Sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007 - 20h36
"A reforma política, tema que pontuou a campanha eleitoral do ano passado, foi assumida como compromisso prioritário por todos os candidatos e partidos, o que confirma sua urgência e relevância. Não há dúvida de que corresponde à demanda ética e funcional da sociedade brasileira. Ética porque já não é possível conviver com instituições deterioradas, desacreditadas perante a sociedade que devem representar. E funcional porque, além do descrédito, há a ineficiência de um sistema que, moldado por casuísmos e interesses nem sempre confessáveis, produz mais impasses que soluções.
A verdade é que a política brasileira se tornou caótica e disfuncional. Não cumpre o papel de gerente dos interesses da coletividade. É cada vez mais estuário de demandas privadas. Não há nisso nenhuma novidade. Desde os tempos da Monarquia e dos primórdios da República, o diagnóstico das recorrentes crises políticas que assolam o país é sempre o mesmo: disfuncionalidade do sistema falta de transparência, de devoção cívica dos agentes políticos e, sobretudo, ausência de povo. E o resultado é um só: descrédito de políticos e instituições do Estado.
As dificuldades econômicas que o país tem enfrentado ao longo dos últimos 25 anos relacionam-se com a crise de credibilidade política que, por sua vez, decorre de três fatores básicos, que fizemos constar da exposição de motivos de nossa proposta inicial de reforma política encaminhada ao governo e ao Congresso no início do ano, a saber: 1) persistente marginalização do povo, impedido de participar diretamente das grandes decisões políticas, não só na esfera nacional, mas também no plano local; 2) representação popular falseada, que acabou criando um pequeno mundo político irresponsável, cada vez mais distanciado da realidade social; 3) incapacidade institucional do Estado brasileiro de elaborar e conduzir programas de ação de longo prazo, com base num projeto de desenvolvimento nacional.
De crise em crise e, sobretudo, com o indefectível adiamento das soluções, geração após geração , chegamos aos dias de hoje, em que os segmentos formadores de opinião se perguntam se há solução para tantos impasses. Há. Basta determinação política.
Com essa certeza, a OAB decidiu arregaçar as mangas e agir. Instituiu, ano passado, no âmbito de seu Conselho Federal, o Fórum da Cidadania para a Reforma Política. Mobilizou entidades da sociedade civil e, no início deste ano, como disse acima, encaminhou ao governo e ao Congresso Nacional as suas primeiras propostas. Elas, nessa primeira etapa, envolvem mudanças nos sistemas eleitoral e partidário.
Com relação aos partidos, não se pretende, como é óbvio, torná-los fortes e autênticos por via de lei, o que seria artifício primário. O que se quer é minorar, tanto quanto possível, a predominância do caciquismo interno e de sua instrumentalização pelo poder econômico privado. Para tanto, propusemos, entre outras providências: proibir o parlamentar eleito de mudar de partido, a contar da data da eleição e durante toda a legislatura; proibir os partidos de receberem doações, devendo manter-se exclusivamente com as contribuições de seus filiados e os recursos do Fundo Partidário.
No quesito financiamento das campanhas eleitorais, a OAB propõe a adoção do sistema francês, que atribui à Justiça Eleitoral o poder de fixar um limite máximo de despesas dos candidatos, em cada eleição. A Justiça Eleitoral pagará também, a título de reembolso, uma quantia determinada, variável conforme a eleição, a cada candidato, cujo patrimônio e cuja renda tributável não sejam superiores a determinado montante, desde que tenha recebido, na eleição, pelo menos 5% da totalidade dos votos válidos no distrito.
Cabe também à Justiça Eleitoral, nos termos de nossa proposta, fixar, para cada eleição, o montante máximo de doações que cada candidato está autorizado a receber. A infração a essas disposições impede o candidato eleito de tomar posse no cargo e, se já empossado, acarreta perda do mandato.
Outro ponto fundamental é o que estabelece a revogação popular de mandatos eletivos (recall), já objeto de proposta anterior da OAB e hoje expressa na emenda constitucional nº 0073/2005, em tramitação no Senado Federal. Há ainda medidas relacionadas a inelegibilidades, coligações, acesso à propaganda gratuita na mídia eletrônica e à prestação de contas de campanha, sempre com o objetivo de dar transparência, conteúdo popular e funcionalidade ao processo político.
Mas não apenas: a OAB pleiteia a aprovação pelo Congresso Nacional de dois projetos de lei que apresentou anteriormente, e que tornam efetivas as manifestações da soberania popular consagradas no artigo 14 da Constituição Federal, que trata dos instrumentos da democracia direta: plebiscito, referendo e iniciativa popular legislativa.
Sabemos que a reforma política não é panacéia, nem um fim em si mesma. É ponto de partida para a restauração da confiança popular em nossa República. Se feita em profundidade, sob a supervisão da sociedade civil e levando em conta sua natureza plural, a reforma política confere respeitabilidade ao processo e aos próprios legisladores.
E é essa respeitabilidade, que deriva do fator confiança, que hoje está em falta. Sem ela, o processo político não se sustenta, e o Estado democrático de Direito corre riscos. Sérios riscos."
O artigo "A urgência e a relevância da reforma política" é de autoria do presidente nacional da OAB, Cezar Britto e foi publicado na edição de hoje (23) do Correio Braziliense
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