Quarta-feira, 24 de maio de 2017 - 12h27
O dia de Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira de Porto Velho, leva-me a viajar no tempo, embalada pelas minhas memórias, mais precisamente ao princípio de minha adolescência. Aluna de grupo escolar a vida inteira, cultivava no íntimo um sonho: estudar no Instituto Maria Auxiliadora.
Naquela época as ruas da cidade eram estreitas e ladeadas por uma vegetação abundante; encravadas em meio ao verde intenso da floresta, as casas; talvez por isso, à época, o sol escaldante característico desta região parecesse mais ameno. De manhã cedo, o azul e branco dos uniformes escolares tomava conta da cidade: crianças e jovens de várias idades caminhavam alegremente pelas ruas, sozinhas ou em grupos; não havia perigo algum, ninguém se sentia ameaçado por assaltantes ou atropelamentos e todos se conheciam pelo menos de vista.
É certo que eu gostava do grupo escolar. Porém a visão da ladeira Irmã Capelli, caminho obrigatório das estudantes do Maria Auxiliadora, vestidas com suas saias pregueadas de casimira azul marinho, camisa branca de mangas compridas, punhos fechados por abotoaduras e gravatas da cor da saia, despertava em mim um encantamento único; o uniforme de gala, então, aumentava o meu encantamento: boina azul marinho e luvas brancas complementavam toda aquela beleza: queria ser uma delas!
E os adereços? Estes faziam parte da indumentária das alunas do colégio dos sonhos: cada aluna do Maria Auxiliadora, na primeira sexta-feira de cada mês, levava consigo objetos religiosos que eu, do alto dos meus treze anos, considerava pura magia: terços brancos de pequenas contas, missal de capa dura ornada com arabescos cor de ouro e o véu. O véu das alunas eram discretos pedaços de tule branco cortados em forma triangular e não traziam aplicações de renda como os das mulheres adultas.
Um dia, durante a preparação para o exame de admissão ao ginásio, após ter concluído o quinto ano primário no Grupo Escolar Barão do Solimões, ouvi de minha mãe: __” Vais fazer o exame de admissão no Maria Auxiliadora. As primeiras colocadas receberão como prêmio uma bolsa de estudos; então trata de estudar, menina!”
Após o impacto inicial, senti que minha vez havia chegado. E chegou. Tive a segunda melhor nota no exame de admissão àquele ano.
Foi assim que deixei o estado completamente laico que reinava em minha casa, para mergulhar em um universo novo para mim: Capela à luz de velas na primeira hora da manhã, dedos de menina a deslizar delicadamente nas contas peroladas dos tercinhos brancos, turíbulos de prata fumegantes e missas em latim. Era mágico. E, no centro de tudo, ela, a rainha: era assim que eu considerava Nossa Senhora Auxiliadora, rainha majestosa, cujas vestes nas cores azul e rosa avermelhado deixavam à mostra seus delicados pés; na cabeça, a coroa que lhe ornava os longos cabelos, o rosto de olhar perdido e o belo semblante; em uma das mãos segurava o cetro; no outro braço, a grande presença: Jesus menino, esplendoroso, um pequeno rei que trazia na cabeça coroa semelhante à de sua mãe.
Em pouco tempo, minha voz juntava-se às dezenas de outras vozes que faziam estremecer os vitrais da capela do Colégio, quando, emocionadas, cantávamos em uníssono: Ó Virgem Auxiliadora/ Sede nossa protetora com amor/ Tu és o nosso encanto/ A ti se eleve um canto de louvor/ A ti se eleve um canto de louvor...
Raramente, hoje, subo a ladeira da Rua Irmã Capelli, moradia de Nossa Senhora Auxiliadora nas memórias de minha vida. Passaram-se muitos anos, passaram-se muitas décadas, mas sinto que ela continua presente nas lembranças mais puras que cultivo da existência e presente em minha fé, a ouvir-me os apelos nos momentos difíceis.
Viva Nossa Senhora Auxiliadora!
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