Sexta-feira, 3 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Meio Ambiente

UNIVERSIDADES ESTUDAM PREJUÍZOS À AMAZÔNIA


Justiça estuda punição a poluidores e pode proibir queimadas em Mato Grosso.  Cuiabanos 'comeram fumaça' este ano; crianças foram as maiores vítimas de doenças pulmonares, na capital e no interior.
UNIVERSIDADES ESTUDAM PREJUÍZOS À AMAZÔNIA - Gente de OpiniãoJOSANA SALES (*) De Cuiabá (MT)
CUIABÁ, Mato Grosso – O aumento de 72% dos focos de queimadas em Mato Grosso este ano, detectado pelos nove satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe) que monitoram queimadas no Brasil assustou pesquisadores do clima e de poluição do ar, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Este ano, as correntes de ar trouxeram para a capital do Estado, Cuiabá, nuvens espessas de fumaça, oriundas no nordeste, noroeste e norte de Mato Grosso.
Crianças com idade até cinco anos são as principais vítimas nas cidades de Alta Floresta e Tangará da Serra. Desde 2000, do total de internações de menores de cinco anos de idade em hospitais públicos e conveniados ao SUS nos dois municípios, em média, 50% são de crianças com quadro clínico de pneumonia.
A população cuiabana respirou gases tóxicos nocivos a saúde durante os meses de agosto, setembro e início de outubro. O ar ficou contaminado de monóxido de carbono(CO), ozônio, óxidos metalicos e material particulado (fuligem). Na primeira chuva que caiu na capital, o PH medido foi de 4,2, demonstrando alto índice de acidez na água, contaminando a fauna, flora e os recursos hídricos.
Inquérito avalia proibição
Na semana passada, o Ministério Público Estadual convocou vários pesquisadores para avaliar as queimadas, bem como as conseqüências para o meio ambiente e a saúde da população mato-grossense. Por meio da portaria 006/07, o MP instaurou, há um mês, inquérito civil para apurar os motivos do alto índice de queimadas no Estado.
O promotor de Meio Ambiente Gerson Barbosa diz que tem elementos para responsabilizar o Estado pela omissão e inoperância no combate as queimadas no Estado. O mesmo ocorreu no MP Federal, que aguarda investigação da Polícia Federal de Mato Grosso quanto aos danos ao meio ambiente. Um dos casos mais graves em investigação é o incêndio florestal no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, em agosto onde foram queimados 16,5 mil hectares dentro e fora da unidade de conservação. O Prevfogo informou esta semana que em 15 dias deverá finalizar o laudo pericial que apura as causas do incêndio.
Climatologista sugere proibição
A climatologista e professora do Departamento de Geografia da UFMT, Gilma Tomasini Maitelli fez este ano vários alertas em relação ao excesso de fumaça no ar da capital e recomendou que as queimadas sejam definitivamente proibidas durante todo o ano em Mato Grosso. Segundo ela, a Baixada Cuiabana e o Pantanal são mais prejudicadas com a fumaça das queimadas por estarem numa posição geográfica que permite a concentração e deposição da fumaça produzida em quase todo o Estado. "Estamos numa grande planície, entre 80 a 160 metros do nível do mar , entre duas grandes chapadas; dos Guimarães e Parecis, no caso de Cuiabá. Uma planície circundada com terrenos entre 600 a 800 metros. Ocorre que com as correntes de ar, as nuvens de fumaça que passam pela capital oriundas de outras regiões vão se concentrando e ficam estacionadas nesta área ", explica.
Gilda diz também que a fuligem, em contato com o vapor de água, acaba condensando em gotinhas muito pequenas de água insuficientes para formar chuvas. " É contraditório porque ao mesmo tempo que usam a queimada para baratear custos na agricultura acabam impedindo a formação de chuvas, ampliando a estiagem que já é característico nesses meses do ano em Mato Grosso. ", diz. Ela alerta também para a acidez das primeiras chuvas que acabam sendo um problema para a produção de alimentos, hortifrutigranjeiros e a agricultura de modo geral "Tudo fica contaminado no solo e na água; é hora de repensar até que ponto a saúde humana, o meio ambiente e a economia rural estão sendo prejudicados com as queimadas".
Universidades estudam prejuízos à Amazônia UNIVERSIDADES ESTUDAM PREJUÍZOS À AMAZÔNIA - Gente de Opinião
CUIABÁ – Os mato-grossenses parecem não ter a menor idéia do que estão respirando durante os meses de queimada e dos graves riscos a que são submetidos ao serem obrigados a conviver com a fumaça, falta de umidade e chuvas ácidas. Há vários anos, a Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz), em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC) e a Fundação Ecológica Cristalino (FEC) avalia o efeito das queimadas à saúde Humana na região do Arco do Desmatamento, com o objetivo de avaliar, em sete estados da Amazônia, o impacto ambiental decorrente da queima de biomassa e o perfil epidemiológico de ocorrências de doenças respiratórias das populações expostas às queimadas. O meio ambiente e a população recebem gases extremamente tóxicos e nocivos a saúde humana, como o monóxido de carbono , metano, enxofre, ozônio, entre outros", comenta o professor de Engenharia Sanitária da UFMT, Paulo Modesto. Doutor em Meio Ambiente e Biologia Aplicada, Paulo diz que o material particulado que é liberado pelas queimadas pode atingir até seis milhões de quilômetros quadrados, viajar através das correntes de ar por boa parte da América do Sul. Nesse material particulado, estão contidas a fuligem e os óxidos metálicos.
Gases nocivos à saúde humana
Numa avaliação esporádica feita pela Sema para avaliar a qualidade do ar entre os dias 18 e 23 de setembro, foram constatados índices de 262,4 microgramas por metro cúbico a 418 microgramas por metro cúbico de particulas totais em suspensão no ar, quando o recomendado pela Resolução Conama 03/1990 determina padrões até 240 microgramas por metro cúbico para um padrão primário e 150 microgramas por metro cúbico para padrão secundário. O mais agravante é que esse nível de poluição não deve ocorrer mais que uma vez por por ano em 24 horas.
Ao mesmo tempo, a queima de vegetação produz temperaturas acima de mil graus centígrados e essa temperatura proporciona que minerais presentes no solo sejam evaporados, dentre eles metais pesados como como mercúrio , chumbo , cádmio. Ao chegar na atmosfera esses metais entram em contato com o oxigênio e se transformam em óxidos metálicos que também ficam em suspensão no ar, e a exemplo da fuligem, são introduzidos no organismo humano, pela respiração.
Cuiabanos "comem fumaça"
Paulo Modesto alerta que o mais preocupante a saúde humana são os gases com alto poder de toxidade produzidos nas queimadas como o monoxido de carbono(CO), ,óxido de nitrogênio, metano e o ozônio. Ele destaca o CO como um dos mais nocivos do ponto de vista da toxidez pois " tem uma afinidade 200 vezes maior que o oxigenio pela emoglobina do sangue. "Daí que as concentrações elevadas e por muito tempo de exposição comprometem a saúde", comenta. O Conama recomenda que os níveis de CO no ar não devem ultrapassar a 9ppm(partes por milhão) em até oito horas.
Dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos(CPTEC) do Inpe demonstraram, que em agosto Mato Grosso emitiu 8,1 milhões de toneladas de CO e em setembro 9,8 milhões de toneladas. O problema maior é a concentração do gás no ar. Só para se ter uma idéia, no dia 25 de setembro Mato Grosso teve a concentração de 3 ppm de CO no ar durante 24 horas. "O nitrogênio em excesso no ar e em contato com as altas temperaturas das queimadas permite a oxidação e formam o óxido de nitrogenio. Em contato com a luz solar o óxido de nitrôgenio produz o ozônio de baixa altitude e ao ser respirado pelos humanos causam inflamações pumonares.
Modesto alerta: "Todos os anos os mato-grossenses , principalmente os cuiabanos comem fumaça; esta situação pode permanecer nas próximas décadas". E adverte: "Mato Grosso poderá ficar inabitável nos períodos de queimadas". Ele conta que há dois anos a reitoria da UFMT foi convidada pelo Estado a apresentar o Programa de Monitoramento da Qualidade do Ar em Cuiabá de forma permanente, com três estações fixas e uma móvel, medindo-se também em Chapada dos Guimarães e Sinop. " Não adianta fazer medições esporádicas e sem metodologia apropriada para fazer uma avaliação dos principais componentes emitidos pelas queimadas", explica.
O pneumologista Clovis Botelho ratifica as preocupações do professor Paulo Modesto com relação ao excesso de CO no sangue da população "Com certeza, a exposição da população à fumaça das queimadas durante meses e por anos consecutivos vem reduzindo a expectativa de vida dos mato-grossenses".
(*) A jornalista escreve em Ciência e Meio Ambiente, às terças-feiras, em A Gazeta , de Cuiabá.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 3 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

EcoCast: série especial discute os desafios e oportunidades do mercado de carbono no Brasil

EcoCast: série especial discute os desafios e oportunidades do mercado de carbono no Brasil

Você sabe o que são os famosos créditos de carbono? E como eles funcionam, você sabe? Na série especial “Carbono: desafios e oportunidades” recebemos

Inovação e Sustentabilidade em Rondônia: UNIR e Eletrogoes Avançam na Pesquisa Florestal

Inovação e Sustentabilidade em Rondônia: UNIR e Eletrogoes Avançam na Pesquisa Florestal

O Grupo de Pesquisa de Recuperação de Ecossistemas e Produção Florestal, coordenado pelas Dra. Kenia Michele de Quadros e Dra. Karen Janones da Roch

Pesquisa estuda folha da Amazônia para substituição do mercúrio na extração de ouro

Pesquisa estuda folha da Amazônia para substituição do mercúrio na extração de ouro

Pau-de-balsa é uma espécie florestal nativa da Amazônia e já é utilizada de forma artesanal na Colômbia para extração de ouro.Agora, cinco instituiçõ

Ibama define nova prioridade para enfrentar perdas na biodiversidade e a crise climática

Ibama define nova prioridade para enfrentar perdas na biodiversidade e a crise climática

Neste ano em que completa 35 anos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) comemora o impacto do trabalho

Gente de Opinião Sexta-feira, 3 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)