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Confúcio Moura

Confúcio Moura: Crônica da insônia


Ontem, noite adentro, andei envolvido com bolos e tortas. Também, de casa cheia, aniversário da minha filha mais velha, a Bárbara e no revolto de uma casa acostumada ao silêncio, brutal encontro com o burburinho de meninos chorando, tomando banho, cantigas de ninar, bolo no meio da mesa, canto e palmas de parabéns.

Vinha de um dia longínquo, de vôos distantes, de madrugadas maldormidas, como num sonho impossível de atravessar o Brasil numa geringonça metálica que de tão rápida ainda se quer, de agora em diante, o traslado instantâneo. Ainda é pouco o avião. Cem anos atrás as travessias eram feitas pelos tropeiros, que da mesma forma, conheceram e exploraram riquezas no Brasil profundo de esmeraldas e sonhos.

Entrei na noite, derrubado pelo cansaço, televisão acesa e acordei pela madrugada com vontade imensa de escrever alguma coisa, que bem não sabia o que seria. Talvez dizer de sentimentos, fluírem astúcias, olhar pela janela e ver a cidade através das paredes, de portas fechadas, de luzes apagadas, de fino tremeluzir de folhagem, da ausência de cães, de gatos miando, de ser uma sentinela da noite de Natal.

Se de nada for verdade, nem significado tiver, nem causa e somente simples efeito, por si só se basta o Natal, que além de compras, de dar e receber, um abraço fugaz, um beijo quem sabe, só de dizer feliz e feliz já se basta, quando ano inteiro, quase sempre, ninguém diz, feliz e feliz.

Aqui em casa, tenho um quartinho, por enquanto só meu, onde desleixo impera, livros, revistas, jornais, um computador, uma cama, um ventilador, que mesmo assim, logo percebo quando se mexe em qualquer coisa, gavetas, chinelos, recados escritos em guardanapos, um lápis ou esferográfica. Já ganhei de presente caneta Parker e até Mont Blanc. Logo perco. Adoro a singeleza eficiente da caneta esferográfica.

Estou conformado que assinarei a minha próxima posse, como a tantas outras assinadas, igualmente esferografada. E me dou por feliz e satisfeito.

E desta forma, aqui estou escrevendo, puxando assuntos importantes para manchar o papel e me veio pela janela aberta à lembrança do Roberto Ramos, o Robertão, que semana passado criou asas e voou para este universo imutável. Robertão me acompanhou por toda a minha lida política, mesmo antes de pensar em candidaturas, ele, eu e muitos outros abnegados devotos da oposição. Foram-se os anos oitenta, noventa e dois mil sempre juntos correndo o Estado na pregação de idéias, mandatos e eventos políticos.

Só nesta eleição ele não teve mais condições físicas de me acompanhar. Ninguém nasce pronto na política e nem se faz vereador ou governador de uma hora pra outra. O homem vai se moldando na jornada, na lida, na vivência. E pelo tempo de estrada, pelo tempo de jornada, de automóvel, lombo do burro, nos barcos nos rios, nas dormidas em redes. A este esforço vai-se dando um ponto, um ganho, uma razão de ser. Por tudo que se pratica é que se plasma o homem público. Robertão sempre ao lado, sem resmungar, sem maldizer, como um guerreiro, movido pela causa, seguia para onde nem ele e nem eu sabíamos definir o ponto de chegada.

E assim dizendo, sem saber o que escreveria na madrugada silenciosa, por fim, encontrei razão de sobra para comemorar o meu Natal. E ainda não tendo, não sendo, simplesmente prometendo ser Governador de Rondônia, quero devotar este mandato do futuro, inteiro, como um presente a este ser humano extraordinário, que foi meu inseparável amigo de jornada – Roberto Ramos.

Fonte: Blog do Confúcio
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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