Domingo, 15 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Luciana Oliveira

Abram alas cabeças ocas, que o carnaval vai passar!


 
A gente nasce com a cabeça oca e não demora nossos pais vão colocando tudo o que aprenderam. Tanto em casa, quanto na escola, cedo nos ensinam a preservar os valores culturais que construímos ou herdamos e que constituem bens materiais ou imateriais indispensáveis, protegidos constitucionalmente. Nem bem aprendemos a falar e já estamos participando de festas juninas que remetem à tradições pagãs e cristãs, de séculos passados, de vários povos, de pais pra filhos. Tem festa o ano todo, mas, nenhuma amontoa tanta gente nas ruas como o carnaval, que é indissociável da memória do brasileiro tanto pelo mero aspecto cronológico, quanto o histórico.

Das formas de expressão que devem ser protegidas pelo Estado, o carnaval reúne os mais diversos e valiosos modos de criação.  São tantos os folguedos com inúmeras expressões artísticas de referências religiosas ou folclóricas que não é justo debater com quem ainda tem muito oco na cabeça sobre a tradição multicultural.

Simone de Beauvoir, que nada tem a ver com carnaval, disse uma frase que cai como uma luva em várias situações, inclusive a esta reflexão: “É preciso erguer o povo à altura da cultura. Não rebaixar a cultura ao nível do povo”.

Todo ano é a mesma cantilena quando chega fevereiro. Alguns agentes públicos demagogos se unem a fanáticos religiosos em uma cruzada contra o carnaval, sob o pretexto de que o dinheiro reservado à cultura deve ser aplicado em coisas ‘mais importantes’. Um ano inteiro pra cortar gastos sem qualquer valor material ou imaterial, muitos até imorais, e sugerem economia justo com um bem valioso como a cultura? Não, não são somente cínicos os que vendem essa ilusão, mas pessoas que têm, além de muito oco na cabeça, um cérebro emocional de baixíssima sensibilidade. É gente incapaz de enxergar e interpretar o lado bom das tradições carnavalescas, porque só processa o que sente de ruim. É gente empenhada em acabar com a capacidade do povo de produzir saber com artesanato, literatura, dança e música.

Eles sabem que fomentar a cultura é um dever do Estado, mas investem contra, promovendo o debate que se aprofunda entre preservar a tradição e promover a transformação do carnaval. Não há que se falar em antagonismos sobre o que tem ou não valor pelas extremidades, porque cultura popular é tradição/transformação em um processo constante e incontrolável. Tenho meus parâmetros pessoais sobre o que tem valor cultural e jamais me misturo, mas não posso enquadrar o direito de ir e vir e a vontade das pessoas no meu ponto de vista.

Os que regulam o uso das vias públicas também sabem disso, mas usam os problemas decorrentes de uma aglomeração festiva, com desfiles de blocos sem finalidade de lucro e de blocos com interesse puramente lucrativo para demonizar o carnaval de um modo geral.  O aumento dos índices de violência nunca comprovado comparativamente por períodos, o caos na saúde pública, as intempéries, enfim, são vários os pretextos que ensejam Termos de Ajustamento de Conduta que inviabilizam a promoção da cultura.

Vários municípios e estados cancelaram suas folias com a promessa de investir o dinheiro em saúde e disso nunca irão prestar contas, simplesmente porque é mentira. Os estragos da última enchente que suspendeu o carnaval na Capital até hoje não foram reparados.

Há três anos, as Escolas de Samba que formam gerações de músicos e artesãos não desfilam. Não é por falta de dinheiro, mas porque agentes públicos simplesmente desprezam a cultura carnavalesca e se dedicam a inibi-la. Só que não, porque esse ano haverá desfile, de blocos e de escolas de samba, “para tristeza de poucos e alegria de muitos”, como diria o general Manelão.

Luciana Oliveira
Empresária e Jornalista

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 15 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Projeto Conectando Periferias leva cultura hip-hop a escola no Orgulho do Madeira

Projeto Conectando Periferias leva cultura hip-hop a escola no Orgulho do Madeira

Evento destaca a música rap com shows de artistas do Acre e diferentes cidades de Rondônia, além de palestra do renomado rapper Eduardo TaddeoO pro

Izabela Lima lança músicas do EP autoral que celebra 25 anos de carreira

Izabela Lima lança músicas do EP autoral que celebra 25 anos de carreira

Já está disponível em todas as plataformas digitais de música a primeira das cinco faixas do EP CANTO EM MIM, primeiro trabalho autoral da cantora

Izabela Lima fará pré-show de Lenine no Festival Povos da Floresta

Izabela Lima fará pré-show de Lenine no Festival Povos da Floresta

A participação da artista antes do show do pernambucano Lenine, realça a essência do festival criado para conectar a diversidade cultural da Amazô

Novo clipe das Cunhãs – Meninas da Amazônia alcança 10 mil views em um dia

Novo clipe das Cunhãs – Meninas da Amazônia alcança 10 mil views em um dia

Lançado no domingo, 16, o segundo videoclipe superou as expectativas das Cunhãs – Meninas da Amazônia e da Produtora Onda, que fez as gravações em a

Gente de Opinião Domingo, 15 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)