Domingo, 12 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Luciana Oliveira

Impunidade dos crimes da ditadura abriu brechas para o retrocesso atual


Impunidade dos crimes da ditadura abriu brechas para o retrocesso atual - Gente de Opinião

Para piorar, as Forças Armadas não abriram seus arquivos, além de afirmarem que muitos foram destruídos. Nem sequer é considerada a possibilidade de reconstituição dos autos, instrumento importante para resgatarmos os feitos e descobrirmos quem são os responsáveis pelas violações cometidas contra civis e opositores políticos na época da ditadura.


Quando a retomada da democracia se dá por uma via de esclarecimento e responsabilização dos culpados, o resultado é o fortalecimento da sociedade e dos mecanismos, institucionais e legais, que combatem a volta de regimes totalitários. Isso impede que novas violações sejam cometidas impunemente. Casos na América Latina, como no Chile e na Argentina, mostram a importância do direito à memória e à reparação.

Abrir os documentos, revisar a estrutura das instituições e responsabilizar os culpados são fatores que contribuem para uma visão mais esclarecida da sociedade em relação à sua própria história. São medidas que ajudam a combater visões equivocadas, que parte dos entusiastas da ditadura possui até hoje.


Tomemos a estrutura da polícia militar como exemplo: a própria Comissão Nacional da Verdade recomendou, em seu relatório final, que houvesse a desmilitarização das polícias em geral. O que aconteceu desde então? Houve recrudescimento em diversos casos, como o armamento de guardas municipais pelo país. A militarização das polícias traz consigo um sem número de normas que são nocivas à democracia, tais como: proibição do direito à greve; fortalecimento de políticas de repressão e combate; investimento em armamento pesado; durezas da hierarquia militar. Essas características não contribuem para resolvermos o problema da violência no Brasil.


É importante dizer que nenhum governo desde a redemocratização foi o ideal no âmbito de implementar uma justiça de transição e de estabelecer o pleno direito à memória. O Brasil segue tímido quanto à possibilidade de abrir seus arquivos, de esclarecer sua história recente: nossas conquistas e descobertas sempre vieram a duras custas, com poucas verbas, ações capitaneadas por familiares, com pouco apoio.


Desde 1989, nenhuma gestão apoiou integralmente as políticas de transição: todas tiveram cautela para não “desagradar” pessoas intimamente ligadas à repressão durante a ditadura; pessoas que mantiveram sua influência nos rumos do país, em muitos casos. Esse cenário resulta nas brechas para que graves retrocessos possam acontecer, como vemos atualmente.


Qual o papel do Superior Tribunal Federal nesse cenário? E a relevância da Lei de Anistia?


O Judiciário tem sido omisso e não respondeu à altura nesse tema, chancelando culpados por violações ao fazer uma leitura equivocada sobre a Lei de Anistia [de 1979].


Em 2010, o STF decidiu pela possibilidade de aplicação da lei de anistia em favor de agentes da repressão mesmo em processos, casos e inquéritos relativos aos chamados “crimes de sangue”. Desde então, mesmo após a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o STF não reviu sua posição [nota: em 2011 o Brasil foi condenado por não investigar os crimes cometidos contra civis e militantes durante a Guerrilha do Araguaia; a sentença do chamado caso Gomes Lund foi decisiva para a criação da Comissão Nacional da Verdade]. Atualmente, há pelo menos 38 ações judiciais e 100 inquéritos criminais parados, impedidos de prosseguir por conta dessa decisão do Supremo. Há alguns anos tive reuniões com ministros da corte para debater sobre a necessidade de revisão da Lei de Anistia: me foi dito que o mérito não seria relatado. Isso é um problema grave para combater o esquecimento sobre o tema imposto à população.


*Caio Paes é jornalista.


* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 12 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Fashion Revolution será neste fim semana em Porto Velho

Fashion Revolution será neste fim semana em Porto Velho

Considerado o maior movimento ativista de moda no mundo, a semana Fashion Revolution acontece nos próximos dias 27 e 28 de abril em Porto Velho.O even

3ª Edição do Amazônia das Palavras começa dia 30 de abril em Porto Velho

3ª Edição do Amazônia das Palavras começa dia 30 de abril em Porto Velho

O objetivo da expedição literária é o incentivo e fomento à leitura, ao livro e à educação ao longo de 1300 km entre os rios Madeira, Amazonas e Negro

Amazônia das Palavras 3ª Edição acontece de 30 de abril a 17 de maio

Amazônia das Palavras 3ª Edição acontece de 30 de abril a 17 de maio

Uma programação voltada ao incentivo e fomento à leitura, ao livro e à educação foi preparada especialmente para o Amazônia das Palavras – Terceira Ed

CPT – RO completa 40 anos e elege nova coordenação

CPT – RO completa 40 anos e elege nova coordenação

Em Rondônia o CNPJ da Comissão Pastoral da Terra (CPT) nasceu há 40 anos, mas a missão profética e solidária nesta porção da Amazônia começou bem ante

Gente de Opinião Domingo, 12 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)