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Gente de Opinião

Antônio Cândido

O QUE DIZER A JOAQUIM ITAPARY


 

Imortal de São Luís pede provas de que 
Vespaziano Ramos morreu em Porto Velho. 


Antônio Cândido da Silva


Em e-mail, abaixo transcrito, o imortal Joaquim Itapary, da Academia Maranhense de Letras, pediu-me esclarecimentos a respeito de Joaquim Vespaziano Ramos ilustre poeta maranhense falecido e sepultado no cemitério dos Inocentes, nesta cidade. 

“De: Joaquim Itapary ([email protected])
Enviada: terça-feira, 10 de fevereiro de 2009 14:02:05

Caro senhor Antônio Candido, Bom dia!

Graças à internete, li com agrado o seu texto "Os seresteiros", publicado em gentedeopinião de 09/01/2008. Nele você refere o fato de haver passado "pelo túmulo de Vespasiano Ramos" que teria falecido aí em Porto Velho no ano de 1916. 

O maranhense Joaquim Vespasiano Ramos é Patrono da Cadeira 32 da Academia Maranhense de Letras, a cujos quadros pertenço. Há, entre nós, afirmativa de estudiosos de nossa literatura segundo a qual o poeta de Cousa Alguma teria falecido em São Luís, aos 26 de dezembro de 1916. Essa data consta até em uma antologia de nossa entidade publicada no ano de 1958. 

Peço a V.S. que me faça a gentileza de informar-me, por esta mesma via, o seguinte: Em 1916 Porto Velho compunha a jurisdição do Amazonas? Pelo que sei, esse município teria sido destacado apenas em 1943 para, com Guajará-Mirim, compor o Território Federal do Guaporé, mais tarde (1956) denominado T. F. de Rondônia e, finalmente, em 1982, Estado de Rondônia. Estarei errado? 

Ficaria muito agradecido se o prezado imortal, não lhe sendo grande incômodo mas para não deixar mais qualquer dúvida no Maranhão sobre este assunto, enviasse em anexo à sua aguardada resposta uma fotografia do túmulo de Vespasiano, com a sua inscrição lapidar. 

Será que em algum Cartório dessa cidade há o registro do óbito do grande poeta Caxiense? 

Peço-lhe, ainda, por favor, que me dê o seu endereço para que lhe envie publicações editadas no Maranhão. 

Muito atenciosamente, 

Joaquim Itapary - Cadeira 4 da AML.” 


De 10 de fevereiro para cá muita água, inclusive do Mearim, passou por debaixo da ponte. Problemas de saúde, falta de tempo e até mesmo um pouco de preguiça, levaram-me, a somente agora, dedicar-me ao atendimento da solicitação do amigo Joaquim Itapary.

Mantivemos nesse período a troca de algumas informações e, por conta disso, soube que o ilustre amigo encontrava-se em São Paulo fazendo exames para verificar as condições do seu coração.

Tudo parecia muito simples. Eu já havia conseguido um exem-plar de “Coisa Alguma” (o certo é Cousa Alguma) editado pelo governo do estado de Rondônia, através do Conselho Estadual de Cultura, em 1984, por ocasião do centenário do nascimento de Vespaziano, autor do livro, graças ao empenho e dedicação, justiça se faça, da professora Yedda Maria Pinheiro Borzacov.

De posse, também, de informações e depoimentos a respeito do poeta restava-me juntar a foto do túmulo, da lápide, fazer um pacote e via Sedex encaminhar a Joaquim Itatapary as provas incontestáveis de que o “nosso poeta”, também patrono da cadeira 23 da Academia de Letras de Rondônia, repousa eternamente e satisfeito em nosso solo karipuna.

Superados todos esses transtornos, ontem, 8 de maio, preca-vendo-me de possíveis encontros com almas do além, convidei meu amigo Dr. José Maria Ortiz de Carvalho para irmos ao cemitério fotografar o túmulo do “nosso poeta adotado”, Joaquim Vespaziano Ramos.

A primeira decepção que tivemos foi passarmos pela rua que leva o nome do poeta para fotografarmos a placa indicativa e não encontrarmos, pelo menos uma, para comprovar que Vespaziano Ramos é, também, nome de rua na área central da nossa cidade.

Ao chegarmos ao cemitério acabou-se de vez a nossa euforia, ao verificarmos que o “campo santo” está totalmente tomado pelo mato cerrado, somente sendo possível ver a parte mais alta de alguns túmulos que disputam com o matagal um lugar ao sol.

Conseguimos, depois de uma aventura digna de Indiana Jones, encontrar o lugar de descanso do nosso poeta. Como não havia nin-guém, além do administrador postado no portão de entrada, e não dispúnhamos de material adequado, foi impossível efetuarmos uma limpeza no local para podermos mandar ao povo maranhense uma foto que não dissesse da nossa incompetência e desrespeito para com tão ilustre filho do Maranhão.

José Maria e eu limpamos com as mãos o que foi possível e u-sando das minhas habilidades de fotógrafo por correspondência for-mado pelo “Instituto Monitor,” driblei o sol de quase meio dia e, en-tre luz e contra luz, sombra e nitidez, consegui o milagre das fotografias que podem ser vistas, a seguir, feitas enquanto o Dr. José Maria segurava o mato afastando-o do objeto a ser fotografado. 

 

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Estou aqui a pensar com meus botões: O que dizer ao Joaquim Itapary e aos intelectuais maranhenses?

Posso colocar a culpa no aquecimento global e dizer que o inverno, aqui, ainda não foi embora; que a crise mundial levou os governos estadual e municipal a conter gastos; até mesmo a gripe suína pode levar a culpa, por conta de evitar o ajuntamento de trabalhadores para a limpeza do local e por aí vai...

Mas, nós sabemos que não seria justo porque, em verdade, nunca na história deste Estado e do Município, a cultura mereceu o cuidado e o respeito das autoridades. Isso acontece no campo das artes, da música, da literatura e pasmem, até mesmo na culinária onde “o leite de castanha” do nosso pirarucu foi substituído por um “molho branco” no qual se resolveu acrescentar o bagaço da castanha.

Com relação ao patrimônio público cabe uma pergunta: Precisamos dizer alguma coisa?

Mas, o objeto da nossa discussão é o cemitério e continuo a pensar em como dizer a qualquer pessoa de bom senso que no meio desse matagal, abandonados e esquecidos pelo poder público e pelos parentes que não conseguem visitá-los, estão sepultados os nossos pioneiros, nossos avós, pais e filhos, a maioria vitimados pela malária enquanto sonhavam nos deixar um lugar melhor pra se viver.

Para os que não conseguirão ler o que diz o epitáfio do túmulo de Vespaziano faço aqui a transcrição:

Governo do Estado de Rondônia
CENTENÁRIO DE VESPASIANO RAMOS
1884 – 1984
HOMENAGEM DO CONS. EST. DE CULTURA
CORTEZIA FUNERÁRIA DOM BOSCO

NÃO VOLTES CRISTO
PORQUE NA TERRA DEU-SE APENAS ISTO
MULTIPLICOU-SE O NÚMERO DE JUDAS
E VAI CRESCENDO A PROLE DE PILATOS.

O epitáfio termina com versos do soneto “Ao Cristo,” de Vespaziano e, podemos verificar que o poeta, definitivamente, tinha razão: as autoridades à moda de Pilatos, “lavaram as mãos” com relação à história e as coisas de nossa terra.

Fonte: Antôni Candido da Silva
[email protected]


* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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