José Carlos Sá*
Ao completar 130 anos, em 2008, o popularmente conhecido “Casarão dos Ingleses”, cederá o espaço que ocupa para a barragem da hidrelétrica de Santo Antônio, cuja cabeceira, na margem direita do Rio Madeira, coincide com a localização do prédio construído durante a primeira tentativa de implantação de uma ferrovia na Amazônia.
Descaracterizado por sucessivas reformas, que foram intercaladas com períodos de abandono, o prédio não tem tombamento pelo Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional – Iphan. A sua situação jurídica também é nebulosa. Teoricamente seria um bem da União, mas há anos está em mãos de particulares.
Construído em 1878, o sobrado de dois andares, pertencia à empresa de engenharia P. & T. Collins. Os fundos da construção dão para a cachoeira de Santo Antônio e o lado frontal para o local onde foram assentados os primeiros trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré pela mesma construtora. Na parte superior do prédio funcionava a residência da família dos empresários, na parte inferior, o escritório da empreiteira.
Visitando o local em 1959, o escritor paulista Manoel Rodrigues Ferreira* já encontrou o prédio decadente. Na época, funcionava um botequim na parte da frente do casarão, tocado por uma mulher argentina. O local abrigou, ainda, a sede da empresa boliviana Suaréz & Hernanos, que dominava o comércio de borracha de toda essa região.
Toda a área era, oficialmente, considerada logradouro público, pertencente ao Estado do Mato Grosso, que ali criou a Comarca de Santo Antônio do Rio Madeira, incorporada ao Município de Porto Velho por ocasião da criação do Território Federal do Guaporé, em 1943.
Imponente, se visto a partir do Rio Madeira, o prédio abrigou um clube – Iate Clube de Porto Velho – no final da década de 80, depois passou sucessivamente às mãos de outros particulares. O casarão também já foi usado para “raves”, com direito a sexo, drogas, rock’n roll (não necessariamente nesta ordem) e polícia, mas ninguém preso.
Hoje, na entrada do terreno está afixada uma placa com os dizeres “Chácara Vera Lúcia”, contendo, abaixo, os símbolos da Maçonaria. Atualmente um empresário reside no local com sua família e as visitas ao sobrado – parte externa – apenas são pe rmitidas se solicitadas com antecedência.
BARRAGEM
A primeira usina hidrelétrica a ser construída no Rio Madeira, a de Santo Antônio, foi projetada pelos engenheiros do Consórcio Furnas – Odebrecht justamente tendo uma das cabeceiras sobreposta aonde está o casarão. Ali será construído o “canal de aproximação”, que são condutores das águas do rio que não passarem pelas turbinas, e são encaminhadas aos vertedouros.

Distante, aproximadamente, quilômetros de Porto Velho, para chegar lá: Rua Rogério Weber, sentido Centro – 5º BEC; Estada de Santo Antônio até o final; passar a esquerda da capela, em direção ao rio.
Se o prédio será demolido ou desmontado e reconstruído em outro local, ainda nada se sabe. Há tecnologia no Brasil para que esta opção seja adotada e também há o interesse do SESC de usar o casarão, no novo local, para recepcionar hospedes da Colônia de Férias que será construída nas proximidades. Os recursos para o empreendimento hoteleiro e turístico já estão assegurados.
Como não se sabe qual o futuro do “Casarão dos Ingleses”, vale a dica desse Projeto: “Conheça antes que acabe!”
PERFIL DA OBRA
A barragem de Santo Antônio está projetada com as seguintes características:
Altura – 13,90m
Elevação – 70m em relação ao nível do mar
Vida útil do reservatório – > 100 anos
Vazão de projeto de vertedouro (m³/s) 84 mil
Potência instalada (MW) – 3.150
Energia firme local (MW médios) – 2.050
Tipo de turbina – bulbo
Quantidade de turbinas – 44
Potência unitária (MW) – 71,60
Investimento – Aproximadamente R$ 9,5 bilhões
Previsão de início de obra - Dezembro/2008
Previsão de entrada em operação - Primeira e segunda unidades geradoras em dezembro de 2012 e a última em junho/2016
Reservatório – 271 km²; desse total 40% corespondem a novas áreas a serem inundadas; o restante corresponde a própria calha do Rio Madeira.
* FERREIRA, Manoel Rodrigues – A Ferrovia do Diabo – História de uma estrada de ferro na Amazônia, São Paulo: Melhoramentos, 1987 – 4ª Ed.
*Fonte: Texto, Pesquisa e Fotos do Jornalista José Carlos Sá - Colaborador do Gentedeopinião

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