Sábado, 5 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônia Especial

O início do fim: novo estudo alerta sobre o declínio do cultivo de peixes na Amazônia

Estudo inédito do Instituto Escolhas prevê um crescimento de apenas 4,6% para a piscicultura amazônica até 2034, se nada for feito para mudar a situação atual.


O início do fim: novo estudo alerta sobre o declínio do cultivo de peixes na Amazônia  - Gente de Opinião

O cultivo de peixes nativos na Amazônia não tem recebido a merecida atenção dos governos federal e estaduais, considerando seu potencial econômico e baixo impacto ambiental. É o que mostra o novo estudo do Instituto Escolhas, “Solução debaixo d’água: o potencial esquecido da piscicultura amazônica”, lançado nesta quinta-feira (08/08), que traz um levantamento inédito sobre o atual panorama da piscicultura de espécies nativas nos nove estados da Amazônia Legal.

O mapeamento geoespacial identificou 76.942 hectares de lâmina d’água naquela região e 61.334 empreendimentos de piscicultura – um número 39% maior do que mostra o Censo Agropecuário. “A ausência de dados robustos e atualizados do setor, que envolvam mais do que o volume de produção, foi um dos grandes desafios da pesquisa e já é um sinal, por si só, da pouca atenção recebida pela piscicultura por parte do poder público”, pontua Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas.

Segundo o estudo, o cultivo de peixes nativos da Amazônia é viável economicamente, tem a vantagem de usar até 10 vezes menos espaço para produzir a mesma quantidade de carne que a pecuária extensiva e pode gerar uma renda significativa – especialmente para os pequenos produtores, que respondem por 95,8% das propriedades mapeadas. Para isso, no entanto, a atividade precisa alcançar novos mercados para se manter relevante regionalmente e ganhar competitividade no cenário nacional.

“Um avanço consistente no mercado nacional depende da resolução de dois gargalos: solucionar os problemas responsáveis pela baixa produtividade, como a falta de acesso à assistência técnica adequada, e aumentar a produção, que oscila entre 160 mil e 175 mil toneladas anuais desde 2015. Para efeito de comparação, somente o estado do Paraná, maior produtor de peixes do país, produziu 150 mil toneladas em 2022”, afirma Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas. O estado de Rondônia detém a liderança da produção regional, tendo produzido 57,2 mil toneladas, também em 2022.

De acordo com a pesquisa, os empreendimentos de piscicultura na Amazônia têm, em média, 19% de área inativa. Esse percentual chega a 20% nas pequenas propriedades. Isso acontece porque, no atual contexto de pequena produção e baixa produtividade, o investimento necessário para manter os tanques ativos não compensa. Os estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima foram diagnosticados com baixa produtividade (2,5-4,9 toneladas de peixe/hectare/ano). Isso significa que eles poderiam aumentar a produção local sem expandir a lâmina d’água, apenas combinando a reativação das áreas não usadas com estratégias de aumento da produtividade, como assistência técnica e o uso de ração e alevinos de melhor procedência.

O acesso ao crédito, que poderia mudar essa realidade, emerge como mais um gargalo, principalmente devido à necessidade de regularizar o empreendimento para acessar o recurso. Em 2022, pouco mais de R$ 189 milhões (ou 28,4% do total nacional) foram efetuados em operações de crédito para custeio de piscicultura na Amazônia Legal. Em termos de investimento, os estados da Amazônia Legal participaram apenas com R$ 5,3 milhões ou 10,5% em relação ao total nacional.

Além da falta de dados, da saturação do mercado regional e da baixa produtividade decorrente da ausência de assistência técnica e infraestrutura, outros dois fatores ajudam a explicar a situação atual da piscicultura amazônica: o desinteresse dos governos estaduais e federal em reconhecer o potencial da piscicultura e investir no setor e o marco regulatório defasado de alguns estados. Combinando as tendências atuais verificadas em cada estado, o estudo prevê um crescimento de 175 mil toneladas para 183 mil toneladas nos próximos dez anos, ao fim dos quais, o setor terá crescido apenas 4,6%. 

“Temos milhares de pequenos piscicultores na Amazônia que se mantêm atuantes apesar da falta de acesso à assistência técnica e infraestrutura e da ausência de visão dos governos locais sobre o potencial dessa cadeia produtiva e sua importância no contexto regional”, finaliza Leitão. 

Leia a íntegra do estudo aqui.

Gente de OpiniãoSábado, 5 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Rondônia concentra índices alarmantes de Conflitos no Campo no país em 2023

Rondônia concentra índices alarmantes de Conflitos no Campo no país em 2023

No dia 05 de agosto, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lança a 38a edição da publicação Conflitos no Campo Brasil, apontando o balanço dos dados da

Semeando Sustentabilidade e demais projetos plantarão mudas de espécies ameaçadas em todo o Brasil

Semeando Sustentabilidade e demais projetos plantarão mudas de espécies ameaçadas em todo o Brasil

O projeto “Semeando Sustentabilidade”, em conjunto outros 17 projetos ambientais, plantarão mais de 3000 mudas em várias regiões do país no próximo di

Florestas na Amazônia pós-fogo demoram sete anos para recuperar funções

Florestas na Amazônia pós-fogo demoram sete anos para recuperar funções

Florestas da Amazônia degradadas pelo fogo recuperam sua capacidade de bombear água para a atmosfera e absorver carbono em sete anos. Mas o que se p

Genoma do Pirarucu: Identificados genes ligados à diferenciação sexual em pirarucus

Genoma do Pirarucu: Identificados genes ligados à diferenciação sexual em pirarucus

Por meio de um projeto colaborativo, cientistas brasileiros e alemães sequenciaram e analisaram o genoma do pirarucu (Arapaima gigas), espécie amazôni

Gente de Opinião Sábado, 5 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)