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Montezuma Cruz

A dinheirama ‘exportada’ e o vazio do Guaporé


A dinheirama ‘exportada’ e o vazio do Guaporé - Gente de Opinião


Montezuma Cruz
 

Longe do centro decisório neste País, o Vale do Guaporé não tem ideia dos favores prestados pelo governo federal a países estrangeiros. No ritmo das águas e do conformismo de sempre, sua gente ouve apenas notícias pelo rádio, às vezes assiste TV, permanecendo alheia ao que lhe poderia causar espanto.
 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) financia frigoríficos falidos, empresas de araque, porém, fecha os olhos ao social amazônico. Com juros privilegiados, liberou diretamente cerca de quatro bilhões de dólares a dez grandes empreendimentos no Equador, Venezuela, Paraguai e Cuba. O metrô venezuelano saiu mais rápido do que o de Belo Horizonte (MG).
 

Sucessivas vezes esse banco cedeu aos encantos das empresas construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez, ambas citadas na Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras.  Nenhum de seus técnicos telefonou ao Governo de Rondônia para saber se aqui existe a necessidade de alguma obra social tal qual eles supõem sejam aquelas sul-americanas e do Caribe.
 

Numa palidez impressionante, a classe política rondoniense se afasta da visão macro do que lhe significaria ter peito, coragem, voz e voto na obtenção de dinheiro para resgatar pelo menos duas embarcações – ou então, fabricar outras –, refazendo a antiga rota da navegação fluvial nos rios fronteiriços à Bolívia. Quem sabe, isso também beneficiaria comunidades do Baixo Madeira.A dinheirama ‘exportada’ e o vazio do Guaporé - Gente de Opinião
 

Com menos de R$ 10 milhões, por exemplo, barcos com chão de imbaúba, seriam aparelhados com eficácia e simplicidade por canoeiros ainda operários que perambulam à beira-rio Mamoré.
 

Um píer coberto, em espaço decente, e equipamentos de segurança, trariam de volta aquele que um dia se denominou Serviço de Navegação do Guaporé.
 

Parcerias público-privadas deram certos em diversos lugares. O Grupo Maggi transporta soja para a exportação. Quem sabe, esse ou outro grupo decidisse investir no povo ribeirinho, descontando o social no seu polpudo imposto de renda e nas benesses ambientais a eles concedidas desde o Governo Ivo Cassol.
 

Lamentavelmente, em sua vertente rodoviária o “Deus mercado” impede que a bancada política rondoniense redija, sem subterfúgios, projeto convincente para recuperar a navegação na parte que nos cabe da Bacia Amazônica.
 

Investimentos bilionários – haja comissões! – em rodovias e ferrovias enchem os olhos dos parlamentares estaduais e federais, roubando-lhes a lucidez e a solidariedade perdidas.
 

Acrescente a essa preocupação a reação e o papel da Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão, da Secretaria de Finanças, e de Sua Excelência o governador Confúcio Moura. Eles são competentes para criar o embrião da retomada.
 

Famílias isoladas visitariam regularmente feiras populares, hospitais, parentes e amigos em Guajará-Mirim, permitindo-se da mesma forma que os da cidade penetrassem nas várzeas e ilhas do Guaporé para adquirir hortifrútis e se deslumbrar com tão belas paisagens.
 

Em tempos antigos, as viagens eram feitas três vezes ao mês. Isso implica ter e sustentar administração correta, hoje bem fiscalizada pelo Ministério Público e pelos tribunais de contas (Estadual e da União), de maneira que nenhuma pessoa gastaria mais combustível do que o necessário, nem transformaria a empresa em cabide de emprego. Tem que ser enxuta, pagando estatutariamente a quem é capaz de movê-la: práticos, marinheiros, seguranças e supervisores.
 

O gasto de combustível na campanha eleitoral permite antever que o povo do Guaporé só bebe hoje a calda do pudim. Essa gente está à míngua.
 

Abram suas mentes, senhoras e senhores. Pensem, transformem, existam.

(Originalmente publicado na edição de 3 de fevereiro de 2015, no jornal Alto Madeira)

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* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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