Quarta-feira, 17 de junho de 2020 - 12h52
Contava
meu pai, com elevada graça, que tivemos antepassado, muito desenrascado, que
sempre encontrava resposta pronta, na ponta da língua.
Era
no início do século XX, quando haviam muitas sarrafuscas. Ao passar nas
mediações da Serra do Pilar, em Gaia, deparou, atónito, pequeno agrupamento de
soldados.
Receoso,
avizinhou-se muito devagarinho…Quando se encontrava a escassa distância,
surge-lhe roliço sargento, de farta bigodaça, sobrolhos eriçados, que se
postou, de mãos nas ilhargas, à sua frente, interrogando-o asperamente:
- Quem é vossemecê?! -
Vociferou.
-
Quero ir para casa… – respondeu temeroso, crispando nervosamente a
testa.
-
Não pode circular! …
-
Mas…meu sargento, preciso de ir para casa…Tenho mulher e filhos. Estou
preocupadíssimo…
-
Então vá! Mas antes, diga: Quem viva?!
O
homem ficou assarapantado. Que havia de dizer? …; desconhecia de que lado
estava o militar…
Voltando-se
para o sargento, disse-lhe todo empertigado:
-
Viva o meu sargento! Viva eu, e mais quem o senhor quiser! …
De
sorriso agarotado, nos lábios grossos, o militar, deixou-o passar, sacudindo
vagarosamente e complacente, a cabeça, como quem queria dizer: Este sabe-a
toda…
Essa
historieta, verdadeira, fez-me lembrar a que conta Agostinho de Campos, na: “
Língua e Má Língua”:
Perguntaram
a Teófilo Braga, durante a Grande Guerra, se era francófilo ou germanófilo.
O
escritor, não queria revelar a sua simpatia, e respondeu deste jeito:
-
Eu cá sou Teófilo….
Nos
conturbados tempos que correm, também muitos perguntam: “ Quem viva!?”
Se
dissermos viva a “Esquerda”, somos pascácios para os da “Direita “; se dermos
vivas à “Direita”, somos retrógrados, e anátemas…
Neste
tempo democrático, de amplas liberdades, melhor é dizermos como meu
antepassado:
-
Viva eu! Viva você! E mais quem você quiser! …
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