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Crônica

Os porquês da existência sob o império da IA


Os porquês da existência sob o império da IA - Gente de Opinião

Os porquês nos acompanham pela vida afora, começam na infância e estão ao longo da vida! Se misturam às dúvidas do dia a dia, em busca de respostas que nos ajudam a interagir com o mundo do conhecimento humano. Os porquês da gramática a gente até entende, mas os da vida, aqueles que exigem uma resposta coerente com a existência, estão num patamar muito mais elevado do que simplesmente entender. Os do post-mortem, então, precisam do fenômeno da transcendência.

E… diante das guerras do passado e das de hoje - todas são absurdas - não há como não questionar a consciência, as religiões, o criador, a vaidade, a fome pelo poder, a irracionalidade assinada pelos humanos. Por que nasci em Gaza e não na Inglaterra? Por que tanto ódio no mundo?

Dizem que na vida tudo tem um porquê, uma origem, uma lógica, mas são tantos os acasos que não podemos simplesmente ignora-los. Aceitar simples respostas aos porquês da vida, é como aceitar que o destino já vem pronto, o problema é que nosso cérebro possui um defeito de origem: foi programado, pela evolução, para encontrar sentido em qualquer coisa, inclusive nos inúmeros truques existenciais da vida. O futuro predeterminado está embutido na evolução do passado, que aos poucos vem movendo ciências, filosofias e religiões, inclusive a milenar astrologia, que teve prestígio de ciência, até o século XVII, com o conceito de que os astros regem nossa vida. Por que Virgem e não Gêmeos? Creio que, a partir da primeira forma de vida, tudo está interligado. Verdade?

Na Grécia antiga os estoicos diziam que ninguém escapa do que está reservado para você. Será? Nem pensar em livre-arbítrio... Já os epicuristas defendiam a ideia de que tudo é fruto do acaso. Epicuro, no século IV, e os filósofos existencialistas, no século XX, afirmavam que a essência de tudo o que existe é o caos. Para Sartre, acreditar num futuro com cartas marcadas seria o mesmo que fugir da responsabilidade de tomar decisões: eles pregavam a total liberdade humana, mas esbarraram no velho instinto básico cerebral da ordem; do encontrar sentido pra tudo, logo não poderiam correr o risco de viver num mundo que não faz sentido. Por que existo? Por que o inferno são os outros? Por que o paraíso não é para todos? Por que o problema não sou eu?

As religiões indianas e, com algumas variantes, o espiritismo, acreditam no karma; para eles nada acontece por acaso, tudo na vida é consequência de ações passadas. Embora o destino seja traçado antes do nascimento, ao ser humano é dada a liberdade de praticar o bem e ir descontando a carga das vidas passadas. As virtudes praticadas serão recompensadas na próxima reencarnação, mas quem ficar devendo estará sujeito a acidentes e desgraças. Por que o Karma é uma saga interminável, dependente da desconhecida perfeição espiritual?

Apesar do destino predeterminado de Judas, ou da teoria da Predestinação defendida por Calvino, ou da Teologia da Prosperidade pregada por protestantes americanos, o Vaticano sempre defendeu o livre arbítrio, como peça fundamental na responsabilidade moral do cristão, o que significa indagar: se as pessoas são boas ou más por decreto divino, qual o sentido de recompensa-las ou puni-las? Por que vou pro inferno se na minha religião ele não existe?

Os muçulmanos dizem que os humanos são livres para agir, mas Alá já sabe de antemão o que cada um vai fazer, ou não, é uma espécie de meio termo entre o livre-arbítrio e a autoridade divina. Por que sou muçulmano e não judeu? Por que Alá não é Deus, nem Maomé é Jesus? Quem está com a razão? Razão? Com a palavra a IA. Como será o mundo depois que o algoritmo aprender a fazer o algoritmo, sem o auxílio da mão de obra humana?

As respostas aos porquês da vida são racionalmente limitadas, estão mais no campo das conveniências imaginativas, do que no da razão. A fé não tem cor ou forma, nem é privilégio de uma determinada região, mas é uma das ferramentas da emoção, um campo da matéria constitucional humana, que trabalha com a religiosidade inerente, que tem todas as respostas subjetivamente humanas, portanto cheia de falhas, medos e sonhos. Pela fé, os líderes espirituais foram obrigados a materializar, no âmbito do desejo humano, o deus/paraíso, o deus/nirvana etc. porque assim seria mais fácil vencer o medo do post-mortem e justificar as diferenças sociais: é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.

Não adianta procurar Deus nas inúmeras religiões, nos quatro cantos da Terra. Não adianta querer, vaidosamente, uma nova vida, um paraíso, uma nova oportunidade, um outro karma, fora do normal. Enquanto a IA não ditar novas regras, nos resta acompanhar a trajetória evolutiva racional humana, que já dura milhões de anos e ainda vai durar um pouquinho mais. As respostas conseguidas, até agora, estão dentro de cada ser, foram escritas a ferro e fogo, muitas delas até vieram do exemplo do Cristo pregado na cruz, mas todas, irremediavelmente todas, foram resumidas numa única palavra – AMOR! Se quiser pode renomear o amor, chame-o de DEUS!

Ao experienciar o mundo, abdique do egoísmo e pratique a religião do amor ao próximo e verás como é fácil chegar ao paraíso, sem precisar alimentar a existência extrassensorial do espírito imortal, sujeito à moral de todas as crenças. Viemos do pó e, com o esfriamento do sol, ao pó retornaremos, simples assim. Até sermos comandados pela IA. AÍ… nem pó restará, será reciclado!

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