Domingo, 24 de agosto de 2025 - 08h20
A Invisibilidade que dói: 16.354 Casos na Alemanha e 1.041 em Portugal
Os números vindos da Alemanha são alarmantes: em 2024, mais de 16 mil crianças foram oficialmente registadas como vítimas de violência sexual. São estatísticas frias que escondem dramas quentes e insuportáveis. Três quartos destas vítimas tinham menos de 13 anos, a maioria meninas, enquanto os suspeitos são sobretudo homens: 95%. Os dados oficiais são a ponta do icebergue. O abuso sexual infantil vive do silêncio e da vergonha, que impedem muitas vítimas de falarem, como alerta a psicóloga infantil alemã Ursula Enders.
Nos últimos dez anos, o número de casos confirmados não parou de crescer. Em 2014 eram pouco mais de 14 mil, em 2023 ultrapassaram 18 mil…
Em Portugal, a situação não é menos preocupante. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2024 foram registados 3.237 crimes contra menores, dos quais 1.041 correspondem a abuso sexual infantil. As vítimas são maioritariamente meninas (79,6%), enquanto os suspeitos são homens em 94% dos casos (1)...
Ainda que estes números se refiram especificamente à Alemanha e a Portugal, é fundamental sublinhar que o abuso sexual infantil é uma realidade mundial. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 5 mulheres e 1 em cada 13 homens afirma ter sofrido algum tipo de abuso sexual durante a infância.
Ou seja, o que se verifica na Alemanha e em Portugal também acontece, em maior ou menor escala, noutros países, inclusive no Brasil, onde casos semelhantes têm vindo a ser revelados com frequência. Um problema crucial é o facto de problemas ou questões não noticiadas com relevância nos media são considerados não existentes na sociedade nem para os vindouros porque o que conta são as fontes e estas são o noticiado...
A violência contra crianças é talvez o maior tabu da nossa era. Preferimos não olhar, não falar, não mexer em feridas que expõem falhas familiares, institucionais e políticas...
O tema é delicado e muitas vezes evitado, mas o silêncio social e institucional não é neutro, ele só protege e favorece os agressores...
O ciclo noticioso privilegia o sensacionalismo, mas raramente se aprofunda nas causas, nas falhas das instituições, na falta de apoio às vítimas.
Em vez de iluminar as sombras, grande parte dos media limita-se a acender fogos de artifício momentâneos para captar leitores. Mas uma sociedade que se alimenta apenas de títulos fortes sem se deter na essência do problema acaba por se tornar cúmplice da sua perpetuação...
A responsabilidade não é apenas dos governos ou das escolas, mas também da comunicação social e dos cidadãos. Denunciar, escutar, apoiar e exigir políticas eficazes são passos que cabem a todos...
O abuso sexual infantil não é apenas um crime, é uma violação brutal da dignidade humana, que deixa marcas profundas e muitas vezes irreversíveis. A defesa das crianças deve estar acima da proteção de imagens institucionais ou familiares...
É urgente assumir que defender a infância é defender o futuro e para isso necessita-se um jornalismo consciente, políticas sensatas e sociedade engajada que possam quebrar o silêncio que protege o abuso.
António da Cunha Duarte Justo
Texto completo e nota em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=
109 INCENDIÁRIOS NA PRISÃO EM PORTUGAL
Em Portugal, 109 pessoas estão atualmente privadas de liberdade por crimes de incêndio florestal, segundo dados da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais de 20 de agosto de 2025. Do total, 42 já cumprem pena definitiva, 39 aguardam julgamento em prisão preventiva, 24 foram considerados inimputáveis e estão internados em instituições psiquiátricas e 4 esperam que a decisão transite em julgado.
As penas aplicadas oscilam entre dois e oito anos de prisão efectiva, podendo ser agravadas em casos de dolo ou reincidência. Em situações de menor gravidade, alguns condenados cumprem penas suspensas com vigilância eletrónica, sobretudo nos meses de maior risco de incêndio.
Os perfis mais comuns entre os arguidos são de homens entre os 30 e 55 anos, muitas vezes associados a problemas de alcoolismo, perturbações psiquiátricas ou exclusão social. Uma parte significativa dos casos resulta de fogo posto com dolo, embora subsistam situações de negligência ligadas ao uso imprudente do fogo em atividades agrícolas.
Segundo órgãos de informação portuguesa o número de pessoas detidas por incêndio florestal em 2025 já chega a 94.
A Polícia Judiciária (PJ) deteve pelo menos 52 suspeitos deste crime até meados de agosto de 2025. Cerca de metade dessas detenções ocorreram em agosto.
A Guarda Nacional Republicana (GNR) fez 42 detenções em flagrante entre 1 de janeiro e 13 de agosto.
Até 20 de agosto de 2025, foram registadas três mortes em Portugal relacionadas diretamente com os incêndios florestais: um antigo autarca, um bombeiro e um trabalhador.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=
COMO A UNIÃO EUROPEIA ESCORREGOU NA PRÓPRIA NARRATIVA
A Bússola para um Futuro soberano e digno da UE
A recente cimeira em Washington Trump-Zelensky seguida de autoconvidados europeus e as eleições norte-americanas serviram como um espelho implacável para a União Europeia... A UE escorregou na sua própria baba, na narrativa pegajosa e simplista que criou e da qual agora não consegue libertar-se. Pelos vistos insiste em não arredar caminho para poder levantar-se...
Trump foi pintado não como um político de ruptura do padrão estabelecido, com uma agenda "America First", mas como uma anomalia perigosa. Essa postura, foi profundamente incauta. Ignorou-se uma realidade fundamental: Trump não é um acidente, mas a expressão de uma corrente substancial da sociedade norte-americana (e de parte do mundo), cansada do globalismo e do custo percebido de alianças que, na sua visão, penalizam os EUA...
A UE vê-se numa posição de profunda vulnerabilidade. A aposta emocional, que mobilizou a opinião pública interna, deixou de fora a preparação para um cenário de negociação dura com um parceiro que não se rege pela sentimentalidade diplomática de Bruelas. O resultado foi uma cimeira onde a Europa, que tanto criticou Trump, se viu forçada a abordá-lo com cautela, quase com súplica, para assegurar compromissos básicos de economia e segurança. As quedas abruptas nas acções do setor de armamento alemão e britânico após a cimeira são um sintoma claro deste pânico: a perceção de que o guarda-chuva norte-americano pode não ser tão fiável expôs a fragilidade da autonomia estratégica europeia...
O mesmo mecanismo de simplificação aplicou-se a Vladimir Putin...
A razão repetida de que Putin ambiciona "conquistar a Europa até Lisboa" é um exemplo perfeito de como se cria um preconceito útil. É uma projeção dos medos europeus, não uma análise estratégica credível. A Rússia é a maior nação do planeta, com recursos naturais inimagináveis e uma densidade populacional baixíssima(1)...
A ideia de que Putin cobiça uma UE superpovoada, assoberbada por regulamentação e com tensões sociais crescentes é, no mínimo, questionável. Esta narrativa, no entanto, foi um ovo galado que vingou: serviu para mobilizar a opinião pública para uma guerra apresentada como um bem contra o mal, silenciando o debate sobre os custos reais e os objetivos finais...
Em 2022, a UE e o Reino Unido alegadamente bloquearam negociações de paz nascentes entre Kiev e Moscovo, numa altura em que um cessar-fogo seria mais viável. Agora, o mesmo bloco exige um cessar-fogo, mas apenas para dar tempo à Ucrânia de se rearmar; este cinismo estratégico que não escapa a muitos...
No cerne deste problema está um vício de fundo: a projeção. A elite europeia, habituada a trabalhar com medos e a manipular a vontade popular em vez de a informar com factos, projetou os seus próprios métodos e ambições sobre a Rússia. A rectórica sobre "democratizar" a Rússia escondia, muitas vezes, a velha doutrina colonial de "dividir para reinar", a esperança de que uma Rússia fragmentada em estados menores seria mais fácil de controlar e dos seus recursos mais fáceis de aceder.
A estratégia da NATO de impor valores à força, apoiando revoltas e mudanças de regime em nome da democracia, é percebida por Moscovo e por outros BRICS como a continuação do imperialismo ocidental por outros meios, um imperialismo mental, como bem se pode observar se temos em conta anúncios de funcionários da EU e da NATO...
A UE encontra-se agora numa encruzilhada humilhante... Putin, o "diabo" absoluto, é agora recebido com tapete vermelho em capitais mundiais, forçando a Europa a um realinhamento pragmático para o qual não está preparada... O grande desafio para a UE não é Trump nem Putin. O verdadeiro desafio é superar a sua própria infantilização política... A UE não via o mundo real, com as suas complexidades e nuances. Via apenas o reflexo que ela própria tinha fabricado: um Trump caricatural, um Putin demoníaco, e uma imagem heroica de si própria como bastião incontestável da virtude... A UE debate-se com o facto de ter ficado presa no próprio adesivo que fabricou, escorregando no resíduo pegajoso da sua própria miragem...
O renascimento europeu exigirá mais do que estratégia; exigirá uma volta às suas raízes mais profundas. A Europa precisa de se re-situar, sim, não só geopoliticamente, mas, sobretudo, espiritualmente. A sua bússola já está gravada na sua história: a dignidade soberana do indivíduo, presente no humanismo cristão; a solidez das estruturas e da governação, testada pelo genius romano e católico; e a busca eterna pela ética e pelo bem comum, inaugurada pela filosofia grega. Redescobrir esta tríade de valores não é nostalgia; é a chave para forjar uma identidade forte e compassiva no mundo multipolar que agora se demarca.
António da Cunha Duarte Justo
Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=
ELEGIA DOS MUROS
(Lágrimas do Tempo entre Gaza e Jerusalém)
Entre muralhas arde o sol ferido,
no pó da história o sangue se derrama;
Gaza e Israel, dois rios divididos,
se buscam sempre, mas no meio a mesma chama.
Mãos são raízes presas na penumbra,
olhos, espelhos de uma dor partida;
o tempo curva o peso da lembrança,
mas não detém a marcha desta vida.
Israel cerca o fogo da negação,
Gaza ressoa em gritos sem perdão;
o povo, sempre o povo, se consome,
prisioneiro de mapas e de nome....
...
Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=
Continua em https://poesiajusto.blogspot.
ALEMÃES CONTRA SOLDADOS NA UCRÂNIA
A pesquisa da Cievy revelou que 51% dos alemões são contra a participação alemã numa missão de paz. 36% estão de acordo
Por que o empreendedorismo é essencial no Brasil?
De acordo com dados do Mapa de Empresas, ferramenta disponibilizada pelo Governo Federal para fornecer indicadores relativos ao quantitativo de empr
Marcelo Cruz, Alan Queiroz e Marcos Combate saem na frente na corrida pela ALE-RO
Se depender do levantamento do Instituto Brasil Dados para a Assembleia Legislativa de Rondônia, realizado entre os dias 12 e 13 de agosto, com vist
Como a União Europeia escorregou na própria narrativa
A Bússola para um Futuro soberano e digno da UEA recente cimeira em Washington Trump-Zelensky seguida de autoconvidados europeus e as eleições norte-a
Começou a corrida pela vaga de Rocha
Começou a corrida pela vaga do governador de Rondônia, Cel. Marcos Rocha. Todos se consideram preparados para a maratona, mas é certo que apenas um