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Vaticano trava a protestantização da igreja católica na Alemanha


António CD Justo - Gente de Opinião
António CD Justo

Comissão sinodal permanente pretendia o Primado político sobre o espiritual

O Vaticano dirigiu uma carta dura (16.02) à Conferência Episcopal Alemã impedindo os bispos da criação de uma Comissão Sinodal permanente. Este seria um órgão supremo de governo das dioceses alemãs. Nele bispos e leigos teriam paridade de voto; na prática a Comissão permanente sobrepunha-se ao múnus episcopal e desta forma anulava a função petrina declarada no Evangelho. Indiretamente corresponderia à institucionalização de uma igreja nacional que levava a Igreja Universal a um Beco sem Saída ou a criar-se um cisma...

Para Dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal, a proibição expressa pela instrução da Santa Sé foi, no dizer dele, “um soco no estômago” obrigando-o a tirar da agenda o ponto relativo ao Conselho Sinodal!...

... seria introduzido na Igreja Católica o processo de sua protestantização pela porta do cavalo! ...

No cristianismo, o protestantismo está mais focado na mente – uma característica de caracter mais nórdica – e o catolicismo está mais focado no coração (atitude) – uma característica mais acentuada no Sul! Numa época em que o sul global se encontra em desenvolvimento corresponderia a uma falta de visão continuar a afirmar o racionalismo nórdico como a única forma de orientação.

O movimento reformista pretendia introduzir decisões que estavam fora do direito canónico, de modo a que a igreja local (alemã) tomaria decisões determinantes do próximo encontro do mundo católico em Roma....

Mesmo em termos progressistas esta medida corresponderia a colocar o carro à frente dos bois porque o primeiro passo normal seria liberalização do celibato e a criação do diaconado para mulheres e, assim, incluir as mulheres no clero...

O sector político-social democrático queria aqui impor-se sobre o caracter da comunidade de fé, e provocar assim o abandono da teologia e da tradição para se dar uma sujeição à sociologia e a um espírito do tempo que passam como outros anteriores passaram...

A Igreja católica é universal e grande modelo até para as estruturas políticas a nível global. Também por isso, a Igreja e a sociedade devem distanciar-se da absolutização do racionalismo ocidental para se tornarem abertas a visões mentais não científicas e a mundivisões de outras civilizações de caracter menos racionalistas. Essa fixação exige comportamento autoritário e desumano. Também deveria ser permitido não questionar tudo de acordo com as regras geralmente aplicáveis (aqui a esquerda teria bastante para recuperar!). Isso abre a oportunidade de adquirir conhecimento e a capacidade de ver e discutir além das fronteiras disciplinares ou de sistemas...

Os problemas sérios que hoje se manifestam entre bispos católicos alemães e o Vaticano são uma amostra em ponto pequeno da luta cultural em que nos encontramos hoje no mundo secular de maneira sub-reptícia a nível político de luta entre civilizações e ideologicamente entre socialismo e capitalismo...

Deixar-se-ia de compreender a função da teologia e o envolvimento teológico-sociológico na sociedade e na Igreja. O diálogo e a  discussão teológica ao longo dos tempos, foram as melhores formas de possibilitar a integração dos sinais dos tempos na pastoral sem perder o caracter individual da fé enquanto a nova criação se revela como um nascimento de cabeça submetendo o magistério da igreja  a ordens e orientações de caracter administrativo e sociológico, à margem da espiritualidade, da fé e da moral...

O Comité sinodal, seria uma contradição porque como bem resume o cardeal Gerhard Ludwig Müller “não pode em princípio anular o ofício sacramental do bispo, os presbíteros/sacerdotes e os diáconos”. De facto, a igreja eclesial universal não pode ser sujeita a visões regionais ou ao politicamente correcto, nem tão pouco ao “sexismo ateu, ao sexualismo, ao pensamento «woke», ao transumanismo ou à religião climática apocalíptica”, como adianta o cardeal na sua visão conservadora...

A igreja oficial alemã – em regime económico de simonia - não pode pretender ser modelo para outros povos porque a nível institucional sofre de funcionalismo e de uma atitude demasiadamente abstrata.

Também não é de estranhar que isto aconteça numa Alemanha onde um bispo com um ordenado de “funcionário “de 11.000 a 13.000 Euros mensais possa ser levado a um estilo de vida demasiadamente comprometida com a política e com o espírito do tempo...

O triste da situação é o facto de o secularismo se afirmar no sentido marxista e servir-se até de um ressentimento protestante contra o que é romano-católico quando as duas igrejas nas suas diferentes maneiras de estar constituem uma expressão certamente enriquecedora do mundo cristão!

O caminho sinodal perderia o seu significado e sentido se levasse a Igreja a um beco sem saída porque falha o aspecto da missão Petrina da Igreja e afirma o aspecto orgânico sobre o espiritual!...

Membros da Comissão Sinodal não bispos expressaram a sua oposição à intervenção de Roma e pretendem que os bispos enfrentem Roma de maneira a se tornar um conflito aberto entre a Conferência Episcopal Alemã e o Vaticano...

... hoje os reformistas radicais sabem-se apoiados pelo espírito do tempo e por um engarrafamento de reformas. Também o Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK) financiado pelas dioceses alemãs (que recebeu 2,522 milhões de euros em 2020 (2) se mostra descontente com a proibição de Roma...

O argumento apresentado de que “não há credibilidade para os valores fundamentais que a Igreja defende” não se resolve só com medidas burocráticas ou de adaptação à expressão momentânea da sociedade, pois a acção do clero e dos leigos transcende a ordem político-democrática...

.... Doutro modo cria-se um poder estrutural ao lado do outro e em que se coloca o primado político sobre o espiritual.

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

Texto completo e notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9085

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