Segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018 - 17h33
Michel Temer e sua turma não vão largar o poder assim facilmente, depois de tê-lo tomado com um golpe de mão parlamentar. Para isso, o que precisar ser feito eles farão, sem a menor hesitação. A intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro e a criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública são medidas improvisadas, que não foram planejadas e não têm a menor chance de produzir o resultado prometido, a derrota do crime organizado no Rio e a contenção da violência no país. Não importa, não se trata de políticas públicas mas de fazer política com um objetivo central não declarado, a viabilização da candidatura de Temer à reeleição. Objetivos secundários também são atendidos, como a redução do desgaste com a não-votação da reforma previdenciária, derrotada de antemão.
Afinal, faltando oito meses para a eleição, a centro-direita não conseguiu vitaminar com índices de preferência de mais de um dígito nenhum de seus possíveis candidatos, como Alckmin, Meirelles ou Rodrigo Maia. A invenção do “novo” também fracassou, com Luciano Huck jogando a toalha depois de mais uma pajelança de Fernando Henrique para fazer do apresentador insosso e oco um candidato crível. A Presidência, com tudo que ela representa em matéria de máquina e instrumentos para fazer votos, não é um recurso que a direita iria se dar ao luxo de desprezar. Poderia fazer uso dela, a favor de um candidato seu, se Temer tivesse caído com uma das denúncias. Rodrigo Maia o sucederia e poderia ser este candidato, disputando a reeleição no cargo. Mas Temer não brincou em serviço, jogou pesado para ganhar e Maia amarelou. Agora o tempo ficou curto demais para a invenção ou turbinação de um candidato de continuidade. Não tem tu, vai Temer mesmo.
Mas por conta deles, agora estamos todos num piquenique à beira do abismo. Estas jogadas arriscadas e perigosas, com o objetivo de preservar o golpe no poder, podem cumprir seu objetivo eleitoral, que o Brasil não merece, mas podem levar também aos dias piores, que costumo aqui prever que virão, e estão sempre vindo. Podem levar à completa transfiguração do regime originário do impeachment numa ditadura também reconfigurada, em que o presidente é civil mas os militares mandam e o mercado dá as cartas. Afinal, com quebras do Estado de Direito, censuras esporádicas e repressão intermitente estamos nos acostumando.
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