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Gente de Opinião

Luciana Oliveira

Os jovens 'se esforçaram' e conseguiram ser executados


 
 
Só quem não sabe como nasceram os redutos de exclusão social no Brasil, faz da boca uma privada pra dizer que negros e brancos tiveram e têm as mesmas condições de se distinguirem numa sociedade por educação e competência.
 
O que hoje chamam favelas, eram chamados ‘bairros africanos’ que abrigavam os ex-escravos sem moradia e trabalho, e para onde muitos foram, após serem despejados para dar lugar a uma nova cidade, sob os ares de república. Os projetos de urbanização sempre impuseram aos negros distância dos centros e foi assim no Rio de Janeiro, em São Paulo e até em Nova York quando acabaram com uma vila populosa de negros para que pudesse ser construído o Central Park.
 
Nem vou comentar as condições em que se desenvolveram as comunidades com maior população negra. A discrição da prefeitura sobre as favelas cariocas no Censo realizado em 1948, pasmem, realça claramente a fronteira social à época que sobrevive até hoje. “Os pretos e pardos prevaleciam nas favelas por serem hereditariamente atrasados, desprovidos de ambição e mal ajustados às exigências sociais modernas”, consta no registro do livro “Um Século de Favela” dos autores Marcos Alvito e Alba Zaluar.
 
O preconceito persiste com quem mora em favelas ou regiões que concentram órfãos do poder público, a tal ponto, que até apoio as milícias encontram pra praticar execuções que entendem como ‘faxina’ social. 
 
Já passou a hora da polícia fazer sua 'limpeza', demitir os maus pra salvar o prestígio que merecem os bons policiais.
 
Os policiais militares que assassinaram cinco jovens sem mais nem menos quando voltavam pra casa chocaram a sociedade, mas nas redes sociais não faltou quem inventasse conjunções adversativas pra dizer que a execução pode ter sido só mais um erro.
 
Sem hipocrisia, será que os policiais atirariam sem mais nem menos num carro com cinco jovens brancos na orla da Barra ou no Morumbi?
 
Das vítimas de mortes violentas no país em 2014, aumentou em mais de 26% o percentual de jovens entre 15 e 19 anos e mais de 14% entre os com 20 a 24 anos. Dos cerca de 30 mil jovens assassinados por ano no Brasil, 77% são negros e não duvidem, muito pelo preconceito e pelos estereótipos negativos associados a juventude negra pobre que mora longe dos centros.
 
É fácil compreender por que morrem mais jovens negros, já que a maioria habita favelas ou regiões excluídas de políticas públicas. Todos os jovens têm direito à segurança, educação, saúde, cultura, transporte, lazer, enfim, mas será que todos têm a garantidos esses serviços públicos?
 
O conceito de meritocracia muda visto sob esta panorâmica certo? Errado, tem muita gente que difunde exemplos de jovens pobres bem sucedidos que na verdade são exceção e não regra, só pra propagar a estupidez de que basta esforço pra vencer na vida. Um dia antes da execução dos cinco jovens, gastei o esmalte debatendo com um sujeito que insistiu em dizer que pobreza não é um obstáculo nos degraus de uma pirâmide social tão desigual quanto a nossa.
 
Roberto havia saído pra comemorar o primeiro salário, aos 16 anos e Wilton, de 20, iria se formar em um mês num curso técnico em administração.  
 
Não fosse a PM no meio do caminho, por mérito, um dia talvez tivessem um futuro.
 
 
Lucina Oliveira
Empresária e jornalista

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