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Um Estado sem Identidade


Um Estado sem Identidade - Gente de Opinião

Assim sempre foi o Estado de Rondônia, a “nova estrela no azul da União”, a terra dos “destemidos pioneiros” e também das “sentinelas avançadas”. Talvez mais de oitenta por cento dos brasileiros certamente confundem Rondônia com Roraima. Os outros vinte por cento sequer sabem qual é a sua capital e em qual região do país se localiza. E não é só por desconhecimento da Geografia, não! É devido principalmente a pouca ou a nenhuma importância que este longe, pobre e incivilizado estado da federação tem no já triste e conturbado contexto nacional. Aqui se tem a passagem aérea mais cara de todo o Brasil. No acanhado campo de pouso da capital, que pomposamente lhe chamam de aeroporto internacional, quase não há voos para outras capitais do país. A medicina local é fraquíssima e o Estado não tem sequer um pronto-socorro para atender os seus cidadãos.

          A precariedade absurda também é verificada nos serviços que o próprio Estado diz que oferece aos seus coitados pagadores de impostos. Há alguns anos que para se tirar uma simples carteira de identidade em Porto Velho, o cidadão comum precisa antes fazer uma espécie de “estágio no inferno”. Não é de hoje que eu inventei de trocar a minha cédula de identidade, pois me disseram que ela já estava vencida, como se fosse um medicamento ou alguma espécie de alimento para se comer. Então, fui à luta. Chegando ao Tudo Aqui no Porto Velho Shopping, descobri que o nome mais correto para esta grandiosa repartição púbica deveria ser Nada Aqui. Os simpáticos, probos e atenciosos servidores púbicos que me atenderam disseram que eu precisava de alguns documentos e que o agendamento poderia ser feito em casa mesmo ou até no meu velho telefone celular.

          Em casa liguei o meu ocioso computador para fazer esse tal agendamento, mas as decepções e os obstáculos que surgiram começaram a me atormentar. Quando abri o link que educadamente me forneceram, apareceu uma página com os dizeres escritos em caixa alta: Agendamento para Emissão de Carteira de Identidade Civil. Eu pensei: Primeiro Mundo. Só que o agendamento só começaria a partir do meio dia e meia. E eram ainda umas nove horas da manhã. Pacientemente esperei. Chegando o horário indicado, o link mandava eu selecionar uma localização de uma lista. Só que em muitas das localidades listadas a disponibilidade dizia que não havia vagas disponíveis. Para Porto Velho, claro, nenhuma vaga. Vi vagas só disponíveis para Cerejeiras e Costa Marques, cidades a quase 800 quilômetros daqui. Repeti a operação por mais de 30 dias seguidos e até agora nada.

          Não sei ainda o porquê dessa verdadeira Via Crucis para se tirar um simples documento de identidade em Porto Velho, capital de Roraima. Os candidatos para governador e para deputados e senadores, que já estão se preparando para fazer as costumeiras promessas de campanha eleitoral no próximo ano, deveriam colocar mais esta no rol de suas mentiras. “Prometo, se for eleito, viabilizar o agendamento e a retirada da nova Carteira de Identidade para todos os cidadãos que quiserem. Em oito dias, sua identidade será realidade”, deverão dizer nos seus discursos em 2026. Só que com tanta dificuldade assim, eu estou igual a Rondônia: sem identidade. E tenho a certeza de que não é que estão criando dificuldades para vender facilidades. Os funcionários públicos de Rondônia e todas as suas autoridades são pessoas honestas e trabalhadoras. Todos querem o bem de todo mundo. Alguém sabe de algum conhecido seu que trabalha no Tudo Aqui?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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