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Viriato Moura

GESTOS QUE PODEM MELHORAR O MUNDO



Em recente estada em São Paulo, ao tomar um taxi que me levaria de volta ao hotel, fui surpreendido por dois gestos simples, porém definidores de uma conduta a ser praticada por cada um de nós para melhorar o mundo.

Aquela que é a maior capital brasileira, tem o maior problema brasileiro de trânsito, como se sabe. Como se não bastasse o excesso de veículos, nos dias chuvosos há alagações que além de obstruírem as vias urbanas causam prejuízos aos proprietários dos veículos que lá circulam. Um agravante corriqueiro nessa situação já caótica ocorre quando há acidentes de qualquer ordem que dificultam o fluxo do tráfego. É frequente ouvirmos pelo rádio informações sobre engarrafamentos, por vezes quilométricos.Gente de Opinião

Dito isso, sobejamente sabido por quem transita por grandes cidades, e que é vivenciado diariamente por seus profissionais do volante, é fácil concluir que eles atuam sob condições de tensão com muita frequência.

Assim sendo, por volta das 23h, quando tomei o referido taxi, presumi que seu condutor estivesse cansado e nervoso, visto estar trabalhando há muitas horas e ter passado por um horário em que as pessoas voltam para casa, no início da noite, e com isso precisam ter muita paciência para enfrentar as agruras da lentidão e dos riscos acrescidos ao trânsito.

Mesmo nessa condição, quando se poderia esperar que o estado emocional do motorista em questão  o deixasse um tanto impaciente em relação a qualquer obstáculo, e até avesso a gestos de concessão, foi que ele, na contramão da lógica circunstancial, agisse de um modo que me surpreendeu.

Ao chegarmos numa esquina, eis que se aproxima uma senhora aparentando cerca de  quarenta e poucos anos, que caminhava pela calçada  à nossa direita, e, denotando cansaço após um dia de trabalho (parecia ser uma secretária do lar), por pouco não avança na rua onde trafegávamos, para atravessá-la. Nesse momento, o taxista parou imediatamente seu carro e deu sinal com a mão direita para que atravessasse. Mas tomou o cuidado de ver pelo retrovisor se vinha algum outro veículo que pudesse surpreende-la a ponto de atropelá-la. Foi quando observou um motoqueiro que se aproximava,   e por isso poderia atingi-la quando ela ultrapassasse o limite do nosso taxi.

Num gesto rápido e firme fez sinal com seu braço esquerdo, por fora da janela, para que ele parasse, no que foi atendido. Assim, a mulher pôde atravessar com segurança aquela via. Merece referência o fato de ela não ter expressado qualquer gesto de agradecimento, de gratidão, face a gentileza do motorista.

Desse contexto, aparentemente simples, que deveria fazer parte de nossos atos cotidianos, pode-se concluir que as condições de estresse que vivenciamos, que nos incitam a desatinos, não deveriam ser suficientes para justificar nossos atos contra quem nada ter a ver com isso. E ainda que não basta fazer o bem (no caso, a  concessão para uma transeunte transpor a rua), é preciso que, dentro de nossas possibilidades, evitemos que  algum mal aconteça (preservar a senhora do atropelamento pelo motoqueiro, o que também o beneficiaria).

Logo após o ocorrido, disse ao motorista que se todos agissem como ele, não só no trânsito como em qualquer circunstância, certamente muitos danos poderiam ser evitados. Ele agradeceu.

Quanto ao fato de a beneficiária daqueles gestos não ter demonstrado gratidão, nos intui a refletir sobre as reações das pessoas ajudadas por nós. E concluir que não devemos nos abalar por essa falta de reconhecimento (tão comum, por sinal) a ponto de nos abstermos de praticar o bem.

Ao chegarmos a nosso destino, o hotel, reiterei o que havia dito ao bom cidadão e lhe paguei a corrida em dobro. Ele agradeceu novamente. Quanto a mim, mais feliz de que quanto tomei o seu taxi, desembarquei acreditando um pouco mais no ser humano, que tantas vezes nos leva a pensar que está definitivamente perdido.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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