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Entrevista da Academia Rondoniense de Letras com o professor doutor José Dettoni.


Entrevista da Academia Rondoniense de Letras com o professor doutor José Dettoni. - Gente de Opinião

1.   ARL – Gostaríamos de saber se o nobre confrade, que já ultrapassou a barreira dos 80 anos, é bacharel em direito, licenciado em filosofia, já fez mestrado, doutorado e dois anos em teologia, foi reitor da Unir, chanceler da Faculdade São Lucas, publicou inúmeros livros, é católico fervoroso e já teve o prazer de ver um de seus livros nas mãos do papa, ainda tem algum sonho para ser realizado?

José Dettoni - É uma alegria participar deste trabalho acadêmico da Academia Rondoniense de Letras – ARL. Se tenho, aos 83, ainda algum sonho? Quem não sonha (acordado) não vive. Tenho muitos. Alguns são esses: Conhecer mais 20 países, aprender mais 5 idiomas, escrever mais 85 livros, ensinar ESPERANTO e garantir que, num mês, o aluno sabe falar Esperanto. Aprender a tocar acordeão e flauta. Sonhos pequenos geram pouca energia interior.

 

2.   ARL – Nada mais oportuno do que perguntar a uma pessoa com tantas vivências, o que é a vida?

José Dettoni - A vida é dinamismo. É um processo dinâmico centrífugo. Quando esse processo dinâmico centrífugo é consciente, livre e responsável, temos um ser vivo pessoal. A pessoa tanto mais é quanto mais esse dinamismo é centrífugo, ou seja, quanto mais é para os outros, quanto mais ama, pois “SER É AMAR” (Mounier). O SER É AMOR.

 

3.   ARL – E a morte, é o fim, um recomeço, ou uma passagem?

José Dettoni - A morte é uma passagem. De uma condição transitória para uma definitiva. O que morre é a dimensão corpórea, por ser composta; a dimensão espiritual da pessoa humana não tem como morrer, pois não é composta.

 

4.   ARL – E a velhice, como poderia ser definida?

José Dettoni – A velhice é a juventude mais experiente. É bom e necessário distinguir “velhice” de “idade avançada”. Novo ou velho vale para qualquer ser vivo, aliás, mesmo os não vivos; diz-se de um cachorro novo - cachorro velho, árvore nova - árvore velha, cadeira nova - cadeira velha, sapato novo - sapato velho, mas não se diz sapato idoso, cadeira idosa. Por quê? Porque sapato, árvore e cachorro não têm a dimensão espiritual. Equiparar idade avançada (própria de pessoa humana que já experienciou a vida, larga e longamente), à velhice (própria a qualquer outro ser criado) é atraso humanístico-cultural.

 

5.   ARL – Geralmente a gente pensa que literatura repentista é coisa de nordestino, mas o nobre confrade é gaúcho de Ilópolis, e já publicou vários livros rimados no estilo literatura de cordel, de onde vem essa paixão?

José Dettoni - A literatura de cordel é própria do Nordeste, mas o repente é muito apreciado no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul. Desde a primeira vez que vi uma dupla de repentistas (trovadores), nasceu em mim o espanto, a admiração, o desafio e o desejo de trovar. No internato em Viamão (grande Porto Alegre) foi criado um Centro de Tradições Gaúchas (CTG). Entrei na “Invernada” das Trovas. Na primeira apresentação em público, o “patrão” anunciou a dupla: o parceiro e eu, cada um com seu rascunho dos versos. Gentilmente o patrão pediu os papéis, rasgou-os e os jogou fora, nos apresentando ao público. Foi a melhor lição; até hoje agradeço a Paulo Aripe, inesquecível. Repentista é repentista, não prepara os versos, os cria na hora. Paixão é paixão, tanto que meus dois primeiros livros têm como tema o REPENTE.

 

6.   ARL – O caro escritor é poeta no estilo tradicional, dos que valorizam a métrica, a rima, etc. O que o nobre confrade pensa dos poetas modernistas, e dos que pregam que a poesia não precisa de rimas, para atingir os sentimentos do outro?

José Dettoni - A rima, a métrica e outros adereços estéticos são vestimentas da poesia, muito usados ao longo da história da arte e ainda hoje apreciados, mas não são da essência da poesia. Por isso nada contra o modernismo estético. A arte, e no caso especial a poesia, constrói fontes dialogantes entre os seres humanos, mas não se prende a técnicas exclusivas nem a gostos de épocas. Ela é história porque humana, mas não se limita, menos ainda se esgota, em circunstâncias históricas.

 

7.   ARL – O nobre acadêmico pertence a duas academias rondonienses – Acler e ARL – o que o senhor pensa das academias, hoje, em plena pandemia? Muitas, ao longo do Brasil, estão fechadas.

José Dettoni - O que alimenta e nutre uma academia é o espírito acadêmico, o “élan vital” dos seus componentes. Havendo isso, ela(s) sobrevive(m) a intempéries. Exemplo disso é essa rodada de entrevistas que a ARL está promovendo. Viva! Viva!

 

8.   ARL – O que a ARL representa para o confrade?

José Dettoni - Representa muito: Desde o convite a participar dessa confraria, se me apresenta triplicemente: como honra, como desafio e como responsabilidade. É, de fato, uma especial honra pertencer à Academia, honra a que poucos têm acesso. Essa honra se metamorfoseia em desafio, pois um acadêmico que não produz frutos acadêmicos é estéril, é acadêmico de casca. Esse desafio se metamorfoseia em responsabilidade, responsabilidade social, pois a Academia não pode ser um nicho fechado, inoperante em frutos sociais. A Academia não pode ser e viver para ela, ensimesmada; sua função social é importante e deve ser exercida. Ser acadêmico é ser, em parte, responsável pela sociedade.

 

9.   ARL – Recentemente, o competente acadêmico foi candidato a deputado estadual pelo PSB, contudo, mesmo com um invejável currículo e já tendo publicado um livro titulado Educação Política, não obteve votos suficientes para uma vaga na Assembleia Legislativa. O brasileiro sabe votar ou é mera massa de manobra?

José Dettoni - Além de “Educação Política” publiquei “O Voto”. Ambos enfatizam a importância da dimensão política na educação. Candidatei-me por coerência com o que publiquei nos livros. Por razões várias, mas especialmente política, o Brasil não dá a necessária importância à Educação. O analfabetismo político ainda reina no Brasil. Nosso país, esse “gigante pela própria natureza”, seria muito melhor se a educação fosse prioridade, como é nos países desenvolvidos. Esse pode ser um belo e grande desafio para a Academia.

 

10. ARL - Guerra ou paz?

José Dettoni - Guerra não, paz sim. Mas não paz inerte, paz calmaria, paz indiferença, paz irresponsabilidade. Guerra é a maior estupidez humana, a maior incompetência humana, ainda mais no mundo contemporâneo, quando a humanidade está tão deleteriamente armada, a ponto de poder aniquilar-se por completo e ainda assim sobrar muita arma de morte. Uma guerra nuclear exterminadora é possível? Ao longo de toda a história da humanidade não foi possível, hoje é. Falta EDUCAÇÃO, falta DIÁLOGO. Falta compreender que o PÃO É NOSSO e falta viver o “...Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos...”

 

 

 

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