Quanto à temática, varia, como variados são os impulsos que conduzem nossos
sentimentos. A temática aqui é vasta, poemas patrióticos, nostálgicos,
filosóficos, religiosos, de amor à mulher amada ou à mãe, satíricos, enfim uma
ampla gama de inspirações. Buscam expressar aspectos da vida, reflexões e angustias
de seus autores.
Elaborou enfim o professor Dr. João Guilherme,
um exaustivo estudo e compilação da expressão poética masculina nas páginas do
Alto Madeira nas décadas iniciais de formação de Porto Velho. De sua leitura
resta-me recomendar a obra a quantos se interessem pela História e Literatura
de Rondônia. Ao amigo e irmão João Guilherme, cidadão livre e de bons costumes,
resta-me agradecer pela oportunidade de apresentar seu inestimável trabalho.
Porto
Velho, 05/12/2024
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