Domingo, 26 de março de 2023 - 11h42
Nas
férias – grandes, abalava no ronceiro comboio do Douro, para Trás – os –
Montes, na companhia de meus pais. Aí, ouvia com espanto, expressões e
linguarejar desconhecido e estranho, que jamais escutara na escola.
Meu
pai achava graça a certos termos e apontava-os, religiosamente, num bloquinho
verde, para não os esquecer. A gente da aldeia, agastada, ficava acobardada, e
tentava exprimir-se à moda da cidade.
Mais
tarde, já homem feito, ao ler os clássicos, topei as mesmíssimas palavras, em:
Frei Luís de Sousa e Francisco Rodrigues Lobo.
Camilo
– Mestre dos Mestres – enxameou os magníficos romances com termos usados pelo
povo simples e analfabeto. Colhia-os, escutando o prosear de lavradores ou em
seroadas à lareira, enriquecendo assim seus escritos.
Ouvi,
com magoa, no Brasil, semicultos, que se gabavam de respeitados letrados,
rirem-se de nordestinos que desceram à Pauliceia, por empregarem vocábulos a
que chamavam, depreciativamente, de caipiradas. Rapidamente constatei, que se
entroncavam em boa cepa da língua – Camões e Bernardim.
Em
" Enfermaria do Idioma", João de Araújo Correia, aborda o
tema, recordando que o letrado reconhece no analfabeto: " Preciosa mina
de ensinamentos. Índole da língua, frases expressivas, imagens claras."
E
Castilho, assevera, também, em: " O Presbitério da Montanha": "Troca-se
mais português de lei, mais riqueza de vocabulário, fraseado e construção, numa
seroada de inverno ou num palrar de sesta de segadores entre carvalheiras
rústicas, ao estridor das cigarras amadas de Anacreonte, do que entre o ranger
dos prelos e o resfolegar das balas, num ano inteiro da melhor tipografia de
Lisboa."
E
confirma Aquilino em: " Arcas Encouradas": " Fala-se
ainda na Beira uma língua viva, buliçosa e branca como água que sai da rocha,
que deve entroncar em Fernão Lopes, passando por cima de renascentistas,
trabalhadores ao torno, e de toda a casta de literatos que se venderam à
francesia. É cheia de expressões breves e diretas, admiráveis quanto a traduzir
cor, estado de alma."
Não
admira, portanto, que Antero de Figueiredo, escreva em: " Jornadas em
Portugal" – " Com que gosto vou partir para aprender,
ouvindo-a (a língua portuguesa,) arejada e leal, da boca livre do povo,
onde espontaneamente, acodem termos incisivos e esbeltos modos de dizer."
Infelizmente,
com a difusão da mass-media, os " doutores “ da província começaram a
falar chique, à moda de Lisboa. Agora catedraticamente marchetam o palrar com
vocábulos anglo-saxónicos, para passarem por eruditos e ilustres intelectuais;
desprezando belas e castiças expressões, bebidas na infância, de mães e avós
analfabetas, mas sábias.
Hoje,
tudo e todos se igualam, infortunadamente, pela ralé: na forma como se
exprimem, na educação, e conduta de vida.
Assim
se perdem os bons costumes e a boa linguagem, assim como os valores que sempre
enobreceram os nossos avós, e orgulhosamente nos diferenciavam dos demais
povos.
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