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Primeira mulher trans doutora em História no Brasil

Lauri Miranda Silva defendeu a tese junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Federal do Rio Grande do Sul


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Egressa da graduação em História e do mestrado em História e Estudos Culturais da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), a professora historiadora Lauri Miranda Silva se tornou a primeira mulher trans doutora em História no Brasil. Lauri defendeu sua tese em agosto, junto ao Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade  Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sob a orientação do professor Benito Bisso Schmidt.

O trabalho intitulado “Vozes subversivas e corpos transgressores: memórias e narrativas da (re)existência de militantes dos movimentos LGBTQIA+ e de mulheres contra as opressões interseccionais em Rondônia (a partir da década de 1980 a 2022)” recebeu conceito A e recomendação para publicação. A banca de avaliação foi composta pelas professoras Marta Gouveia de Oliveira Rovai (Unifal), Fabíola Holanda Barbosa Fernandez (SLMandic), Megg Rayara Gomes de Oliveira (UFPR) e Natalia Pietra Mendez (UFRGS).

A pesquisa

A tese de Lauri aborda o histórico dos movimentos LGBTQIA+ e de mulheres em Rondônia, levando em conta as opressões de classe, raça, gênero e sexualidade contra seus militantes. Ela investiga também a aliança desses grupos como forma de resistência ao avanço dos grupos conservadores e reacionários na região.

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“Não só ouvi de forma ética e sensível os testemunhos das/dos militantes, mas também me coloquei como sujeita viva das opressões do nosso tempo, pois faço parte dessa memória sociocoletiva construída, enquanto historiadora, sobrevivente e denunciante das mazelas de um passado que continua reverberando no presente. Porém seguimos lutando para que não tenhamos nossos direitos violados e nossas histórias esquecidas”, relata Lauri, enfatizando a contribuição da tese para produções acadêmicas em torno das relações de gênero e sexualidades.

Lauri aponta que seu trabalho relaciona diferentes dimensões: "O meu trabalho foi gestado da vontade de conhecimento, de luta, de resistência e de empoderamento, a partir de um corpo com marcadores sociais carregados de opressões interseccionais, um corpo que é transgressor, desobediente e subversivo contra a ordem hegemônica. Eu sou uma mulher trans afro-amerindígena, ribeirinha, cabocla, beradeira, periférica, nortista, amazônida, rondoniense, porto-velhense, professora, oriunda de escola pública e de universidade pública”.

“O trabalho de Lauri é extremamente inovador na maneira como utiliza entrevistas de militantes LGBTQIA+ e mulheres cis, além de outras fontes, para construir uma outra história da Região Norte, marcada por lutas e resistências”, comenta o orientador Schmidt, destacando a sensibilidade de Lauri para articular, na análise, diferentes opressões, desvelando tramas pouco visibilizadas na historiografia nacional.

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Formação acadêmica

Na UNIR, Lauri cursou História entre 2007 a 2010, e o Mestrado em História e Estudos Culturais de 2013 a 2015. Foi durante a graduação que ela ingressou nos grupos de estudos e pesquisas (Boiúna, Centro de Hermenêutica do Presente e Centro Interdisciplinar de Estudo do Imaginário Social) e em projetos de ações afirmativas (Conexões de Saberes) que ajudaram a trilhar sua trajetória acadêmica e formação para a vida: “foi a partir das leituras e discussões ocorridas nos grupos de pesquisa, sobre história oral e minorias na região amazônica, que percebi a necessidade de pesquisar sobre as questões LGBTQIA+ e mulheridades em Rondônia”.

Mais tarde, buscando dar continuidade na sua formação enquanto historiadora e na carreira docente, migrou para a região Sul do país em fevereiro de 2019 para cursar o doutorado em uma cidade e instituição até então desconhecidas. “Eu fui uma desbravadora em meu estado para que outras trans pudessem se espelhar para também ingressarem nas universidades. Estou muito feliz por ter chegado até aqui, mas não foi fácil, pois nós, travestis e mulheres trans, somos minorias nas universidades públicas. Espero que a minha tese seja uma contribuição valiosa, e em breve estará disponível para leitoras e leitores”, afirma.

A recém-doutora atua há mais de dez anos como professora de História da educação básica e após a obtenção do título serguirá realizando pesquisas de pós-doutorado e a carreira acadêmica.

Ações Afirmativas

Lauri conta que viu no PPGH da UFRGS uma oportunidade para aprofundar seus estudos e conhecimentos. Um dos pontos que a atraiu para o Programa foi a política de ações afirmativas, que inclui vagas para estudantes trans. Segundo ela, as cotas são “um meio indispensável para um possível reparo histórico de nosso seguimento na educação brasileira”, uma vez que um levantamento da Andifes de 2019 apontou que apenas 0,02% do total de estudantes das IFES são travestis e trans (autodeclarados).

“Precisamos avançar, pois há ainda resistência por parte da comunidade acadêmica e de grupos conservadores e LGBTQIfóbicos (dentro e fora da universidade) na maioria dos estados do Brasil com relação ao sistema de cotas para negros, pardos, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência e trans, grupos que historicamente foram excluídas/os do sistema educacional brasileiro”, enfatiza.

O orientador Benito Schmidt também reforça a importância das ações afirmativas, tanto para reparação histórica, como para a incorporação de novas epistemologias ao saber acadêmico, entre as quais o transfeminismo do qual se vale Lau

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