Segunda-feira, 15 de outubro de 2012 - 06h12
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Heródoto Barbeiro
Impor uma determinada visão de mundo é tão antiga quanto as mais antigas sociedades humanas. Por volta de 300 anos antes da nossa era, o imperador Huang Ti, da dinastia Qin, determinou que o mundo começaria com ele. Repetia, em chinês é claro, nunca antes neste mundo havia acontecido coisas novas e fantásticas como no seu reinado. Além das transformações econômicas, centralização política, unificação do exército, domínio dos senhores feudais locais, organização burocrática do estado. ele iniciou a construção da muralha.Com ela a civilização chinesa não seria contaminada com o contato de outros povos e poderia viver com a sua própria verdade. O mundo começava com o seu reinado e para tanto era preciso apagar os relatos anteriores. Não teve dúvidas, mandou queimar todos os livros e muitos intelectuais recalcitrantes foram enterrados vivos, para servir de exemplo a quem insistisse em divulgar outras visões de mundo. A China ocupava, segundo o líder, o topo do mundo, o centro do universo e por isso não podia conviver com quem divulgava ideias fora do ideário oficial. Não bastava impor a opinião da maioria submetida, era preciso impedir que outros manifestassem pontos de vista diferentes, que ameaçavam a sociedade, a moral e os bons costumes. Realidade ou ficção tanto fazia, o passado não existia mais.
Impedir que visões não entendidas como corretas, morais e oficiais fossem divulgadas permearam a luta pela liberdade de expressão ao longo do tempo na civilização humana onde quer que tenha se desenvolvido, ás margens do Rio Amarelo, Ganges, Nilo, Tigre, Eufrates, Pó ou qualquer outro lugar. Há momentos mais emblemáticos como a ação de Huang Ti, ou do bispo católico Torquemada, na Espanha do Século XVI. O caolho Camões foi obrigado a submeter seu poema épico ao controle da censura para obter um nihil obstat. Em uma praça de Berlim, próxima a Unter em Linden Strasse , o grupo juntou uma montanha de livros e queimou numa grande festa do partido nazista . O livros perniciosos para a edificação de uma sociedade sadia, pura, edificante, representante da superioridade de alguns foram dizimados para sempre. Não existiam mais, crianças e jovens estavam protegidos contra a divulgação de ideias que podiam prejudicar a visão de mundo que o líder supremo havia escolhido para todos. O império de mil anos.
Vez por outra surge um defensor de seus princípios morais que quer que todos o acompanhem. Assim ameaçam entrar na justiça para impedir um filme, uma peça de teatro, um livro ou qualquer outra manifestação do pensamento. São os censores contemporâneos, os
guardiões dos costumes, os tutores e tutoras de todos. Partem do princípio que os demais são incapazes de decidir o que devem ou não ver, ler ou ouvir. Atacam a liberdade de expressão sob o manto que defendem a sociedade do que consideram pernicioso, perigoso, contrário ao que elegeram como o bom, o bem, o belo e o civilizatório. Uns fazem isso em nome da religião, outros da moral proletária, outros da santidade dos costumes, todos impositivos e se preciso lançam mão da ação na justiça, da fogueira ou do ataque da turba contra alguém. Eles estão à solta pelos continentes. A esperança é que com a internet e a impossibilidade de impedir a circulação das manifestações da cultura humana sejam soterrados em uma montanha de bits e bytes.
Fonte: Heródoto Barbeiro - escritor e jornalista da RecordNewsTV
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