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Gente de Opinião

Abnael Machado

Descobrimento e Colonização do Vale do Rio Madeira



Os primeiros contatos com os europeus com o rio Madeira ocorreram a partir de 1542 quando Francisco Orellana, vindo dos Andes (Peru), descendo o rio Amazonas, passou em sua foz denominando-o rio Grande.1

Nuflo do Chavez saindo de Santa Cruz de La Sierra dos Moxos (atual republica da Bolívia) em 1560, percorreu todo o curso do rio Madeira desde o local se sua formação (na confluência dos rios Beni e Mamoré), até a sua foz na margem direita do rio Amazonas palmilhando o seguinte roteiro: desceu o rio Baurés alcançando o rio Mamoré, por esse prosseguindo atingindo sua confluência com o rio Beni, penetrando no rio Cayarí (Madeira) descendo seu curso até encontrar o rio Amazonas, prosseguindo por esse até a sua foz no Oceano Atlântico no litoral do atual estado do Pará, na época possessão espanhola, de conformidade com o Tratado de Tordesilhas.2

Os holandeses com colônios do norte da Amazônia tinham conhecimento do rio Madeira, desde 1615, mantendo transações comerciais com os indígenas do baixo curso desse rio, trocando ferramentas e outros produtos por especiarias nativas.

Pedro Teixeira em 1637 chefiando uma expedição portuguesa com destino a Quito, Vice-Reino do Peru, partiu da Vila de Cametá no Grão-Pará, subiu o rio Amazonas, ao passar pela foz do rio Madeira, foi informado pelos indígenas habitantes da ilha de Tupinambara, que aquele era o rio Cayaria em cujas margens habitavam várias nações indígenas, e que provinha de elevadas montanhas nas quais vivia um povo rico e muito poderoso. Em vista a grande quantidade de troncos de madeiras flutuando em suas águas, Pedro Teixeira  o registrou em seu diário de viagem com o nome de rio Madeira.3


Antônio Raposo Tavares em 1650 com sua bandeira composta por mamelucos paulistas e indígenas, percorreu desde o local de sua formação até a sua foz na margem direita do rio Amazonas, por esse prosseguindo descendo o sue curso até alcançar em 1651, o Forte de Gurupá nas proximidades da foz desse rio no Oceano Atlântico litoral do Grão-Pará.4  Esta bandeira constituída por duzentos paulistas e um mil duzentos e sessenta índios saiu de São Paulo em 1647, margeando os rios Tietê, Paraná e Paraguai, tomando o rumo do Oeste atingindo as possessões espanholas nos Andes, retrocedendo na direção do Leste encontrando as nascentes do rio Grande La Plata ou Mamoré, tomou seu curso navegando-o em balsas rústicas ao sabor da correnteza, vencendo suas corredeiras, saltos e cachoeiras chegando a sua foz, desta prosseguindo pelo rio Cayari (Madeira) até sua desembocadura no rio Amazonas.

 

O rio Madeira era pela primeira vez percorrido por luso-brasileiros e dado conhecimento à metrópole (Lisboa) de sua extensão, dos habitantes de suas margens e de seu provável potencial econômico. (Raposo Tavares cumpria determinações políticas secretas pessoalmente de D. João IV, em Lisboa)

 

Consolidada a ocupação portuguesa na foz do rio Amazonas com a expulsão dos franceses, ingleses e holandeses e a dominação dos tupinambás e outros indígenas seus aliados, os lusos iniciaram a colonização do Vale Amazônico subindo o rio Amazonas e os seus afluentes, em bandeiras fluviais assentando fortificações militares*, núcleos agropecuários e missões religiosas

 

*(Presépio, Gurupá, Macapá, Santarém, Óbidos, São José do Rio Branco, São Joaquim, São José das Marabitanas, São Gabriel das Cachoeiras, São Xavier de Tabatinga e Forte do Príncipe da Beira)

 

Os padres jesuítas de 1640 iniciaram contatos com as nações indígenas do vale baixo do rio Madeira.

Em 1669 tendo à frente do Padre Manoel Pires e padre Grazoni fundaram a missão de Tupinambara na ilha com essa mesma  denominação, situação próximo a foz do rio Madeira com a finalidade de centralizar a catequese dos indígenas, apoiar a conquista do vale do rio Madeira e impedir que os índios continuasse a comercializar com os holandeses assentados no rio Negro, conforme constatou o padre Serafin Leite e posteriormente o padre Jódoco Peres, em viagem de exploração pelo baixo rio Madeira.

 

Em 1687, os padres Jesuítas apoiados na missão Tupinambarana instalaram várias missões no rio Madeira nas aldeias dos indígenas dos quais conseguiram conquistar a amizade e fazer alianças. A partir de sua foz rumo as nascentes encontravam-se instaladas missões em Abacaxis, Paranaparixaria, Canumã, Onicoré e Tarerise.

 

Os padres José Barreiros e João Ângelo Bononi, em 1689, seis anos após a visita do superior dos jesuítas da Missão de Tupinambara padre Jódoco Peres, aos índios Iruris, instalaram uma missão na aldeia desses indígenas.

 

A ação missionária expandia-se proporcionalmente ao aumento das atividades coletoras de especiarias (drogas do sertão) e sua comercialização pelos padres e índios com os comerciantes das bandeiras fluviais do Grão-Pará, pelo processo de escambo. As missões do rio Madeira alem se suas atividades catequéticas exerciam também as de empórios comerciais.

 

As atividades missionárias encontravam obstáculos à sua expansão impostos pela resistência das nações indígenas, principalmente a dos Tora, Mura, Mundurukos, Parintintin, intensificado-se as hostilidades a partir de 1715, após o capitão João de Barros Guerra por ordem do governador o Grão Pará, Crhistóvão de Costa Freire, haver atacado os Toras, expulsando-os da foz do rio Madeira, perseguindo-os até acima os Manicoré. Essa repressão deu-se em decorrência desses índios terem expulsados os colonos do rio Madeira, em represálias por esses colonos terem aprisionados indígenas dessa nação vendendo-os como escravos.

 

Os muras foram atacados por tropas de resgates comandadas pelo capitão Diogo Pinto Gaya (1718/1722) em Maicy, sendo aprisionados mais de quarenta indígenas, levando-os para Santa Maria do Grão-Pará. Tais ações bélicas geraram não só o permanente estado de guerra dos Muras, Toras, Parintintins, como também a desconfiança das outras nações em relações aos bons propósitos dos padres e dos colonos.

 

Apesar da resistência dos indígenas a invasão de seus territórios, as atividades missionárias e comercias se expandiam, os padres assentando missões agregando os indígenas e os comerciantes com suas bandeiras fluviais cada vez em maior número, percorrendo os baixos cursos do rio Madeira, penetrando em seus afluentes entre os quais o rio Jamari abundante em cacau, trocando ferramentas e outros produtos manufaturados por especiarias da floresta (drogas do sertão) com os índios e com os padres, estes mantinham o controle desse rendoso comércio.

 

O padre Jódoco Peres superior dos jesuítas de Tupinambarana, em 1683 subiu o rio Madeira durante nove dias até alcançar a aldeia dos índios, Iruris, na qual pretendia instalar uma missão, não obteve êxito. Essa missão só foi instalada em 1689.

 

Em 1712 o padre jesuíta João Sam Payo, entrou no rio Madeira se estabelecendo na aldeia indígena de Canumã, erigindo igreja e casas iniciando o seu trabalho missionário no vale desse rio.

 

A intensa ação missionário e a rendosa atividade de coleta e comercialização de especiarias no rio Madeira, estimularam a organização no Grão-Pará, de uma bandeira fluvial sendo designado para comandá-la o sargento-Mor Francisco de Melo Palheta, foi composta por trinta soldados e noventa e oito índios flecheiros embarcados em sete canoas com a incumbência de proceder minucioso levantamento da fisiografia do vale do rio Madeira, percorrer todo seu curso, descobrir suas vertentes, contatar pacificamente com seus habitantes nativos, proceder o levantamento das atividades econômicas e políticas dos colonos e padre lusos, bem como de concorrentes estrangeiros, saiu de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, em 11 de novembro de 1722, chegou a foz do rio Madeira no 02 de fevereiro de 1723, prosseguindo rio acima, estacionando no dia 19 desse mesmo mês e ano, em Jumas, instalando um arraial mandando construir uma igreja (dedicada á Santa Cruz de Inlumar), armazém, quartel, casas e seis canoas menores para travessia das cachoeiras. Aí permaneceu aguardando os mantimento solicitados à Belém-do-Pará, os quais chegam em 04 de Junho de 1723, acompanhados pelo padre João Sam Payo – Dia 10 de Junho nomeou Lourenço de Melo, Governador do arraial de Junas e reiniciou a subida ao rio. Dia 22 de Junho chegou a primeira cachoeira a do Aroyo, prosseguindo atingiu as missões espanholas de Santa Cruz no rio Mamoré. Retornando a Belém-do-Pará, a qual alcançou no dia 12 de Setembro de 1723.5

 

Em 1723 o padre João Sam Payo, fundou a missão de Santo Antônio próximo a foz do rio Jamari, dentro da área, atualmente limitada pelo Estado de Rondônia, mudando-a posterior mente para o lago Cuniã a fim de proteger os índios dos ataques dos indígenas adversários e dos aventureiros que trafegavam pelo rio Madeira.

 

Os Muras, Parintintins e Caripunas detiveram a expansão das missões jesuíticas na cachoeira de Santo Antônio obrigando os padres, colonos e indígenas aliados destes, a recuarem até o próximo a foz do rio Jamari nas vizinhanças do rio Beata; daí se deslocando até a foz do rio Jí-Paraná, na qual instalaram a missão de Camuam, sendo dessa desalojados em decorrência dos constantes ataques dos indígenas, bem como surto de doenças debilitando-os. Abandonaram o local deslocando-se rio abaixo até a missão de Trocano (atual cidade de Borba), na qual os padres dispunham de recursos bélicos para se defenderem, inclusive dois pequenos canhões.

 

Enfrentando a hostilidade dos indígenas os padres prosseguiram o trabalho catequético de aldeando, e pacificação das nações aborígines, com vista a consolidar a ocupação lusa no vale do rio Madeira, em observação à política de expansão territorial no continente americano, disposta pelo governo metropolitano português. Consoante ao alcance desse objetivo, o padre João Sam Payo em 1728 explorou os baixos e médio cursos do Jamari. Organizou uma expedição qual subiu o rio Madeira alcançando a cachoeira Aroya (Santo Antônio), daí prosseguindo vencendo as cachoeiras, saltos e corredeiras dos Macacos, Laguerites (Teotônio), Morrinhos, Calderao do Inferno, Jirau, Três Irmãos, Paredão e Perdeira, atingindo a foz do rio Ferreiro por esse subindo até próximo a sua nascente, onde encontraram uma missão de padres jesuítas espanhóis. Retornando ao Madeira, penetrou no rio Abunã, afluente desse pela margem esquerda, retrocedendo da cachoeira de Fortaleza, prosseguindo sua rota Madeira acima, atravessando cachoeiras e saltos de Araras, Periquitos, Ribeirão, Misericórdia, Chocolatal, Madeira, passando pela foz do rio Beni e penetrando no rio Mamoré atravessando neste as cachoeiras de Lages, Pau Grande Bananeiras, Guajará-Açu e Guajará Mirim, seguindo até a foz do rio Guaporé por este prosseguindo até alcançar os arraias de cata de ouro do bandeirantes paulistas no alto curso desse rio, onde retornou à sua missão no médio Madeira. Tanto no percurso de ida como no de retorno os expedicionários mantiveram os possíveis contatos com os indígenas na tentativa de captar sua mensagem e os convencer a se tornarem aliados e súditos do rei de Portugal, bem como a aceitarem habitar em missões e a seguirem os procedimentos  da santa igreja católica apostólica romana.

 

No ano de 1727, anterior a citada expedição, o padre João Sam Payo, estabeleceu na margem direita do rio Madeira em frente à cachoeira do Aroya, a missão de Santo Antônio das Cachoeiras a qual teve curta duração sendo arrasada pelos indígenas.

 

Em face permanente estado de beligerância do Muras atacando e destruindo aldeamentos jesuíticos, povoamentos coloniais e embarcações dos comerciantes droguistas do sertão, o padre provincial da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, solicitou ao rei de Portugal que fosse declarada "guerra justa" à nação Mura, a qual ocorreu entre 1738/1739.Porém em Carta Régia de 10 de março de 1739, Dom João V. Monarca Português determinou a suspensão das hostilidades por considera-las injustas e desnecessárias, tendo em vista que essa guerra tinha como finalidade deixar livre de quaisquer empecilhos a redondeza comercialização de cacau e outras especiarias, exercidas pelos padres jesuítas no vale do rio Madeira e nos dos seus afluentes principalmente dos rios Jamari e Ji-Paraná.

 

Os Muras permaneceram oferecendo resistência à ocupação lusa no vale do rio Madeira. Mesmo assim no decorrer dos séculos XVII e XVIII, foram fundadas várias missões e povoados tais como:

Tupinambarana (1669), Abacaxis, Paranaparixana, Onícoré, Tarerise, Tocano, Canumã e Iruris (missões no baixo Madeira), o núcleo colonial de Jumas fundado pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta (1723), Santo Antônio, Cuniã, Beata, Santo Antônio das Cachoeiras e Camuan (missões no médio Madeira, de efêmera duração, destruídas pelos indígenas). O governo criou núcleos coloniais com destacamento militar, estes para protegerem os colonos, evitarem o contrabando de ouro, cobrarem os quintos devidos ao rei e auxiliarem os navegantes nas travessias das cachoeiras sendo eles: São João do Crato presídios de degredados portugueses (atual São Carlos); Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto Grande (ch* de Teotônio); Balsemão (ch Jirau); São José de Monte Negro (ch de Ribeirão). As missões e os povoados no médio e alto curso do rio Madeira, situavam-se em espaço atualmente delimitado pelo estado de Rondônia.

O rio Madeira era via natural de transporte entre a Vila Bela Santíssima Trindade a capital do ouro, vale do alto rio Guaporé e Santa Maria de Belém-Grão-Pará, na foz do rio Amazonas, o ponto mais próximo à Lisboa na Europa.

 

A ligação entre esses dois núcleos urbanos era feita pela Companhia de Navegação do Maranhão e Grão Pará (estatal) detentora do monopólio da navegação na rota fluvial Amazonas/Madeira/Mamoré/Guaporé, rota oficializada pela Carta Régia de 14 de novembro de 1752, competindo-lhe com exclusividade o abastecimento com os produtos importados e o escoamento da produção de ouro das minas de Vila Bela de Mato Grosso, no Vale do rio Guaporé.

 

Anterior à supracitada Carta Régia, a rota que oficializou, havia  sido percorrida em 1724 pelo sargento-mor João Azevedo, de Belém-do-Grão-Pará à Vila Bela Trindade em Mato Grosso; por Felix de Lima em 1742, em sentido contrario Vila Bela /MT - Belém/PA e por Luís Fagundes Machado em 1749, realizando o levantamento cartográfico da Amazônia Ocidental (Belém/PA – Vila Bela/MT). Esta expedição teve a maior relevância etnográfica e política, visto Ter proporcionado o encontro no vale do alto Guaporé, dos mamelucos lusos-paraenses vindos do Norte, com mamelucos lusos-paulistas vindos do Sudeste, fechando o circulo geográfico que estabelecia a Oeste, as pretensões territoriais portuguesa na América do Sul.

 

Em 1779 vindos de Belém-do-Grão-Pará, Luiz Fagundes Machado e José Gonçalves Fonseca, sobem o rio Madeira rumo a Vila Bela/MT, demorando-se cinqüenta e três dias na travessia das cachoeiras.

 

Entre 1781 e 1782, esteve percorrendo o rio Madeira até alcançar Vila Bela/MT, A Comissão de demarcação de limites entre as colônias portuguesas e espanholas, da qual participavam o Capitão Ricardo Lacerda Franco de Almeida Serra e o engenheiro João Lacerda e Almeida.

 

Chefiando a expedição filosófica, Alexandre Rodrigues Ferreira de Gusmão, em 1788 esteve no rio Madeira a caminho de Vila Bela/MT

 

Ao termino do século XVIII o curso e o seu vale já eram bastante conhecidos, o primeiro por ser integrante da rota fluvial de abastecimento dos arraias auríferos do alto Guaporé e Vila Bela/MT e de exportação do ouro desses para Portugal via Belém-do-Grão-Para e o segundo por ser área rica em especiarias vegetais (as drogas do sertão) de alto valor comercial, principalmente o cacau nativo.

Fonte: Abnael Machado de Lima/Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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