Quarta-feira, 25 de abril de 2012 - 15h42
Quem define as prioridades da TV Senado e da TV Câmara? Por óbvio, essas emissoras de televisão são patrocinadas exclusivamente pelo dinheiro suado do respeitável público do grande circo chamado Brasil. Mas, pelo visto, os tentáculos do bicheiro Carlinhos Cachoeira são ainda maiores do que pensamos. Não bastasse o volume astronômico de denúncias ligando o contraventor à palhaça política nacional e sua extraordinária influência nos maiores veículos de comunicação do país, já se pode perceber a força de Cachoeira a pautar as emissoras públicas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.
Parcela indelével da população brasileira – ainda que seja uma minoria responsável e com amplo acesso à informação em todas as mídias disponíveis – aguarda com ansiedade o desenrolar Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para supostamente investigar o gigantesco arco de atuação bandida do bicheiro goiano. Esse interesse da minoria funcional dá-se em decorrência dos sinais patentes de que estamos diante de um dos maiores escândalos político-policialescos da história republicana do Brasil varonil, podendo superar, inclusive, o espetáculo do Mensalão no governo Lula da Silva.
Como é de praxe, os parlamentares-pizzaiolos, depois de semanas em reuniões de cozinha para acordar os ingredientes da massa, só instalaram a CPMI do Cachoeira depois de amplas “conversações” e do aval direto do Palácio do Planalto. Apequenadíssimo, o Parlamento do Brasil se agachou ante o rolo imposto pela presidente Dilma Rousseff, através de sua cozinheira oficial das Relações Institucionais, ministra Ideli Salvatti (PT/SC). Por determinação do Poder Executivo, o senador Vital do Rêgo (PMDB/PB) e o deputado federal Odair Cunha (PT/MG) foram escalados para cuidar da assadura da pizza, com anuência da ampla maioria, seja governista, seja oposicionista.
Fosse a proposta criar uma Comissão de Inquérito séria e responsável, o resultado de seu trabalho poderia levar ao banco dos réus mais de 50% dos atuais políticos brasileiros, incluindo governadores de grande estatura e engravatados tidos como sacrossantos moralistas, como aconteceu com o senador Demóstenes Torres. Isso sem falar nas sucessivas denúncias contra empreiteiras mafiosas, que ao longo da última década construíram alguns brasileiros bilionários, sanguessugas dos fartos e não fiscalizados recursos públicos. O próprio presidente do Senado, o imortal José Sarney (PMDB/AP), já anunciou que o escândalo Cachoeira pode “ser um tempo de muitas revelações e turbulências”. Só pode, mas não deve. Porque nenhum deles quer perder a mamata, quiçá correr o risco do xilindró.
Prova inconteste do “acordão” definido às sombras e a exemplo dos grandes veículos de comunicação rendidos aos cifrões encantados de Carlinhos Cachoeira, a TV Senado e a TV Câmara também embarcaram na nau da pizzaria. Emissoras oficialmente bancadas com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro, reitero. Basta observar o que aconteceu na manhã da última quarta-feira, dia 25 de abril: enquanto o Congresso Nacional finalmente realizava a primeira sessão ordinária da CPMI do Cachoeira, interesse de primeira ordem, nenhuma das duas emissoras a transmitiu.
A TV Senado optou por colocar no ar uma Audiência Pública sobre o Ato Médico, comandada pelo senador Roberto Requião (PMDB/PR); em seguida, passou a transmitir o senador Renan Calheiros (PMDB/AL) lendo relatório à Comissão de Constituição e Justiça, presidida pelo correligionário Eunício Oliveira (PMDB/CE). A TV Câmara, por sua vez, decidiu que era melhor exibir uma entrevista extensa, ao vivo, com deputado federal Ronaldo Caiado (DEM/GO), vociferando contra emendas apresentadas ao Código Florestal. Nas entrelinhas, fica a questão: será que as duas TVs Públicas do Congresso Nacional foram colocadas a serviço da bandalheira?
Como o Brasil é o país-circo da “carteirada” e da “canetada”, eu vos pergunto: quem manda na TV Senado e na TV Câmara? São os presidentes das Casas, senador José Sarney e deputado Marco Maia (PT/RS), respectivamente? Por que as emissoras, ao invés de exibir a primeira sessão da CPMI, decidiram colocar no ar reuniões de menor monta, que de tão iníquas nesse momento, tinham no máximo cinco parlamentares presentes? Ou será que a cozinha do Palácio do Planalto ordenou que as TVs Públicas do Poder Legislativo fossem transformadas na calabresa da pizza em preparo?
O que acontece hoje no Brasil é o senso máximo de que a classe política não tem qualquer compromisso com a transparência e com a lisura dos processos. Diante da opinião pública, os políticos não são mais que ratos e cupins, corroendo o Estado por dentro e por fora. Fazem da pseudodemocracia brasileira um objeto de escárnio mundial. Ao que tudo indica, a TV Senado e a TV Câmara compraram o projeto nauseabundo. Diante das câmeras, elas já se prestam a anunciar: “Respeitável Público... sejamos idiotas! Sejamos imbecis! Sejamos coniventes! E vamos aplaudir os palhaços engravatados do idolatrado e salve-salve grande circo Brasil!”
Fonte: HELDER CALDEIRA*
Escritor, Jornalista Político, Palestrante e Conferencista
www.heldercaldeira.com.br– helder@heldercaldeira.com.br
*Autor do livro “A 1ª PRESIDENTA”(Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e comentarista político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o quadro “iPOLÍTICA”.
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(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); HELDER CALDEIRA, Escritor. www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br *Autor dos livr