Sexta-feira, 10 de outubro de 2025 - 11h30
Não se lê uma frase como essa impunemente. Por
mais que a leitura do livro revele uma autora muito diferente de nós – que
lemos e que escrevemos esse relato –, uma pessoa que ria da vida com fome do
espírito das letras, que matava a angústia e a fome do corpo lendo e
escrevendo, que não se resignava ao sofrimento, por mais que o livro mostre uma
pessoa forte, em busca da vida em meio à lástima, mais alegre do que triste
(até nisso diferente de nós), não há como ler a descrição da filha pedir
comida, sem se abalar.
Se
há algum sentimento dentro de quem lê, se não é um ato mecânico, se quem lê tem
algum sintoma de interação e de empatia, há que se comover com a fome de uma
criança pobre e faminta. Talvez se possa ler esse texto que escrevemos de forma
mecânica, sem muito entusiasmo – o que é compreensível –, porém, a leitura
dessa frase, se não se vai ler o livro todo, não pode ser uma confissão de
nossa frieza emocional e social.
Que
se pense o mais básico, o mais simples de se entender, afinal, qual criança
pediria à própria mãe para ser vendida a fim de que pudesse comer? Não se trata
apenas do retrato de uma criança pobre, de uma criança famélica, sem noção
correta, consciente, do que veio pedir à mãe. Isso é certo, mas a honestidade
da mãe que não a vendeu e a sinceridade da menina deveriam bastar para que nos
comovêssemos.
Quem
lê isso tem a certeza de que as crianças pobres e famintas não têm um dia para
si. Para milhões de crianças nessa situação não existe Dia das Crianças, porque
todo dia é dia de fome e de sofrimento. Sempre serão dias contra as crianças.
O
que nos faz pensar o tanto que nossa sociedade está anestesiada, historicamente
dormente, indiferente aos que passam fome e todo tipo de desalento, quanto
vemos as chamadas as vorazes elites, muito mais do que famintas, para alimentar
seu capital.
Nem
se trata aqui da corrupção que corrói a cultura, a esperança, a confiança no
ser humano, uma vez que isso seria considerado “excessivamente acadêmico”. Não,
nem falemos da corrupção que, como formigas insaciáveis, cortam todas as folhas
que poderiam levar alguma seiva de verdade e vida.
Não falemos de quantas crianças morrem de fome
ou de doenças – até não muito complexas – porque não há profissionais de saúde,
remédios, equipamentos, vacinas, prevenções suficientes em suas regiões. Não
falemos disso...
Falemos
dessa criança que queria ser vendida para ter o que comer. Falemos que não é um
livro de ficção, um romance inventado pela cabeça de alguém com tempo de
escrever; falemos que é mais do que um livro, é um diário. Trata-se de um
registro efetivo, realista, com as impressões registradas a partir dos
sentimentos e das vivências daquelas pessoas. A história desse povo brasileiro
não é romanceada, não é uma crônica, não, não é nada disso. É somente a
descrição da dor.
Falemos
que nenhuma criança deveria ter um dia assim.
Falemos
que todas as crianças merecem um Dia das Crianças que as alimente de fato.
Falemos
que toda criança tem o direito de não sofrer por abandono, violência, abuso,
fome, vítima da maldade ou da corrupção pública.
É
um direito humano das crianças não terem um faminto Dia das Crianças, a não ser
que estivessem famintas de vontade de brincar.
Se
houve incômodo nesta leitura, assim como ainda fico abalado com o livro, que é
um diário da dor pessoal e social, digo que é ótimo – digo que poderemos,
juntos, comemorar o óbvio. O óbvio é sentir a dor do outro, da outra.
Por
fim, se você puder ler esse relato que fiz de mim mesmo no dia 12, domingo, no
Dia das Crianças – e se ainda indicar para alguém como nós dois –, aí, sim,
teremos saído um pouco dessa obviedade que se transformou a vida moderna deste
país indiferente às pessoas.
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