Sexta-feira, 7 de novembro de 2008 - 06h59
MATHEUS PICHONELLI
da Agência Folha
"Se fosse na ditadura eu já estava fuzilado." É assim que o governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido), 49, classifica a cassação de mandato sofrida no TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Após obter no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma liminar que suspende a decisão do TRE, Cassol afirmou à Folha que não teve oportunidade de se defender e se diz vítima de perseguição pessoal e política.
Cassado na terça-feira por captação ilícita de sufrágio e abuso de poder nas eleições de 2006, Cassol é acusado de integrar um esquema de pagamento a funcionários de uma empresa para votarem nele. É suspeito de usar o cargo para impedir investigações sobre corrupção eleitoral ao mandar a Polícia Civil abrir inquérito para investigar testemunhas.
FOLHA - O sr. acredita que uma nova eleição ainda ocorrerá no Estado, conforme determinou o TRE?
IVO CASSOL - Não acredito que a injustiça prevaleça. Não tem nada nos autos contra a minha pessoa. Mesmo assim fui morto, crucificado e enterrado.
FOLHA - A relatora se disse convencida de seu envolvimento e que a Policia Civil do seu Estado coagiu testemunhas. A mãe de uma delas teve a casa alvejada por tiros.
CASSOL - Os processos foram misturados. Se após as eleições eu cometi algum erro, quem tem que me julgar é o STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Será que quem deu esse tiro não foi quem seria beneficiado pela cassação do senador Expedito Júnior [do PR, também cassado pelo TRE-RO]? Uma das pessoas que dariam depoimento contra mim se sentiu coagida pela Polícia Federal e procurou a Polícia Civil, a quem cabe apurar os fatos não eleitorais. E o que apuraram não tinha nada a ver com compra de votos. O Ministério Público está criando isso [a relação dos fatos], e a relatora [do processo no TRE, desembargadora Ivanira Feitosa Borges] foi no embalo. Fui julgado politicamente. Se me sentir lesado, não tenho direito de ir ao TSE? Não me deram esse direito. Aqui me tiram do cargo hoje e já marcam nova eleição.
FOLHA - Mas o sr. não compareceu ao julgamento no TRE.
CASSOL - Porque já estava tudo definido antes. Seria unanimidade contra mim. Se fosse na ditadura, estava fuzilado. Não poderia me defender.
FOLHA - O governo do sr. foi marcado por crises e investigações. Isso cria instabilidade no Estado?
CASSOL - O trabalho da PF e das instituições continuam independentemente das eleições. Fico triste com isso, mas vou continuar lutando. Isso me deixa cada vez mais forte. Eu tenho esse Reginaldo [Pereira da Trindade, procurador regional eleitoral] na minha cola não é de agora, faz anos. É questão pessoal, doentia, dele contra mim desde que eu era prefeito em Rolim de Moura [RO] e ele era o promotor da cidade.
FOLHA - O sr. pensou em renunciar pra garantir os direitos políticos?
CASSOL - Nem que a vaca tussa. Jamais faria essa desfeita com povo do Estado que me elegeu.
FOLHA - O fato de o sr. não estar filiado a nenhum partido é sinal de enfraquecimento?
CASSOL - Todos os partidos gostariam de ter o governador Ivo Cassol. Minha conduta deixou inimigos no caminho. Denunciei desmandos em Rondônia, como na Operação Dominó, com autoridades de outros poderes. Sou polêmico, mas minhas condutas são sérias.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
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