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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DLXXXIV - Jornada Pantaneira


Solano López ‒ A Vida Fluminense n° 117 - Gente de Opinião
Solano López ‒ A Vida Fluminense n° 117

Bagé, 10.05.2023

Parte I

Alguns cronistas e historiadores, de todas as eras, se preocupam em atrelar os relatos dos eventos históricos às suas convicções ideológicas, ressaltar o heroísmo das tropas nacionais, a pusilanimidade dos adversários ou ainda a autopromoção pessoal compro­metendo, com isso, a veracidade dos acontecimentos.

Depois de apresentarmos a Retirada da Laguna, segundo Taunay, vamos repercutir a versão paraguaia em que a mídia, sob a égide de um atroz e onipotente “Déspota Nada Esclarecido” ([1]) forjava os fatos, transformando derrotas em vitórias, manipulando o nú­meros de mortos e prisioneiros nos embates sempre a seu favor e apontando as crueldades promovidas pelos seus cruéis sequazes como se tivessem sido promo­vidas pelos brasileiros.

O crédulo e ignaro povo para­guaio ainda considera como seu maior herói o faci­noroso ditador Francisco Solano López que há 150 anos invadiu o Brasil e deflagrou a Guerra do Paraguai (dezembro de 1864 a março de 1870). 

Solano López foi convertido ao longo dos anos em uma espécie de religião cívica, um culto disparatado embora tenha deixado como herança apenas a derrota e a humilhação. O Paraguai foi destroçado, perdeu par­tes do seu território para a Tríplice Aliança e a maioria dos historiadores estimam que ¾ de sua população tenha perecido em combate, de fome ou doenças nos cinco anos do conflito.

Origem do Conflito

O Paraguai mantinha estreitas relações comer­ciais com o Uruguai, pois dependia do seu porto em Montevidéu ao mesmo tempo que considerava o Brasil e a Argentina como imperialistas. Quando, em outubro de 1864, o Brasil invadiu o Uruguai para afastar do poder o setor “Blanco” radical, estes convenceram o Solano López de que os brasileiros iriam atentar, mais tarde, contra sua soberania. O resultado da guerra de curta duração (6 meses) atendia aos interesses brasi­leiros e argentinos, porém, Solano López interveio apoiando os Blancos. Como D Pedro II ignorasse seus protestos o Marechal tomou duas decisões radicais:

  Em novembro, apreendeu o nau brasileira Mar­quês de Olinda, que navegava no Rio Paraguai, nas proximidades de Assunção, rumo a Cuiabá;

  Em dezembro, determinou que o Exército Para­guaio atacasse a Província do Mato Grosso.

Em abril de 1865, as tropas paraguaias invadem a Província de Corrientes, na Argentina e, em maio, o Brasil, a Argentina e o Uruguai formam uma coalizão – a Tríplice Aliança, com o intento de derrubar Solano López.

O Marechal consegue alcançar algumas vitórias no início da Guerra, mas, em seguida, sofre uma série de derrotas, vendo-se obrigado, finalmente, a convocar até crianças e idosos às armas.

As tropas brasileiras ocuparam Assunção, em janeiro de 1869, e em março de 1870, o “Marechal” foi encontrado nas Cordilheiras do norte do país e morto na Batalha de Cerro Corá.

A lembrança que os paraguaios de antanho guardaram de Solano López foi a de um “Déspota Não Esclarecido” que mergulhou o Paraguai numa desas­trosa guerra. Os ditadores paraguaios que o sucederam construíram, uma nova imagem, a de um valoroso comandante que pelejou bravamente para defender os interesses de seus compatriotas com o sacrifício de sua própria vida.

Apesar de se tornar um país democrático em 1989, o culto a López permanece e o povo paraguaio continua acreditando que a independência de seu país estava sendo ameaçada pelo Brasil e pela Argentina.

 

Taunay lembra na sua obra que o Tenente João Batista Marques da Cruz achou um exemplar do Jornal “El Semanario n° 690” em Curupaití que fazemos ques­tão de reproduzir para ilustrar o que acima reportamos:

À amizade do nosso infeliz companheiro de armas Marques da Cruz, devemos este número do jornal paraguaio “O Semanário” de Assunção, achado por ele nas linhas de Curupaití, em maio de 1868, pouco tempo antes de sua morte, e que para nos é de mui grande valia, como testemunho contraditório.

Esse espelho tão fiel na sucessão dos fatos quão mentiroso em suas apreciações, mostra claramente a exatidão de nossa narrativa e a natureza terrível dos perigos em que se achou a coluna brasileira.
(TAUNAY, 1874)

El Semanario n° 690

Asunción, Paraguay – Sábado, 13.07.1867

La Invasión del Norte

El Semanario n° 690, 13.07.1867 - Gente de Opinião
El Semanario n° 690, 13.07.1867
A Vida Fluminense n° 117 - Gente de Opinião
A Vida Fluminense n° 117

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