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Abnael Machado

Cem Anos da Comissão Rondon (1909/2009) - 3


 

Cem Anos da Comissão Rondon (1909/2009) - 3 - Gente de Opinião

SEÇÃO NORTE
Exploração do Rio Jaci-Parná (1909)
            
A seção Norte organizada no Rio de Janeiro, constituída por 25 expedicionários sob o comando do capitão de artilharia, Manuel Teófilo da Costa Pinheiro, assessorado pelo Tenente Amílcar Armando Botelho de Magalhães, o inspetor dos telégrafos Francisco Xavier Junior e o médico Dr. Pulo Fernandes Santos, incumbida pelo coronel Rondon, de proceder a exploração do rio Jaci-Paraná, estabelecer acampamento em sua cabeceira, neste estocar viveres, vestuários e medicamentos destinados a socorrer os componentes da Seção Sul procedentes do Juruena percorrendo milhares de quilômetros de selva, que certamente chegariam aí exaustos, doentes, famintos e debilitados. Chegou ao povoado de Santo Antonio do Alto Madeira via fluvial, subindo o rio Amazonas e rio Madeira, a partir de Belém-do-Pará, prosseguindo o rio Madeira acima, com destino ao rio Jaci-Paraná em dois batelões, um com capacidade de transportar 4 toneladas e outro 1,5 toneladas além de duas canoas.
 

 
Agosto de 1909
 
 
Dia 18
Os expedicionários chegaram na foz do rio Jaci-Parná, iniciando sua subida com dificuldade devido a vazante e a velocidade da correnteza, avançavam lentamente por todos restantes dias do mês de Agosto.
 
Setembro de 1909
 
 
Dia 02
Encontravam-se a 137 quilômetros da foz, haviam passado pelo barracão sede do seringal Esperança, eram 16 horas, quando ouviram gritos de socorro provenientes da canoa que seguia na frente, com rapidez acudiram, reembarcando dois homens que se debatiam na água, repetindo: “são os índios!” O tenente Amílcar, o único que estava armado com sua carabina disparou tiros para o ar, afugentando os atacantes índios Caritiana. Na canoa, alvo do ataque, encontravam-se feridos Dr. Paulo Santos, com três flechadas no braço esquerdo causando grandes ferimentos e uma no abdômen com menor gravidade. Outro ferido Eugenio Martins Afonso atingido de leve na coxa esquerda e o terceiro ferido, Jose da Silva, caiu no rio, foram feitas buscas para encontrá-lo, como já começava a escurecer, resolveram acampar para prestar assistência aos feridos.
Dia 03
Foram equipados duas canoas, uma para procurar o desaparecido e outra para levar os dois feridos ao barracão do seringal Esperança, solicitar auxilio para conduzir a Sato Antonio, de onde seguiram para Manaus. A primeira retornou à 15 horas trazendo o cadáver de Jose da Silva, o qual apresentava um profundo ferimento de flecha na costela. Com pesar, foi sepultado na barranca do rio. Sua morte produziu grande pavor no pessoal, a partir daí em diante seguiram sem contar com assistência médica, tendo o comandante decidido que quem adoecesse retornaria a Santo Antonio, assim dos 25 expedicionários apenas 12 chegaram ao ponto final da exploração.
Os trabalhos para alcançar a cabeceira do Jaci, vencendo corredeiras e em algumas descarregando as embarcações e puxando-as a sirga. Nas inúmeras cachoeiras eram abertos varadores contornando-as e por estes eram arrastados as embarcações e transportados nas costas os víveres e os equipamentos. Percorrido 195,7 km acamparam próximo a cachoeira criminosa deixando o batelão e construindo uma canoa. Estabeleceram de modo escalonado de distancia a distancia depósitos de gêneros para reduzir a carga das canoas facilitando suas flutuações no rio cada vez mais raso e obstruído por pedras e pedregulhos. Ao  atingirem 204 km de exploração chegaram ao barracão do seringal 02 de Junho.
 
Outubro de 1909
 
 
Dia 18
Chegaram ao barracão União do Boliviano Fidel Claure Baça, a 252 km da foz, estabelecendo um depósito de gêneros alimentícios, prosseguindo para o seringal Santa Cruz o ultimo existente, a partir daí começava a zona totalmente selvagem. Não havendo mais condições de navegação, deixaram as canoas neste seringal, seguindo por terra abrindo uma picada de 36 km, no final da qual acamparam. Continuaram a abertura do varadoro atingindo 328 km de levantamento do rio Jaci-Paraná.
 
Novembro de 1909
 
 
Dia 20
Assentaram o acampamento de Campo Grande em frente a cachoeira do mesmo nome a expedição que estava reduzida a dez expedicionários, ali permaneceram aguardando a chegada do pessoal da Seção Sul.
Dos estudos realizados foi constatado que as cabeceiras do rio Jaci-Paraná conforme constavam nas cartas geográficas, no ponto em que o paralelo 10º é cruzado pelo meridiano de 20° a Oeste, na realidade ali passa o rio Jamarí. O paralelo 10° de latitude Sul, atravessava o Jaci-Paraná, após o meridiano 21º de longitude Oeste. Como já ficou citado esse erro dos mapas, exigiu a reformulação do projeto do percurso da linha telegráfica e o coronel Rondon com seus comandados se dirigem ao Rio Madeira descendo o rio Jamarí.
 
Janeiro de 1910
 
 
Dia 22
Receberam o despacho do Coronel Rondon autorizando-os a levantar o acampamento e se dirigirem para Santo Antonio e daí para o Rio de Janeiro.
Dia 26
Deixaram o acampamento de Campo Grande, após cinco meses e oito dias de permanência no vale do Jaci-Paraná.
 
Fevereiro 1910
 
 
Dia 12
No Rio de Janeiro o capitão Manual Teófilo da Costa Pinheiro, dava por concluídos os trabalho de exploração e levantamento do rio Jaci-Paraná e dissolvia a Seção Norte da 3ª Expedição da Comissão Rondon.

 
Cem Anos da Comissão Rondon (1909/2009) - 3 - Gente de Opinião

Conclusão
            
O epopéico trabalho realizado com denodo de ingentes sacrifícios, pelos expedicionários da Comissão Rondon nas selvas do Noroeste e Norte de Mato Grosso, não foram em vão, alcançaram os objetivos propostos pelo Presidente da Republica, Dr. Afonso Augusto Moreira Pena, os ultrapassando efetivando muitos empreendimentos não previstos. Os serviços de maiores relevância geopolítica, econômica e social para a Amazônia, continuam surtindo seus efeitos positivos em prol do seu progresso e desenvolvimento. A exemplo do ocorrido no espaço fisiográfico atualmente limitado pelo estado de Rondônia, no qual atuaram. Ao longo do caminho aberto, dos postos telegráficos implantados surgiriam sedes de seringais, pequenos núcleos agrícola e pecuários (José Bonifácio, Vilhena, Barão de Melgaço, Pimenta Bueno, Presidente Hermes (Muqui), Presidente Afonso Pena (Jí-Paraná), Jaru, Ariquemes, Caritiana, Bom Futuro, Curitiba, Jamarí (Cachoeira do Samuel), Santo Antonio do Rio Madeira¹, Jaci-Paraná², Abunã³ e Esperedião Marques) muitos dos quais evoluíram transformando-se em modernas e prosperas cidades. A picada de quarenta metros de largura no eixo da qual se assentavam os postes dalinha telegráfica serviu de base para construção da rodovia interligando Cuiabá/MT a Rio Branco/AC, indicada a ser construída, ao governo da União, em 1915 por Roquete Pinto um dos integrantes da Comissão Rondon, efetivando-se esse empreendimento de inestimável importância, a rodovia BR 29/BR 364, para a integração nacional, estratégica e fomentadora da expansão econômica e comercial, interna e externa com as nações vizinhas, em especial aos do ocidente sul-americano, à do Caribe e à da Ásia oriental. Obra realizada pela coragem, pela visão do futuro e compromisso com à pátria, do estadista Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente da republica, homem da estipe, envergadura e intrepidez do Marechal Candido Mariano da Silva Rondon.
            
Rememoramos os feitos da Comissão Rondon a fim de resgatá-los e preservá-los, de homenagear os seus audazes integrantes, aos quais Rondônia com justiça, como pleito de reconhecimento deve os exaltar neste centenário e sempre.

1 - Santo Antônio sede de Sesção Norte da Linha Telegráfica Mato Grosso/Amazonas, já existia fundada como missão religiosa em 1728 pelo padre João San Payo.
2 e 3 - Surgiram com a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré (1907/1912).
 
Abnael Machado de Lima
Ex-Professor de Historia da Amazônia/Universidade Federal do Pará
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia
Membro Fundador da Academia de Letras do Estado de Rondônia

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