Sábado, 9 de junho de 2012 - 11h56
Excluídos os nazistas reticentes, ficamos chocados, indignados com as agressões e os brutais assassinatos de homens e mulheres auto referenciados como homossexuais. Felizmente, nós que assinamos o artigo, não conhecemos pessoalmente ninguém que aprove esta barbárie. Esta outra faceta da crise de civilização que enfrentamos pelo mundo afora, na verdade, é a ponta do iceberg de uma era que não mais se reconhece como criação humana.
Os códigos clássicos que nos legaram a prudência, a tolerância, a dignidade, o respeito ou o simples bom senso parecem ir por água. Afogados no egoísmo, na mercantilização das relações sociais, esquecemo-nos – para os que um dia aprenderam – de nossa humanidade e, é claro, da própria humanidade.
Indiferentes ao discurso nazista, de exceção, e que ressurge no mundo todo acabamos por compactuar com a bestialidade, forma atual de sociabilidade em que os amigos, semelhantes, correligionários, chapas, parceiros de viagem são bem vindos, defendidos, recompensados. Bestialidade porque os demais, muito ou pouco diferentes, não agradam, chocam por serem estranhos à forma adotada como “normal”, são desprovidos de sua humanidade e tratados com o máximo desprezo e violência.
A violência física, mental, moral, verbal, seja qual for, nos afeta igualmente porque retira dos diferentes a humanidade, como espécie de autorização para um tratamento de naturalização. O raciocínio (sic) é simples: se não são humanos, porque foram descaracterizados em sua humanidade, acabam vertidos em bestas – e, como se sabe, as bestas devem ser abatidas. Há um quê de mítico, mitológico nesta ação, um inconsciente que faz agir formas de irracionalidade, porque aquilo que não se explica pelo dogma, deve ser tido por indigno de viver.
Nesta forma social de bestialidade, herdeira de crenças, dogmas e mitos da exceção da verdade – se não provo, não existe –, já encaminharam as bruxas à fogueira e os judeus ao extermínio nos fornos crematórios da “solução final”. Como a irracionalidade é de uma vingança implacável, porque não se conhece outra forma de se redimir o fato, ironicamente, alguns carrascos foram decapitados e sádicos acabaram empalados.
Num desses casos, o rei romeno Vlad III, famoso por sua crueldade de empalar os adversários, acabou expulso de seu reino. De sua fúria nasceria a lenda do Conde Drácula, imbatível chefe dos vampiros. Historicamente, a incapacidade de explicar ou dominar determinados fenômenos – a exemplo da brutalidade de Vlad III – levou-nos a criar lendas e mitos. Neste caso, Vlad III metamorfoseou-se em Drácula: a Besta-Fera. Com esse status de desumanidade, indigno de ser humano, deve ser abatido, expurgado, exterminado da face da Terra. E aí o mito se converte em realidade.
No Congresso Nacional, o Projeto de Lei 122 opõe defensores do direito à liberdade de padres e pastores condenarem as práticas da homossexualidade e aqueles que interpretam essas vozes como incitação à discriminação e violência. O texto é incisivo: “Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero”.
Para a integridade de todos, é obrigatório que o debate se faça no campo da racionalidade e não da mitologia.
Profª. Ms. Fátima Ferreira P. dos Santos
Centro Universitário/UNIVEM
Prof. Dr. Vinício Carrilho Martinez
Universidade Federal de Rondônia
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