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Economia - Nacional

Produtores de equipamentos podem demitir até 28 mil


 
Os fabricantes de equipamentos para o setor sucroalcooleiro poderão demitir até 28 mil trabalhadores a partir de abril de 2009, o que representa cerca de 15% do total da mão-de-obra empregada no segmento, estimada em 190 mil pessoas. Segundo o diretor executivo do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético (Ceise), Flávio Marques Vicari, o movimento é reflexo das dificuldades pelas quais vem passando a cadeia produtiva do setor de açúcar e álcool.

Vicari disse que as demissões só não começaram ainda porque as usinas estão demandando serviços de manutenção para os equipamentos. “Estamos na época de entressafra, quando as usinas são desmontadas e seus equipamentos são enviados aos fabricantes para serviços de remanufatura das peças que se desgastaram, preparando-as para a próxima safra”, explicou Vicari. Segundo ele, o período de manutenção vai até março ou abril.

O diretor executivo do Ceise disse que a demanda por estes serviços das usinas geralmente gera um acréscimo ao redor de 10% da força de trabalho dos fabricantes de equipamentos. Este ano, porém, as empresas não contrataram. Segundo ele, por causa da crise, muitas usinas deixaram de fazer a manutenção de todo o seu equipamento. “Há usinas que só estão ‘remanufaturando’ 50% dos equipamentos e há casos em que este percentual chegou a apenas 20%. Obviamente isto deverá afetar a produtividade destas usinas quando voltarem a funcionar”, disse.

Conforme dados do Ceise, até o início de novembro, 29% das encomendas das usinas de açúcar e álcool já haviam sido postergadas. Foram cancelados cerca de 23% dos projetos e o nível médio de inandimplência atingiu 36%. Os dados foram obtidos a partir de pesquisa realizado pelo Ceise no começo do mês passado. Segundo Vicari, desde então a entidade não fez outro levantamento formal, mas ele disse acreditar que houve uma deterioração das perspectivas para o setor.

“Algumas consultas que fizemos a determinadas empresas recentemente apontam para uma piora do cenário, com mais cancelamentos e aumento da inadimplência”.

O Jornal do Commercio entrou em contato com a Dedini, maior fabricante de equipamentos para o setor sucroalcooleiro, mas a empresa não quis se pronunciar. Segundo informações de mercado, houve uma queda abrupta dos projetos em consulta dentro da companhia. No final de novembro, a Dedini teria 50 projetos de usinas em análise, ante 210 no final do ano passado.

As vendas dos produtores de equipamentos para o setor de açúcar e álcool, que incluem, por exemplo, caldeiras, moendas, tubos de destilação, tubos de fermentação, entre outros, já vinham caindo fortemente desde janeiro deste ano. Em setembro, quando vieram a crise e a escassez de crédito, a situação piorou.

“Durante três anos houve crescimento vigoroso. Nossos clientes, de capital estrangeiro ou nacional, investiram fortemente em novas unidades ou na ampliação das usinas existentes. O quadro mudou a partir de 2008. Era um ajuste previsível, pois o volume de investimentos tinha sido muito relevante e já se esperava uma acomodação. Fabricantes de equipamentos que antes corriam para atender a pedidos novos a cada semana, este ano passaram a ficar meses sem um único pedido. Quando veio a crise internacional, a dificuldade aumentou”, disse Vicari. Segundo ele, a crise obrigou as usinas de açúcar e álcool a rever todo o planejamento em poucas semanas, daí os adiamentos e os cancelamentos de pedidos. “Nossa estimativa era de que um novo ciclo de expansão se iniciaria a partir de meados de 2009″, declarou.

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) não fez levantamento específico de vendas de máquinas para o setor de açúcar e álcool. Como o Ceise, porém, a associação fez uma pesquisa para apurar os impactos da crise sobre o setor. Realizado no final de novembro, com 60 associados, o levantamento mostrou queda nas vendas para praticamente todos os setores da economia, sendo que a comercialização de máquinas para o setor agrícola apresentou redução de 38%. Quando divulgou este índice, a Abimaq destacou que os associados consultados ressaltaram que o setor sucroalcooleiro já apresentava índices importantes de inadimplência.

“O que ocorreu é que as duas crises, a do setor e a da economia internacional, se aliaram”, opina a coordenadora do conselho de bioenergia da Abimaq, Alessandra Bernuzzi.

Assim, ao contrário de outros setores que atravessavam um bom momento, a atual crise estourou num período de fragilidade do setor de açúcar e álcool. Segundo Renata Marconato, analisa da MB Agro, as usinas investiram na ampliação da capacidade até 2007, mas não tiveram a contrapartida de aumento dos preços do etanol e do açúcar este ano, como era esperado.

“As empresas vinham investindo com a perspectiva de expansão das vendas dos automóveis flex e com a perspectiva de futuras oportunidades no mercado externo, principalmente para Estados Unidos, Europa e até Japão. Os problemas começaram já no início de 2008. Este ano foi atípico, em março e abril houve uma postergação da safra por causa do atraso das chuvas. Esperava-se uma recuperação dos preços do etanol e do açúcar em agosto e setembro, o que acabou não ocorrendo”, declarou Renata. Segundo ela, até o açúcar apresentou tendência de baixa, mesmo no período em que houve grande aumento de preços das commodities agrícolas, entre 2007 e boa parte de 2008.

Para agravar ainda mais a situação, nos útimos meses, conforme diz a analista da MB Agro, as usinas passaram a vender o álcool numa época em que geralmente há aumento de estoques e preços. “As empresas estão vendendo os estoques para fazer caixa, pressionando ainda mais os preços para baixo”. Ainda endividadas com as expansões feitas nos anos anteriores, as usinas perderam a capacidade de investimento.

Diante deste quadro, os fornecedores de equipamentos pediram ajuda financeira ao governo em novembro, numa reunião com a Ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. Junto com a Abimaq e com grandes fabricantes do segmento, o Ceise pediu financiamento para capital de giro. Segundo Vicari, o governo atendeu ao pedido ampliando o Programa de Revitalização das Empresas (Revitaliza), do BNDES.

“O problema do Revitaliza são as condições. Para obter o financiamento é preciso que a empresa tenha investido nos últimos seis meses. Assim, poderá ter recursos equivalentes a até 30% do total investido neste período. Estamos em crise desde janeiro e por isso, não se investiu este ano.” De acordo com ele, o Ceise informou ao BNDES a impossibilidade de obtenção de financiamento por parte de quase todas as empresas do setor.

Para Vicari, as medidas anunciadas na semana passada pela área econômica do governos federal e pelo governo do estado de São Paulo não evitarão um aprofundamento da crise do setor de máquinas e equipamentos para o setor sucroalcooleiro. “As medidas podem ajudar indiretamente. Em tese, vão aliviar os bolsos dos consumidores, diminuindo a velocidade de queda da demanda. Ninguém vai comprar mais açúcar por causa destas medidas, mas elas são positivas, pois poderão ajudar a mover a economia”, disse.

De acordo com o diretor executivo, a liberação, por parte do governo do estado de São Paulo, de crédito de R$ 1,2 bilhão para os associados do Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas (Sindimaq) e do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) terá alcance limitado. “Deste valor de R$ 1,2 bilhão, R$ 200 milhões irão para o Sindimaq, do qual algumas de nossas companhias são associadas. O valor terá que ser dividido com empresas de vários setores”, lembrou.

Fonte: Jornal do Commercio/RJ/LUCAS CALLEGARI

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